Núcleo de Investigação em Psicanálise e Saúde Mental
Coordenação: Andréa Guisoli Mendonça
Coordenação Adjunta: Rosângela Silveira
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EMENTA
O inconsciente freudiano revisitado por Lacan tornou-se o inconsciente estruturado como linguagem que, através das palavras, estabelecia a articulação S1 – S2, fazendo surgir o sujeito representado por um significante para outro significante. Nesse contexto teórico, sob a primazia do simbólico, o corpo vivo está ausente desse inconsciente. Lacan dirá, posteriormente, que o homem tem um corpo e que fala com seu corpo, introduzindo a partir daqui, o neologismo falasser. Ao enfatizar o corpo, valoriza-se o ter e não o ser. O ser se alimenta de palavras e a partir delas tece histórias e interpretações intermináveis que são insuficientes para tamponar o que está perdido pelo fato de a linguagem não ser capaz de significantizar tudo da experiência, fazendo com que o encontro da linguagem com o corpo seja sempre traumático.
Se em Freud, o psicanalista, através do Mito de Édipo, lia e interpretava o inconsciente sustentado no nome do pai, hoje, em tempos de queda dos ideais, cabe ao analista manejar os restos sintomáticos; ir além do inconsciente freudiano, àquilo que do gozo não passa pela linguagem. Neste contexto, a interpretação tendo o nome do pai como referente torna-se inoperante. Ao demarcar a relação do significante com o simbólico e da letra com o real, Lacan estabelece uma nova direção ao tratamento incluindo “uma relação sem defesa frente às singularidades que se apresentam (...); podendo – o analista - decidir acrescentar um S2 quando for preciso, ou ao contrário, se abster disso para isolar a letra do sintoma” (CAROZ, 2014, p.210) contentando-se em circundar o resto que não se presta nem a ler, nem a interpretar.
Nessa perspectiva, há no último ensino de Lacan uma nova configuração da relação entre os registros simbólico, imaginário e real com consequências para a clínica nomeada topológica que, para além da interpretação, sem contudo prescindir dela, convida a novas formas de intervenção do psicanalista.
No campo da saúde mental em que crianças, jovens e adultos encontram a possibilidade de tratamento, a clínica, quando exercida por um praticante da psicanálise, possibilita a esses sujeitos a construção de soluções singulares referidas às modalidades de amarrações borromeanas que enodam corpo, sintoma e gozo.
Assim, a clínica hoje aponta para a relação de cada um desses falantes com o real e com aquilo que foi abolido pela representação significante. E por essa via, o Núcleo de Investigação de Psicanálise e Saúde Mental propõe desenvolver no primeiro semestre de 2021 investigações sobre o lugar da interpretação hoje na clínica. Para tanto, partiremos de estudos teórico-clínicos que investiguem as articulações possíveis da interpretação em relação aos falantes que permitam novas formas de lidar com o sofrimento, com o mal-estar e com os sintomas.
Orientados pelo ensino de Lacan e pela referência de Freud em Caminhos da terapia psicanalítica em que se admite “a incompletude do nosso conhecimento” (Freud, 2016, p. 191), convidamos a todos para investigações que apontem para inovações técnicas e, nesse contexto, produzirmos uma releitura da interpretação.
REFERÊNCIAS:
1 - CAROZ, Gil. Interpretação/Leitura. In: Scilicet Um real para o século XXI. Textos preparatórios para o IX Congresso da AMP.
2 - DASSEN, Florencia. Falasser. In: Scilicet Um real para o século XXI. Textos preparatórios para o IX Congresso da AMP.
3 - FREUD, S. (1919 [1918]). Caminhos da terapia psicanalítica. In: IANNINI, G; TAVARES, P.H. (0rgs.) Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Coleção Obras Incompletas de Freud. 2. Ed. Belo Horizonte, 2019.
4 - J.A-Miller. “Ler um sintoma”, disponível em: <http://www.ebpsp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=579:ler-um-sintoma-jacques-alain-miller&catid=23:textos&Itemid=54>. Acesso em 22/11/2020.
Programa - 1º semestre 2021
Dia 01 de março
Aula Inaugural
Às 20h
Pelo Zoom
Dia 16 de março
Seminário Teórico: Da escuta do sentido à leitura do fora de sentido
Apresentação: Cristiana Pittella
Comentário: Andréa Guisoli Mendonça
Às 20h
Pelo Zoom
Dia 30 de março
Seminário Teórico: A devastação em Lol
Apresentação: Andréa Guisoli Mendonça
Comentário: Sérgio Laia
Às 20h
Pelo Zoom
Dia 20 de abril
Apresentação de caso clínico: O que cabe ao analista na interpretação hoje?
Apresentação: Rosângela Silveira
Comentário: Lúcia Grossi
Às 20h
Pelo Zoom
Dia 18 de maio
Seminário Teórico: A partir da clínica com crianças, interpreta-se os pais?
Apresentação: Suzana Faleiro Barroso
Comentário: Maria Helena Gonçalves Fonseca.
Às 19:30h
Pelo Zoom
Dia 01 de junho
Filme: Sonhos
1990 / 1h 59min / Fantasia, Drama
Direção: Akira Kurosawa, Ishirô Honda
Elenco: Akira Terao, Toshie Negishi, Mitsunori Isaki
Nacionalidades: EUA, Japão
Apresentação: Mércia Pimenta de Figueiredo
Comentário: Sônia Maria Monção
Às 20h
Pelo Zoom