A Clínica Dos Adolescentes: Entradas E Saídas Do Túnel

VILMA COCCOZ TURINETTO

FOTO: JOÃO PERDIGÃO

Não Há Adolescente Sem Outro

Definir a adolescência como “a mais delicada das transições” (HUGO, 1971, p. 20) – feliz achado que Philippe Lacadée (2011) nos faz compartilhar – permite conceber essa saída da puberdade numa lógica de discurso, e não simplesmente como etapa do desenvolvimento biológico.

Freud compara a metamorfose da puberdade ao fato de “escava[r] um túnel dos dois lados ao mesmo tempo” (FREUD, 1987a, p. 144): portanto, um furo tendo uma extremidade que fura a autoridade, o saber, a consistência do Outro e a outra que perturba a vivência íntima do corpo. Do modo como Freud formula essa metáfora, deduzimos que construir um túnel é também atravessá-lo; a saída dependerá do contorno e da localização correta do furo que afeta o saber e daquele que concerne o gozo. Se, aplicando-a a esse trajeto particular da vida, mantivermos firmemente esse princípio psicanalítico de que não já sujeito sem Outro, isso toma o valor de um axioma: “Não há adolescente sem Outro”, a saber – além dos pais, professores ou tutores –, a instituição ou o analista. As respostas, a posição dos adultos que virão ou não investir a função do Outro, adquirem uma importância fundamental, decisiva, para a entrada e para a saída do túnel.

Seria mais pertinente falar de adolescências, no plural. De fato, cada adolescência, estando ligada a uma experiência subjetiva e a uma história particular, sua modalidade “crítica” e a forma que tomará sua conclusão, não pode ser generalizada nem padronizada. De um ponto de vista estrutural, o sujeito se encontra nessa passagem da vida, seja numa dialética com o Outro e sua inconsistência seja em ruptura com ele, com um sentimento de errância, de estar abandonado, desamparado, desorientado diante do que lhe é dado viver.

Depois de anos de experiência, podemos afirmar que, na clínica da adolescência, há lugar para operar uma subjetivação da dificuldade estrutural à qual o jovem ou a jovem são confrontados. Mas é preciso admitir também que essa operação requer frequentemente um trabalho de elaboração, uma participação decidida da parte dos adultos de referência. É habitualmente necessário sustentar uma série de entrevistas com a família com o objetivo de dar a palavra ao sujeito. Que ela seja hesitante, atrapalhada, arrogante, reivindicadora, conciliadora ou mentirosa, a palavra, uma vez instalada no dispositivo analítico, toma então valor de enunciação particular levada em conta pelo Outro; fato acompanhado, nos casos de conflitos inflamados, de diálogos rompidos ou impossíveis. Durante as entrevistas com os pais – juntos ou separadamente – e o adolescente, o analista tem a oportunidade de colaborar, em ato, no momento delicado da separação e da diferenciação das diversas subjetividades implicadas. A adolescência de um filho ou de uma filha deve ser subjetivada pelos pais em sua dimensão verdadeira, tal como um luto libidinal que os afeta e os concerne: a satisfação que a criança trazia ao narcisismo de seus pais se esfacela, é preciso que ela se aloje em outro lugar. Esse lugar novo não é concebido antecipadamente, ele se constrói laboriosamente, a partir desses dois furos que se revelaram: aquele relativo ao Outro e aquele relativo ao corpo. O trabalho de educação não está acabado, e essa situação nova requer uma delicada alquimia entre, de um lado, o respeito do território da criança – seus gostos, sua intimidade, seus desejos –, e, de outro lado, a responsabilidade dos atos de um menor que não se trata de abandonar à sua sorte. E tudo isso, mesmo se a criança se obstina nas vias contraditórias ou afastadas das expectativas, dos ideais paternos e apesar dos sentimentos de ambivalência que o sujeito manifesta ou provoca.

O adolescente tropeça no real do discurso, nessa questão essencial do ser falante: como fazer com o gozo? Ora, esse encontro com o limite do discurso é precisamente o que mina a autoridade da palavra do adulto e gera um choque emocional. É por essa razão que aqueles que imaginam erroneamente que basta informar e esclarecer se chocam com o fracasso esmagador da educação sexual, das estratégias de prevenção da gravidez e do consumo de entorpecentes. Diante da inevitável degradação da autoridade, alguns adultos adotam comportamentos extremos – rigidez ou permissividade exageradas – numa tentativa desesperada de recuperar uma influência enfraquecida. Às vezes – em caso de falsa saída de sua própria adolescência – o pai ou a mãe, numa identificação infeliz com seu filho, tentam uma cumplicidade entre “amigos” e trocam confidencias, às vezes obscenas, sobre as dificuldades que eles encontram com seu próprio gozo. É essa espécie de tentativa que justifica o termo de “adulterados”, com o qual Lacan (2008, p. 321) qualificou os adultos.

Compreendemos assim a importância da resposta desses últimos, se considerarmos que, nessa época da vida, se reedita no inconsciente a questão inaugural do sujeito quanto ao desejo do Outro: de que desejo eu nasci? Quanto valho para o Outro? Ele pode perder-me? Esse momento ganha uma importância especial aí onde justamente o adolescente é convocado a afrontar a “declaração de seu sexo” (LACAN, 1967): espera-se que ele formule ou que ele defina sua identidade sexual. A ausência de uma resposta acabada e conclusiva sobre o ser sexuado no simbólico o coloca à prova em relação ao real. Isso toma uma dimensão traumática e angustiante, e dá lugar a uma desintrincação pulsional, uma crise do desejo, do gozo da vida, tendo como consequência um crescimento da incidência da pulsão de morte.

Não há manual de instruções que garanta uma saída honrosa do túnel: em sua travessia, o sujeito experimenta intensamente o non-sens da vida, o que desencadeia uma afluência desenfreada de sensações e de afetos tão fortes quanto contraditórios, assim como a tentação da morte, pensada, imaginada ou fantasiada. Uma inclinação por temas escabrosos surpreende seu círculo que percebe uma espécie de júbilo em cultivar pensamentos e interesses sombrios e sinistros. É por essa razão que a eventualidade de comportamentos de risco ou francas tentativas de suicídio são uma constante preocupação na clínica psicanalítica com adolescentes.

O próprio Freud foi chamado a intervir sobre esse tema em 1910, num simpósio onde foi colocada a questão sobre a responsabilidade a ser atribuída aos professores nas passagens ao ato suicidas de seus alunos. Em sua intervenção, Freud manifesta uma visão muito aguçada sobre os responsáveis pela educação diante desse momento da vida. Alguns instantes antes de sua exposição, um professor havia intervindo, tentando inocentar os professores pelo final trágico como o de certos jovens, argumentando que esses atos infelizes tinham igualmente lugar em camadas desfavoráveis (não escolarizadas). “Mas o colégio [responde Freud com ironia e justeza] deve fazer mais do que não pressionar os jovens ao suicídio; ele deve lhes proporcionar o anseio de viver e lhes oferecer sustentação e ponto de apoio numa época de suas vidas em que eles são pressionados, pelas condições de seu desenvolvimento, a afrouxar sua relação com a casa parental e com sua família. […] A escola não deve nunca esquecer que ela trata com indivíduos ainda imaturos, aos quais não pode ser negado o direito de se atrasar em alguns estádios, ainda que incômodos, de desenvolvimento. Ela não deve reivindicar para sua conta a inexorabilidade da vida, ela não deve querer ser mais do que um jogo de vida” (FREUD, 1987b, p. 217-218).

A lucidez da reflexão de Freud nos toca particularmente em nossa época, na qual vemos crescer a cada dia o caráter definitivo de certos julgamentos sobre os jovens, da parte dos professores e dos avaliadores, tomando assim a forma de uma inexorável sentença do destino. Numerosos são esses pequenos jovens que, diante desses julgamentos, abandonam toda tentativa de se recuperar, se declarando “incapazes ou um zero à esquerda” por causa de seus fracassos ou de suas condutas.

Para Maria, felizmente, as consequências nefastas que já surgiam puderam ser evitadas, sua entrada no túnel da puberdade tendo precipitado uma demanda de análise. Tudo começou por um grande acting out: um desmaio com convulsões que a enviou ao serviço de urgência, num susto geral. Depois de terem submetido a criança a todo tipo de teste, concluíram que ela “não tinha nada” e, graças à intervenção de um parente, a psicanálise cruzou sua vida. As crises diminuíram imediatamente e Maria conseguiu inverter o preconceito que já se reforçava quanto a seu comportamento. No tempo das primeiras entrevistas, se destacava de suas afirmações a tensão na qual seu sintoma se articulava ao discurso do mestre. Ela tinha constatado a incidência que podia ter sobre a popularidade de uma jovem de seu colégio uma infelicidade ocorrida na vida pessoal desta. À imagem dessa contaminação histérica de crises de choro num internato que Freud descreveu, e no momento sensível do início da sedução e da formação das alianças e das leaderships, Maria havia detectado que as ausências (devidas a dificuldades na vida familiar) de colegas assim “distinguidas” ganhavam um valor na consideração do Outro encarnado por um professor. O acting-out respondia a uma lógica inconsciente complexa que se elaborou ao longo das sessões, enquanto que o sintoma desaparecia da cena com a descoberta pela criança da trama inconsciente na qual ela estava tomada. Esse avanço não foi feito sem os pais que, passado o estupor inicial, tiveram que admitir uma mudança total da parte de uma criança até então exemplar. Operou-se então uma mudança na maneira deles considerarem sua filha; eles compreenderam que esse momento particular atravessado por Maria exigia, entre outras coisas, “distingui-la” por um tratamento especial em relação a seus irmãos menores. Até então, ela era simplesmente tratada como a mais velha de uma série, sem diferença particular.

Para além da cronologia, é preciso o desenrolar de um tempo lógico, com uma conclusão que faça ponto de basta, limite vital, onde a saída do túnel ganhe, no melhor dos casos, a forma de um projeto de vida.

O Percurso Do Túnel

A respeito da incorporação da estrutura, devemos precisar que, nessa encruzilhada da adolescência, observam-se alguns invariantes. É verdade que essas mudanças na relação com o gozo, pela qual nossa civilização é atravessada, atribuem a essa encruzilhada uma notável especificidade; entretanto, observamos – apesar de tingidos pelo discurso contemporâneo – algumas coordenadas comuns a todas as épocas. Sobre essas invariantes, o livro de Robert Musil intitulado O jovem Törless, publicado em 1906, continua tendo um enorme interesse para nós. Esse livro descreve de modo magistral essa travessia do túnel vivida por um jovem, onde os adultos estão implicados, a importância dos pares, dos semelhantes, aparece aí em toda a sua dimensão. Estranha e fundamental experiência de socialização que afeta a sexualidade, com a violência sórdida que pode acompanhar o tormento e as tentações.

A primeira cena do romance se desenvolve numa pequena estação de uma estrada de ferro; pais se despedem de seu filho que parte para uma escola renomada aonde são enviados os filhos das melhores famílias. Apesar de ele próprio ter insistido em conquistar esse nível de sua formação, “essa decisão deve tê-lo feito chorar muito […] as saudades de casa o invadiam, com uma terrível violência” (MUSIL, 2003, p. 8), nem os jogos nem as distrações dos internos o interessavam:

Ele escrevia para sua casa quase cotidianamente, e não vivia senão nessas cartas; todas as suas outras ocupações lhe pareciam incidentes insignificantes, irreais […] O estranho é que essa paixão súbita e devoradora por seus pais era inesperada e bastante desconcertante aos seus próprios olhos […] Houve alguns dias nos quais ele tinha se sentido relativamente bem, depois isso o havia tomado repentinamente, com a violência de uma tempestade. Saudades, nostalgia de casa, se dizia. Na realidade, tratava-se de um sentimento muito mais vago e complexo. […] Assim, Törless não conseguia evocar a imagem daqueles que ele chamava então comumente, para si só, de seus “queridos, queridos pais”. Se ele tentasse fazê-lo, não lhe vinha a imagem, mas o sofrimento sem limites cuja nostalgia o atormentava alimentando-o, porque essas chamas ardentes eram ao mesmo tempo dor e deslumbramento. Também o pensamento de seus pais não foi logo mais para Törless nada além do pretexto para acordar esse sofrimento egoísta que o trancafiava em seu orgulho voluptuoso” (Ibidem, p. 8-9).

Essa passagem ilustra bem o modo subjetivo pelo qual o túnel se escava, até que o menino tome consciência, claramente, que de fato: “elemento positivo, uma força interior, alguma coisa que havia desabrochado nele sob a cobertura do sofrimento” (Ibidem, p. 9). Do outro lado do túnel, o furo relativo ao corpo e ao narcisismo se abria igualmente deixando aflorar uma angustiante sensação de fragilidade: “Assim, ele mesmo se sentiu empobrecido e frustrado, como uma jovem árvore que, depois de ter inutilmente florescido, afronta seu primeiro inverno” (Ibidem, p. 10).

O autor descreve claramente a posição dos pais do personagem: nem os sofrimentos do primeiro período que sucedeu a separação nem a alegre leveza do segundo os fizeram suportar o penoso caminho interior que o filho deles está vivendo: “eles não reconheceram […] [que] foi a primeira tentativa, aliás, infeliz, do jovem para sozinho desenvolver suas energias interiores” (Idem). Entretanto, o eixo central do drama reside nas paixões que desencadeiam nele suas primeiras experiências de gozo, tanto hetero como homossexuais. É justamente essa problemática do gozo que Lacan (1967) evoca em seu breve, mas substancial comentário da obra, quando ele se alarma com a posição dos professores que desviam o olhar, não querem saber nada da atroz – e espontânea – captura das crianças nos fantasmas de seus colegas.

O caso de Juan é ilustrativo sobre esse ponto. Aluno considerado superdotado, suas capacidades sendo realmente extraordinárias, ele chegou ao colégio sem problemas maiores, apesar de uma falta de “aptidões sociais”. Mas em plena puberdade, começaram a persegui-lo por seu fracasso nas disciplinas esportivas e de educação física, que colocavam em evidência a falta de domínio de seu corpo; seu rendimento intelectual caía na medida em que seu espírito estava ocupado pelos pensamentos obsedantes devido aos atos cotidianos ofensivos e humilhantes que ele suportava com dificuldade. O desprezo da parte das jovens foi a gota que fez transbordar o copo. Ele se tornou vítima do que chamamos em nossos dias de bullying, inclusive da parte das crianças menores; ele se tornou um pestilento, aviltado e bode expiatório de todos. A apatia e a abulia que ele manifestava em casa contrastavam com um estado de hiperatividade na sala, que o impedia de ficar sentado em silêncio. As notas e as punições infligidas pelos professores redobravam, colocando em perigo o destino de gênio que seus pais projetavam para ele e para o qual eles trabalhavam duramente.

Além das sessões com ele, o trabalho de elaboração com os pais foi fundamental, levando-os pouco a pouco a compreender o lugar de exceção no qual seu filho se situava. Eles entenderam que a ausência de eficácia simbólica do significante da lei o empurrava ao desafio e a gozar dos semblantes de autoridade. Pudemos elaborar, juntos, estratégias de sustentação para impedir a segregação de Juan, que parecia inevitável. Em pouco tempo, a situação se estabilizou e o tratamento continuou até que ele se sentisse integrado ao grupo e que o amor de uma jovem o distinguisse.

O Corpo, Sexuado

O caminho evocado aqui é uma trajetória discursiva complexa, ao mesmo tempo movida e interrompida pelas pulsões que, por um empuxo novo, desencadeiam na adolescência emoções e afetos poderosos; a dimensão do corpo aí se encontra, portanto, fortemente engajada. O Outro, solicitando o abandono do discurso infantil para passar a um modo novo e pessoal de habitar a fala, coloca-o em questão, desvalorizando os esforços ou negando seu alcance, e desse jeito contribui para que o adolescente forje sua própria enunciação abrindo um caminho tateando. É por isso que o adolescente passa várias horas em sua toca[1], não por preguiça ou por negligência, mas porque ele efetua um trabalho de elaboração psíquica, de lenta e progressiva subjetivação, de um novo modo de ser com o qual se apresentar ao mundo.

Apesar de intelectuais, seus pais não podiam compreender a mudança de seu filho Jorge, que não era mais aquele ser sociável, com vários interesses, nem esse brilhante colegial que ele havia sido até então. Ele se tornou abúlico, preguiçoso, blasé. A ansiedade de seus pais crescia com as ameaças de castigo ao recusar certas normas e contrapor com formulações inconvenientes as incitações de quem queria encorajá-lo. Diante desse quadro, se acrescentaram faltas por doenças repetitivas das quais ele saia esgotado e ainda mais abatido. Durante o trabalho com seus pais, decidiu-se transferi-lo para uma escola que lhe preparasse para um vestibular em arte, mais apropriado à sensibilidade do menino. Essa escolha foi crucial na resolução do estado preocupante no qual ele afundava perigosamente, devastado por ideias de suicídio.

Entre as respostas sintomáticas apresentadas por esses dois jovens, muitas são de uma ordem regressiva: numerosos casos de toxicomania, de anorexia, de bulimia e de adições se declaram nesse período.

Amélie Nothomb, a escritora belga, descreve muito bem essa ruptura total com o mundo infantil que a havia mergulhado – através de um transitivismo marcante com sua irmã – num estado larvar. Elas passavam horas intermináveis deitadas no divã a se entediar, abúlicas, deprimidas, sozinhas, o que para ela derivou num grave estado de anorexia. A saída desse túnel escuro e mortífero, graças à escrita, tomou a forma de um genial autotratamento pelo qual a autora de La biographie de lafaim resolve a solução falha de um grave sintoma de tipo regressivo. Traduzida em várias línguas, Nothomb se tornou um ícone importante para os adolescentes, pela crueza refinada e irônica com a qual ela relata os avatares de seus jovens anos. Ela lhes fornece um notável efeito de verdade sobre essa experiência do túnel, o de que eles lhe são reconhecidos num momento em que os semblantes do mundo adulto vacilam e se tornam falsos e hipócritas.

Renée, quatorze anos, atravessou um período similar, apesar de seus recursos não terem tido a eficácia daqueles de Nothomb. Identificada com o sintoma de uma irmã mais velha, ela começou a induzir seu próprio vômito e se distanciar dos interesses intelectuais que, até então, cativavam-na. Revelou-se uma obsessão por seu corpo que ela queria tornar perfeito por meio de exercícios e de uma disciplina de controle. A grave anorexia para onde essa dependência a levou necessitou de uma hospitalização. Seus pais tiveram então a veleidade de recorrer a uma psicanálise. Mas eles se chocaram com uma sugestão antianalítica do hospital, desaconselhando essa via a eles, o que fez eco a uma demanda inconsciente de rejeitar a implicação subjetiva no sintoma; eles então engajaram sua filha nos trilhos normativos da medicina e da terapia cognitivo-comportamental. Nesse caso, a influência dos pais demonstrou sua eficácia, mas no sentido contrário ao sujeito do inconsciente.

O sujeito e seus próximos estão frequentemente longe de suspeitar que a esses sintomas encontram-se subjacentes incitações à mortificação ou tentativas mais ou menos graves de suicídio ou de se colocar em situações de perigo. A clínica psicanalítica nos ensina que o essencial, para uma saída mais ou menos bem sucedida do túnel, está na disponibilidade dos recursos simbólicos e imaginários para tratar um real do sexo que desvela a inconsistência do Outro. Com efeito, o real, em sua definição lacaniana, escapa à fala e ao sentido, o que Lacan formulou como sendo o grande segredo desvelado pela psicanálise: é impossível escrever a relação entre os sexos. Ou seja, não se pode escrever a lei de atração dos corpos sexuados como se escreveu a lei da gravidade, a lei da atração dos planetas. Mas essa dificuldade estrutural é em parte atenuada se a problemática do gozo ganha uma orientação propícia ao significante fálico, regulador da castração. Mesmo nos casos em que o significante fálico não opera no inconsciente como regulador de gozo, constata-se os benefícios de sua incidência imaginária como artifício, o que permite a diferença entre os sexos operando uma falta sobre o Outro materno.

A mãe de Oscar, jovem adolescente, alarmada pelo machismo de seu filho que, a seus olhos de feminista e militante de esquerda, parecia sinistro, pôde subjetivar sua responsabilidade sobre a causa do comportamento de seu filho. Exagerando sua ternura materna – ela não tinha vida de casal – ela impunha a seu filho uma proximidade física que lhe era dificilmente suportável; dispondo da função que regula a diferença dos sexos no inconsciente e funda a barreira do incesto, ele reagia com uma violência e uma agressividade excessivas ao encontro do sexo feminino. Nessa ocasião, entrevistas separadas com os pais divorciados desembocaram numa compreensão sem precedentes. A consequência foi a intervenção pacificadora do pai, consentida pela mãe, que se mostrou crucial para Oscar, para a retificação de uma identificação viril que lhe permitiu uma aproximação mais cavalheira das meninas.

E O Túnel No Século XXI?

Vemos que essa encruzilhada e seu alcance subjetivo respondem a alguns elementos estruturais que podemos considerar como invariantes, aos quais cada época dá seu colorido. Entretanto, é bom se interrogar sobre os efeitos que podem ocasionar essas mudanças que conhecemos hoje na relação com o gozo. A esse respeito, o artigo de Serge Cottet (2006) avança uma tese original a respeito das razões singulares do mal-estar que, de uma maneira ou de outra, afeta o gozo dos seres falantes, no atual estado de capitalismo avançado, incessante produtor de objetos de gozo. Decorre disso que às invariantes estruturais vieram se acrescentar as consequências de um empuxo a gozar devido à atual permissividade e ao relaxamento dos diques que freavam ou desviavam esse gozo egoísta e cruel próprio às pulsões parciais. Cottet se refere a Lacan que, a propósito da complexa articulação entre a lei e o gozo, exprimiu o que a experiência analítica lhe ensinou: “O que é permitido se tornou obrigatório” (LACAN, 1995, p. 286). As consequências de abulia, de tédio e de saciedade das quais se queixam os saciados do gozo, fazem Lacan (2003) dizer que se as ficções de interdição não existissem, seria necessário inventá-las, e ele alerta contra as consequências nefastas de um desejo levando a um acesso fácil ao gozo. Disso Cottet nota que em nossa época, na qual se desvanecem os papeis sexuais, são os sentimentos e não o sexo que são agora considerados como indecentes: por falta de destinatários e na ausência de receptores, aquele que exprime sentimentos cai no ridículo.

Sejamos conscientes do risco da insistência da parte dos psicólogos em apresentar a conquista da identidade como modelo de saída da crise da adolescência, pois hoje se divagou muito a partir da confusão que se estendeu a todo o planeta, entre o ser e o corpo. Os adolescentes são uma presa fácil para o mercado da confusão mediática que promove o imperativo “ser sexy”, slogan no qual eles caem, acreditando resolver assim esse desarranjo do corpo que faz tremerem as identificações.

Os Adolescentes No Campo Freudiano

Se levarmos em conta os avanços da clínica de orientação lacaniana promovida por Jacques-Alain Miller, o que chamamos de saída do túnel equivale ao achado de uma solução sinthomática coordenada à conquista de um semblante ligando o sujeito a um parceiro sexuado. Tal como vimos, tanto a entrada quanto a saída do túnel está estreitamente ligada às respostas que os adultos de referência podem oferecer ao sujeito em dificuldade. Porque, finalmente, trata-se de um trabalho de separação que possa despertar ou facilitar o interesse dos jovens por sua existência no “grande mundo”.

Quando Freud se lembra de seus próprios anos de túnel, que ele situava entre seus dez e dezoito anos, “com seus pressentimentos e suas errâncias, suas transformações dolorosas e seus sucessos benéficos” (FREUD, 1987c, p. 285), ele declara que esse grande mundo simbólico se torna para ele “um consolo sem igual nos combates da vida” (Idem). Foi nessa época que Freud viu nascer o pressentimento de uma tarefa, que não se esboçava, a princípio, senão em voz baixa até que eu não pudesse em minha dissertação de final de estudos vesti-la de palavras sonoras: eu queria em minha vida trazer uma contribuição ao nosso saber humano (Idem).

Lidas na perspectiva de “Sobre a psicologia escolar”, as cartas de juventude de Freud ganham um grande interesse; retroativamente, sentenças apaixonadas e confidências profundas endereçadas a amigos íntimos ganham, então, sentido. Tomemos a carta a Emil Fluss de 28 de setembro de 1872. O futuro psicanalista declara se encontrar no caso de um sábio que vocês questionariam sobre o passado da terra. […] Eu singro de velas abertas em direção ao futuro; que eu pude abordar aqui um dia, me refrescar aí, eis o que se apaga bem rápido da memória quando se tem apenas o objetivo diante dos olhos (FREUD, 1990, p. 231).

O editor espanhol (FREUD, 1973) dessas cartas nota muito justamente que nessa fase pode-se ler uma antecipação de que o valor subjetivo da lembrança depende da presença do afeto. Ele mostra igualmente que a preocupação de Freud não se refere tanto a sua identidade como argumento da questão do “quem sou?” quanto à questão sobre o que ele sabe e o que ele pode ou não chegar a saber. Freud termina sua carta pedindo a seu amigo notícias de sua mãe, pois, como ele explica, “me agrada explorar a densa rede dos fios que nos ligam, fios que o acaso e o destino teceram em torno de todos nós” (FREUD, 1990, p. 231).

Fazemos nossas essas lindas fórmulas para nos orientar nas condições atuais da adolescência. É urgente colaborar com a difusão de estratégias institucionais orientadas pelo ensino de Lacan, tais como o Courtil ou os dispositivos do Cien, a fim de proteger todos esses jovens que, renunciando a uma verdadeira realização subjetiva, se perdem na busca de autossacrifícios que eles oferecem, sem o saberem, a “deuses obscuros”, o que os condenam a permanecer na obscuridade do túnel. As boas saídas, as saídas em direção a “o grande mundo” e ao gozo da vida, se decidem numa “equação pessoal” tecida com o fio do acaso e do destino. Dito de outra forma, num entrelaçamento de inconsciente e de encontros contingentes cuja forma não estava ainda inscrita na experiência, para ser aquela de cada um, resultado de uma invenção singular que não pode, no entanto, se aventurar no mundo sem que o Outro diga “sim”.

 


 

Tradução: Cristina Drummond
Revisão Renato Sarieddine
Bibliografia:
COTTET, S. “Le sex e faible des ados: Sexe-machine ET mythologie Du coeur”, La Cause Freudienne, Nº 64. Paris: Navarin Éditeur, octobre 2006.
FREUD, S. “As transformações da puberdade”. In: Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Vol. 7, 2ª ed.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. 1987a.
FREUD, S. Contribuições para uma discussão acerca do suicídio (Vol. 11, 2a ed., pp. 217-218). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. 1987b.
FREUD, S. Algumas reflexões sobre a psicologia escolar (Vol. 13, 2a ed., pp. 283-288). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. 1987.
FREUD, S. Lettres de jeunesse. Paris: Gallimard, 1990.
HUGO, V. Os trabalhadores do mar. São Paulo: Abril Cultural, 1971.
LACADÉE, P. O despertar e o exílio. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2011.
LACAN J. O Seminário. Livro 4: a relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
LACAN, J. O Seminário. Livro 16: de um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.
LACAN, J. “Petit discours aux psychiatres de Sainte Anne”, 11 de outubro de 1967, inédito.
LACAN, J. O Seminário. Livro 14: a lógica do fantasma, aula de 1º de fevereiro de 1967, inédito.
LACAN, J. “Televisão”, Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
MUSIL, R. O jovem Törless. São Paulo: Folha de São Paulo, 2003.
[1] Segundo o termo apropriado (“terrier” em francês) de nossa colega Erminia Maccola.

Vilma Coccoz Turinetto
Vilma Coccoz Turinetto – psicanalista, AME da ELP e AMP. E-mail: vicoccoz@correo.cop.es



“Dora” E As “Maridas”: Duas Tentativas De Abordar O Feminino A Partir Do Amor Ao Pai

MARIA AMÉLIA TOSTES

 

 

Da Histeria Ao Feminino: O Desafio Que Dora Nos Propõe

“A histeria não se manifesta apenas como uma neurose, mas, também, como uma maneira de colocar a problemática da feminilidade” (ANDRÉ, 1991, p. 114). Fazer conversar em uma mulher a histeria com o feminino é o desafio que Dora[1] nos requisita desde quando, aos 18 anos de idade, em 31 de dezembro de 1901, em plena virada para o século XX, ela comunica a Freud que vai lhe deixar, e esse seu gesto provoca a pergunta: o que quer uma mulher?

No vigor do ideário iluminista, quando o papel social da mulher estava sendo fortemente alinhavado ao da “boa mãe” e ao da competente dona de casa (ANDERSON e ZINSSER, 2009), Dora é conduzida por seu pai até Freud para que este a colocasse “no bom caminho” (FREUD, 1989, p. 33). Dora não vinha se mostrando uma moça de bom comportamento, pois estava irredutível na exigência de que seu pai rompesse o relacionamento que mantinha com o Sr. e a Sra. K, dois antigos amigos de sua família. Sem contar que já fazia algum tempo que Dora começara a dar sinais de “abatimento, irritabilidade e ideias suicidas” (Ibidem, p. 32).

Dora é diagnosticada por Freud como uma histérica, mas uma histérica diferente das outras. Em correspondência a Wilhelm Fliess[2], quando Freud rascunhava o que é hoje conhecido mais como Caso Dora, ele diz: “de qualquer forma, é a coisa mais sutil que já escrevi, e produzirá um efeito ainda mais aterrador que de hábito” (Ibidem, p. 13).

A novidade que Freud percebe em Dora, inicialmente, tem a ver com a simplicidade de sua histeria que, ao invés dos clássicos “estigmas de sensibilidade cutânea, limitação do campo visual ou coisas semelhantes”, apresenta-se carregada de manifestações corriqueiras do cotidiano que se prestarão ao esclarecimento dos fatos “mais comuns” e “sintomas mais frequentes e típicos” da doença (Ibidem, p. 31).

Freud só se dá conta de que a simplicidade sintomática de sua paciente escamoteava, na verdade, uma complexidade inédita em sua clínica de histeria quando, com cerca de três meses de tratamento, Dora lhe comunica sua decisão de abandonar a análise – “hoje estou aqui pela última vez” (Ibidem, p. 101), – frustrando as expectativas de Freud, que previa que seu “pleno restabelecimento talvez requeresse um ano” (Ibidem, p. 113).

A saída de Dora “em circunstâncias peculiares” de seu processo analítico (Ibidem, p. 92) vai merecer de Freud algumas elaborações, as quais seguirão basicamente por dois vieses: o transferencial – “fui surpreendido pela transferência” – e o que ele chamou de seu “erro técnico”, que estaria relacionado à sua demora em notar a “moção amorosa homossexual pela Sra. K” por parte de Dora (Ibidem, p. 113).

Ambos os caminhos trilhados por Freud para tentar entender por que Dora o abandona demonstram que sua paciente lhe apresentara em análise questões que lhe demandavam novas ferramentas de trabalho. A moça não desmaiava nem se contorcia como as outras da sua época e sua rebeldia se deslocava do corpo todo para se concentrar, sobretudo, na língua – uma língua afiada. Dora desdenhava das laboriosas interpretações de Freud: “ora, será que apareceu tanta coisa assim?”, perguntou ela depois que Freud lhe esmiuçara, durante duas sessões inteiras, ponto por ponto do seu segundo sonho (Ibidem, p. 101).

Mas é justo nas interpretações que Freud faz à sua paciente sobre esse seu segundo sonho que ele expõe a sua dificuldade em perceber que a pergunta que Dora dirigia ao dicionário, após a morte do pai, no sonho, era a mesma que ela encaminhava a Sra. K e demandava saber de Freud: “o que é uma mulher?” (LACAN, 1956-57/1995, p. 144). Assim é que a pergunta fundamental de uma mulher fora formulada, em análise, por uma histérica – aquela que está mais para o masculino do que para o feminino.

Dora É Aquela Que Ama Seu Pai

Ao interrogar sobre o seu sexo, Dora expõe a insuficiência do falo paterno para lhe dar o que lhe falta. No caso de seu pai, tratava-se de uma impotência concreta. “O pai, que é feito para ser aquele que dá, simbolicamente, esse objeto faltoso, aqui, no caso de Dora, ele não o dá, porque não o tem” (LACAN, 1956-57, 1995, p. 142). Contudo, Dora destina um amor a seu pai “correlativo e coextensivo à diminuição deste (dom viril)” (Idem). Ou seja, quanto menos seu pai podia lhe oferecer como falo, mais Dora encobria essa impotência com o seu amor, como é próprio da relação amorosa na qual o falo, tal como o dom, é dado em troca de nada. “A carência fálica do pai atravessa todo o caso como uma nota fundamental”, e Dora ama seu pai “precisamente pelo que ele não lhe dá” (Ibidem, p. 143).

Ocorre que Dora não sabe “o que ela é, não sabe onde se situar, nem onde está, nem para o que serve, nem para que serve o amor” (Ibidem, p. 149). Sua posição é daquela que possui uma questão: “o que é que meu pai ama na Sra. K?” (Ibidem, p. 143). Dora se situa em algum ponto entre seu pai e a Sra. K. Mas existe ainda a figura do Sr. K, que é com quem Dora se identifica, enxergando nele a sua própria condição: a de ponte para um mais além do amor – do pai, no caso de Dora, e da Sra. K, no caso do Sr. K. A triangulação se dá, então, entre Dora, o Sr. K e a Sra. K. O pai de Dora fica de fora, na condição de Outro por excelência (Ibidem, p. 145-46).

A situação permanece equilibrada até que o Sr. K diz a Dora, na “aventura do lago”, que ele não tinha mais nada com sua mulher, e Dora lhe esbofeteia o rosto (FREUD, 1989). Para Lacan (1956-57/1995), essa atitude de Dora é da ordem do insuportável de ser tolerado por ela, pois, ao se identificar com o mesmo lugar ocupado pelo Sr. K, de forma invertida, ela se vê não sendo nada, igualmente, para seu pai. Dora, conforme diz Lacan, é aquela “que ama seu pai” (Ibidem, p. 143). Ela o ama em troca de nada, como é próprio do amor em seu sentido mais primitivo, mas ela não pode se imaginar não significando nada para ele.

Dora, uma histérica, inaugura o século XX perguntando o que é ser uma mulher a partir de um amor endereçado ao pai. É por amor, então, que Dora quis saber sobre o seu sexo, no século passado, em um tempo em que as mulheres enfrentavam pesados obstáculos quando não se contentavam em ocupar apenas a sala de estar. O cenário feminino global mudou desde então, e o tradicional “sexo frágil” se impõe hoje como força motriz fundamental da vida social, política e econômica das sociedades ocidentais, podendo-se constatar, sem nenhuma estranheza, que, atualmente, “o mundo é das mulheres[3]”.

As “Maridas” E A Falência Do Pai

É em meio a essa feminização atual que nos deparamos com um comportamento que nos chama a atenção: elas são vistas sempre em par – onde uma está, a outra está por perto. São inseparáveis. Frequentam a night, mas também curtem os parques, os saraus, as feiras, a rua. Estão em dia com a moda e com o mundo fashion. São absolutamente contemporâneas: ficam à vontade com seus corpos e transitam com desenvoltura pelos espaços urbanos. Elas são amigas de todas as horas e ocasiões. Sentem-se protegidas e confiantes quando estão juntas. São companheiras, cúmplices, confidentes, sedutoras e carinhosas uma com a outra. São namoradas? Não. Elas são heterossexuais e fazem sexo com parceiros de ocasião. Às vezes elas dividem o mesmo parceiro, quando ele cai nas graças de ambas. Atestam não competir entre si nem sentir ciúmes uma da outra. Os homens são coadjuvantes nessa relação de “maridas” – como elas definem esse tipo de compromisso com a melhor amiga.

Nessa suposta divisão de funções – amorosa e sexual –, as “maridas” são enfáticas ao afirmar que “pegam, mas não se apegam” aos homens, pelo menos facilmente. Elas podem se desgrudar uma da outra quando surge um namoro sério que acaba em casamento. Mas garantem que nunca se desvencilham por completo, porque felicidade mesmo é ser casada com a melhor amiga[4].

As “maridas” exibem uma atuação feminina da ordem do dia, em que a parceria entre as duas mulheres aparenta se estabelecer pelo viés afetivo desvinculado do sexual e dos homens. Uma clivagem entre amor e sexo, bem conhecida do universo masculino, que agora ganha valor junto a um tipo de público feminino. Não deixa de ser curioso que, no limiar do século XXI, a pergunta “o que é uma mulher” seja feita de mulher para mulher, prescindindo de um Sr. K como intermediário, como no caso de Dora.

Marie Hélène Brousse considera que, tradicionalmente, as histéricas nunca foram as mais adequadas para irem mais além do pai, mas, na sua opinião, o fator decisivo para a variedade contemporânea de atuações entre mulheres com aspectos homossexuais se concentra na queda da figura paterna. Segundo Brousse, o pai, hoje, deixou de ser a figura identificatória fundamental da histérica que, mesmo quando ainda consegue amá-lo, não é um amor capaz de sustentar a impotência paterna como no século passado[5].

Para Lacan, o pai é sempre aquele que possui uma função simbólica, ostenta uma titulação de ex-combatente (ex-genitor) e, ao mesmo tempo, nunca perde a sua condição de “potência de criação”, seja esse pai um doente ou não. No discurso da histérica, o pai desempenha o “papel-pivô, maiúsculo, o papel-mestre” (LACAN, 1992, p. 89) e, mesmo fora de forma, esse pai é capaz de sustentar, “sob esse ângulo da potência de criação, sua posição em relação à mulher” (Idem). É o que Lacan designa como “o pai idealizado” da histérica. O pai de Dora era um pai castrado em sua condição de potência sexual, mas que desempenhava o papel-pivô de toda a estória. Segundo Lacan, todos os casos freudianos de histeria exibem um pai deficiente e, no entanto, completamente atuante sob o ponto de vista da sua função simbólica (Idem).

Considerações Finais

As “maridas” explicitam o quão fora de combate estão os homens de uma forma geral, especialmente no quesito amoroso. Dora amava e idealizava um pai ex-combatente e impotente – como diz Lacan –, e esse amor lhe sinalizava com o lugar da mulher diante do falo como dom em suas parcerias amorosas. Se as “maridas” atestam que, melhor do que amar um homem é amar sua melhor amiga e fazer sexo com um homem, elas talvez estejam mais interessadas em revelar do que encobrir a falta do falo paterno, numa demonstração de que um falo em potencial, como o do pai, não lhes tem mais nenhuma serventia.

Amar uma igual a si e fazer sexo com um diferente de si: eis o que as “maridas” postulam. Estaríamos diante de uma lógica funcional que visa ao melhor custo-benefício de cada gênero? A especialização-setorização-classificação-cientifização da relação amorosa seria o traço moderno desse comportamento de “maridas”? O amor fundamental e nobre, como “coisa de mulheres”, e o sexo desejável, casual e desclassificado, como “coisa de homens”, apontaria para um paradigma de mercado e de consumo no qual se deve buscar no outro apenas o que ele pode oferecer de melhor, uma vez que o sujeito contemporâneo é aquele que não deve se contentar com nada menos do que “o melhor”?

Dora, no século XX, demandava saber sobre o seu sexo pelo viés do amor ao pai como aquele que, potencialmente, poderia lhe dar o que lhe faltava. Tratava-se de um amor na qualidade de um “devir”, portanto – um amor no qual a histérica normalmente acredita como sendo capaz de encobrir a sua falta tal como ela encobre a impotência do pai para si mesma. As “maridas”, nossas contemporâneas, sinalizam que, ao invés de apostarem suas fichas em um falo capenga, que falha e frustra, como é o caso do falo paterno, elas preferem potencializar, por si mesmas, as suas relações com os dois sexos – da melhor amiga elas obtêm o amor; dos homens, o sexo.

Mas, se as “maridas” podem ser tomadas como um desdobramento da falência paterna na contemporaneidade, a ponto de prescindirem da figura masculina para indagar sobre o feminino, não seria o caso de considerarmos o que Lacan nos apresenta, ou seja, de que o pai continua exibindo a sua condição de potência criadora e, como tal, ostentando a sua tradicional condição de figura pivô da estória das histéricas? Isto é: pela via do pai idealizado ou do pai desfalicizado e fragilizado, as histéricas ainda formulariam suas estratégias amorosas a partir do pai?

Por outro lado, esse amor “puro” entre duas amigas “maridas”, no sentido de um sentimento desvencilhado do sexo e da diferença sexual, nos suscita uma outra pergunta: o que é um homem para uma mulher, em nossos dias?

 

[1] Faz-se referência aqui ao nome escolhido por Freud para designar a sua paciente no relato que ele formula em 1901, mas que é publicado em 1905, sob o título “Fragmento da análise de um caso de histeria”.
[2] Conforme Carta 140, de 25 de janeiro de 1901 (Freud, 1901-05, p. 13).
[3] O mundo é das mulheres foi o primeiro programa feminino da TV brasileira realizado na década de 60, pelo canal 5 da antiga TV Paulista, atual TV Globo, que lançou com sucesso a apresentadora Hebe Camargo, já falecida. (http://www.youtube.com/watch?v=cv40-tcU-RQ) Por sua vez, o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva fora ovacionado quando, em junho de 2011, expressou essa frase durante uma cerimônia, em Curitiba, se referenciando ao incremento da presença feminina no Planalto Central. (http://oglobo.globo.com/politica/o-mundo-das-mulheres-diz-lula-2877204)
[4] As “maridas” foram tema da revista Marie Claire número 289, de abril de 2015: uma edição comemorativa dos 24 anos da chegada da revista ao Brasil.
[5] Entrevista disponível em: http://moviepsi.blogspot.com.br/2013/05/entrevista-marie-helene-brousse.html.

 

 


 

Bibliografia
ANDERSON, B. S. e ZINSSER, J. P. Historia de las Mujeres – Una historia propia. Espanha: Editora Critica, 2009.
ANDRÉ, S. O que quer uma mulher? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2a Ed., 1991.
BROUSSE, M-H. [março de 2013] Nodus – L’aperiòdic virtual de la secció clínica de Barcelona. Entrevista concedida a Howard Rouse. Disponível em http://moviepsi.blogspot.com.br/2013/05/entrevista-marie-helene-brousse.html.
Acesso em 10/1/2016.
FREUD, S. (1901-1905) Fragmento da Análise de Um Caso de Histeria. In: STRACHEY, J. (ed.) e RIBEIRO, Vera (trad.), (Vol. 7, 2ª ed.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago (versão brasileira de 1989).
LACAN, J. (1956-1957). Dora e a jovem homossexual. In: O Seminário. Livro 4: a relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
LACAN, J. (1969-1970). O Mestre Castrado. In: O Seminário. Livro 17: o avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992.
“As novas maridas”. Revista Marie Claire. Rio de Janeiro: Editora Globo, número 289, abril de 2015, p. 102 -105.

Maria Amélia Tostes
Maria Amélia Tostes – Aluna do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais, jornalista, mestre e doutora em Ciências da Saúde. mameliatostes@uol.com.br (31) 98888 – 7755



Da Solução Do Sintoma Ao Sinthoma Como Solução

LEANDRO MARQUES SANTOS

 

 

O sintoma é o mal do qual o sujeito quer se livrar, e, portanto, é aquilo que o leva a falar a um analista sob a forma de uma demanda. Jésus Santiago, no testemunho de seu passe, fala sobre sua demanda de análise após a morte de seu pai: “sou tomado por intensa angústia, e pela ideia atormentadora de que poderia vir a ficar deprimido e doente como ele. Eis o que me impulsiona para o meu primeiro tratamento analítico” (SANTIAGO, 2013, p. 89).

Segundo Freud, os sintomas têm um sentido e se relacionam com as experiências do paciente. No caso de Jésus Santiago, o pensamento atormentador da possibilidade de ficar deprimido e doente como o pai tem relação direta com sua missão de salvá-lo, encarnada pelo seu nome próprio.

Na neurose obsessiva, os sintomas surgem pelos pensamentos invasores, impulsos dentro de si mesmo, ritos obrigatórios. Essas manifestações, que fogem ao controle do sujeito, geram a ele perturbações e sofrimento. Isso fez com que Freud a nomeasse de “doença louca” (FREUD, 1915-1916, p. 267).

Uma das pacientes de Freud, citada na Conferência XVII (1915 – 1916), que cometia repetidamente o ato de chamar a empregada próximo a uma mesa, cuja toalha estava manchada de vermelho, de acordo com Freud, repetia esse ato no intuito de corrigir a falha do marido na noite de núpcias.

Portanto, Qual Seria A Função Do Sintoma?

O sintoma é uma consequência do encontro do sujeito com a castração (SANTIAGO, 2015, p. 163). Ele é “signo da falha da relação sexual” (SKRIABINE, 2013, p. 19), o que seria um outro nome da castração, sendo sua função a de um substituto, uma espécie de suplência à falta da relação sexual que o significante falha em escrever, ou seja, a linguagem não dá conta dessa relação, portanto, o surgimento do sintoma.

Porque Ele Se Forma Assim?

Freud nos ensina que o sintoma é fruto de um conflito entre a necessidade de satisfação da libido e as proibições internas e externas, ou do ego e da realidade, encontrado pela libido na busca de satisfação. Essas proibições fazem com que a libido, que possui um “caráter fundamentalmente imutável” (FREUD, 1916, p. 362), invista em forma de catexia, em tempos anteriores, nas fixações de satisfações que eram obtidas na infância, passando assim a operar através do sistema inconsciente. O ego, então, opositor a essas realizações, passa a persegui-la e compeli-la a escolher uma forma de expressão da própria oposição. Assim, cito Freud: “o sintoma emerge como um derivado múltiplas-vezes-distorcido da realização de desejo libinal inconsciente, uma peça de ambiguidade engenhosamente escolhida, com dois significados em completa contradição mútua” (FREUD, 1915-1916, p. 362-363).

O sintoma então age repetindo a forma infantil de satisfação, porém de maneira deformada devido à censura do ego, provocando sofrimento ao sujeito que reclama dele sem perceber que também se satisfaz ali. Como nos revela Santiago ao falar sobre seu “esquartejamento”, “um suplício sofrido pela ação de forças antagônicas”, posto em cena pela análise na qual ele se valia da “inocência do menino” para não saber sobre seu “aprisionamento no gozo sacrificial” (SANTIAGO, 2013, p. 93).

Santiago relata o esforço nocivo que fazia para tentar dissolver as identificações com o ideal viril, “identificação da criança-orifício com a virilidade da mãe”. Revela que “exatamente nesse ponto, o amor se transfigurava em sintoma. Em detrimento do amor, prevaleciam as repetições com a satisfação escópica promovida pela fantasia” (SANTIAGO, 2015, p. 166).

Freud, ao descrever sobre a regressão da libido às fixações de satisfação da infância, toca num ponto fundamental, que é o da fantasia, e a compara à realidade vivida por cada sujeito, com base no que cada um traz em relação às histórias de sua infância, sem se importar, a princípio, se os fatos são ou não verídicos, uma vez que foram criadas pelo sujeito neurótico e, por isso, têm o valor de verdade: “no mundo das neuroses, a realidade psíquica é a realidade decisiva” FREUD (1915-1916, p. 370). Como podemos ver na contribuição dada por Santiago em seu passe, “a fantasia se origina da relação da criança com a mãe viril”. Na adolescência, isso inverte: “de objeto-orifício passei a me identificar com o objeto-olhar da mãe. Assim, ao me identificar com ela, eu me virilizava; virilizado me sacrificava” (SANTIAGO, 2015, p. 166).

O ponto de fixação provoca sempre uma repetição por parte do sujeito, evidenciando que há algo no sintoma que resiste à decifração (SOUTO, 2003, p. 11).

Santiago, ao falar das repetições com a satisfação escópica promovida pela fantasia, afirma que “tais repetições se mostravam refratárias às interpretações e construções que buscavam elucidar o impasse amoroso… da identificação da criança-orifício com a virilidade da mãe” (SANTIAGO, 2015, p. 166).

O Sintoma Seria, Portanto, A Realização Da Fantasia?

“Lacan nos esclarece que o sintoma é aquilo que envelopa a fantasia, o gozo que a fantasia comporta… aquilo que da fantasia pode aparecer sob a forma significante” (MACHADO, 2004, p. 2). Como no caso de Santiago, ao assumir a forma do “boneco-de-verdade”: “O sujeito se apega a esta forma fálica que o representa para o Outro” (SANTIAGO, 2013, p. 91).

Sendo assim, a realização da fantasia pela via do sintoma é a realização do gozo, e Lacan chama de sintoma a incidência do gozo sobre o corpo. Portanto, o sintoma vai além da fantasia, comportando gozo e fantasia, sendo o gozo inapreensível pelo significante. Santiago, no percurso de sua análise, reencontra o que ele chama de “a dimensão mortífera do objeto, que aparece inicialmente velado pelo investimento libidinal no corpo próprio via o brilho do boneco-de-verdade” (SANTIAGO, 2013, p. 92).

O Nome-Do-Pai É Um Sintoma?

Lacan destitui o Nome-do-Pai rebaixando-o a um tipo de sinthoma, ou seja, o Nome-do-Pai seria igual ao sinthoma (JIMENEZ, 2005). Tal como o quarto nó, que amarra os três registros – real, simbólico e imaginário –, conforme demonstrado por Lacan ao referir-se a Joyce no Seminário 23 (LACAN, 1976).

Miller, na abertura da Conversação II de Arcachon, sustenta que um sintoma pode assumir a função de Nome-do-Pai e afirma que “o Nome-do-Pai, ele próprio, não é nada mais que um sintoma” (MILLER, 1997, p. 106).

Porém, Lacan não deixa de ressaltar a importância desse quarto elemento do nó borromeano, afirmando que o pai é esse quarto elemento… esse quarto elemento sem o qual nada é possível no nó do simbólico, do imaginário e do real. Mas há um outro modo de chamá-lo… eu o revisto hoje com o que é conveniente chamar de sinthoma (LACAN, 1976, p. 163).

Há Solução Para O Sintoma?

O sintoma pode ser interpretado, e assim podemos dizer que há solução para o sintoma. No entanto, para o sinthoma não há interpretação, permanecendo um resto inominável. Portanto, “o sintoma é curável; o sinthoma não” (JIMENEZ, 2005).

Jésus Santiago demonstra em seu testemunho que o “boneco-de-verdade”, que encobre um “gozo mortífero”, é dissolvido pela sentença “negue teus heróis”, extraída de um sonho de final de análise (SANTIAGO, 2013, p. 95). Portanto, “no lugar da oferenda em sacrifício ao Outro, há o gozo traumático, considerando-se que sua consistência é o vazio próprio da montagem pulsional” (SANTIAGO, 2015, p. 169).

No percurso de uma análise opera-se a queda dos significantes, e, com isso, uma redução do gozo e também dos sofrimentos provocados pelos sintomas próprios de cada ser falante. No entanto, o inconsciente não se esgota, ou seja, permanece um resto, e nesse resto podemos encontrar uma solução (SOUTO, 2003, p. 11).

Para chegar a esse ponto, é preciso servir-se do pai na medida em que, numa análise, se articula com os significantes causadores de gozo e se descobre os objetos da fantasia. É servindo-se do pai que o sujeito neurótico tem a chance de sair da posição fantasmática que o coloca como objeto de gozo do Outro para inventar um novo modo de gozo. Essa invenção pode ser chamada de parceiro-sintoma, como nos esclarece Miller: “a relação do parceiro supõe que o Outro torna-se o sintoma do falasser, isto é, torna-se seu meio de gozo” (MILLER, 1998, p. 104).

Marcus André Vieira, em seu testemunho de final de análise, conta como foi essencial servir-se do pai para poder dispensá-lo quando fabrica o nome “mordidavida” para dar lugar ao gozo que não cabe em corpo nenhum, o gozo não apreendido pela fantasia, um gozo além do pai (VIEIRA, 2013, p.101).

Dispensar O Pai É Fazer Do Sintoma Um Parceiro?

Inventado e sustentado pelo passante Marcus André Vieira em seu testemunho, o nome “mordidavida”, que estabelece a parceria sintomática entre o falasser e seu sinthoma, só foi possível porque Marcus André se serviu da “mão mordida” do pai para poder dispensá-lo e ir além. Seu pai possuía 53 cães, e, portanto, tinha as mãos sempre machucadas por separar as lutas entre eles, numa violência disfarçada, como nos afirma Marcus. Este, então, encontra um lugar para o pai ao afirmar que “a mão mordida deu-lhe lugar… o do louco” (VIEIRA, 2013, p.102).

Se considerarmos que o Nome-do-Pai é um sintoma e que sempre haverá um resto, um real inapreensível, podemos concluir que dispensar o pai é fazer parceria com o sinthoma como um modo de gozar que o sujeito inventa.

Trata-se de uma invenção, pois mesmo num final de análise não é possível chegar ao significante S1, à verdade sobre o gozo. O falasser chega ao limite de saber pela via significante, o S1 “foi apenas um choque do significante com o corpo” (SILVA, 2015, p. 174).

A invenção do sinthoma não surge do nada, ela dispensa o pai pelo fato dele ter-se servido. Portanto, podemos dizer que o sinthoma já estava presente no sintoma e que a análise seria o processo de lapidação, no qual o sinthoma surge, ao final, como algo aparentemente novo, mas que sempre esteve lá, encoberto pelos significantes mestres (MACHADO, 2004).

No final de uma análise, conforme é possível constatarmos nos relatos de passe, há um resto que não se ultrapassa, portanto temos que viver com ele. Por mais longe que o sujeito leve sua análise, por mais que se reduza o gozo, restará o sinthoma como modo de gozo.

Utilizando-se da famosa frase de Lacan, “não há relação sexual”, Miller ensina que “o falasser, como ser sexuado, faz parceria, não no nível do significante puro, mas no nível do gozo, e essa ligação é sempre sintomática” (MILLER, 1998, p. 106).

E Como Fazer Com O Parceiro-Sinthoma?

Se as possibilidades pela via significante estão esgotadas, não há como saber sobre o que fazer com o resto de gozo, ou seja, não se sabe antes de fazer, trata-se de um saber-fazer que se dá em ato, sem significado, que não está dirigido ao Outro. “Trata-se de um saber que só se sabe ao fazer, depois de feito… um saber que só é sabido em ato” (MACHADO, 2004).

Jésus Santiago afirma que “o amor pressupõe viver o vazio da pulsão sem o recurso da fantasia” e relata que, no final, foi necessário dissolver a miragem fálica para poder “construir-se como objeto a serviço do vazio próprio da pulsão” (SANTIAGO, 2015, p. 168).

A via de entrada numa análise é também a via de saída, que vai da solução do sintoma ao sinthoma como solução. No percurso de uma análise, que se envereda pelas redes simbólicas que determinam o sujeito, as soluções pela via do sentido, daquilo que é interpretável, se reduzem ao resto inominável, ao real do sinthoma, que se transforma em parceiro. Portanto, o sintoma não se soluciona, mas é a própria solução parceiro-sinthoma.

 


 

Bibliografia:
FREUD, S. (1916) “O sentido dos sintomas”, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. XVI, Conferências introdutórias sobre psicanálise (parte III), Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, S. (1916) “Os caminhos da formação dos sintomas”, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol.XVI, Conferências introdutórias sobre psicanálise (parte III), Rio de Janeiro: Imago, 1976.
JIMENEZ, S. Sinthoma e fantasia fundamental, Latusa Digital, Rio de Janeiro – EBP-RJ, n. 12, 2005.
LACAN, J. O Seminário. Livro 23: o sinthoma. (1975-1976). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
MACHADO, M. R. O. “Qual a relação entre sintoma e sinthoma?” – Cadernos de psicanálise: SPCRJ, Rio de Janeiro, n. 23, V. 20, 2004.
MILLER, J.-A. “O osso de uma análise”. Seminário proferido no VIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano e II Congresso da Escola Brasileira de Psicanálise. Bahia: Biblioteca Agente, 1998.
MILLER, J.-A. et al. (1997). Os casos raros, inclassificáveis da clínica psicanalítica. A Conversação de Arcachon. São Paulo: Biblioteca Freudiana Brasileira, 1998.
SANTIAGO, B. A. L. “O falo como semblante: Rumo ao final de análise”, Curinga: Trauma nos corpos, violência nas cidades. Belo Horizonte: EBP-MG, n. 39, 2015.
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SANTIAGO, J. “O nome, o oco e a fonação”, Opção Lacaniana, n. 67, Dezembro 2013.
SKRIABINE, P. “Do sintoma ao sinthoma”, Revista de Psicanálise: @gente Digital, Salvador, n. 8, 2013.
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SOUTO, O. S. “Como a psicanálise cura”, In: Curinga: como a psicanálise cura. Belo Horizonte: EBP-MG, n. 19, novembro 2003.
VIEIRA, A. M. “Como morder o mar”, Opção Lacaniana, n. 67, dezembro 2013.

 


Leandro Marques Santos
Leandro Marques Santos – Formado no Curso de Psicanálise pelo Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais, Psicanalista, Pós-graduado em Gestão Financeira na PUC-MG. E-mail: leandromarquesbh2@gmail.com.