Almanaque On-line Março/2021 V. 14 Nº 26

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EDITORIAL

TEREZA FACURY

Bem-vindos à 26ª edição da revista Almanaque Online, do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais.
Esta edição foi preparada em meio a um cenário mundial de devastação, causada pela pandemia da covid-19, seja do ponto de vista econômico, seja do social, o que afetou sobremaneira os laços sociais das mais variadas formas. As relações entre as pessoas passaram a ser norteadas pelo significante “cuidado” no tocante aos seus corpos, uma vez que o outro se tornou um potencial e arriscado hospedeiro do vírus.  [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
PSICANÁLISE E ESQUECIMENTO: PONTUAÇÕES SOBRE ESTES TEMPOS ESTRANHOS

HENRI KAUFMANNER

Partindo da pergunta lançada por Lacan ao final do seminário XI, sobre uma possível impostura da psicanálise, pergunta-se o que o conduziu a traçar uma distinção entre a religião, a ciência e a psicanálise sob a perspectiva da ideia de esquecimento. Sublinhando como o avanço do discurso da ciência em nosso tempo, com sua oferta indiscriminada de objetos de consumo, provocou o tamponamento da falta do sujeito barrado e afetou “gravemente essa distinção entre esses campos em sua relação com o esquecimento”, faz-se recordar que, nesse mesmo seminário, Lacan já alertava quanto aos efeitos da chamada mass media, algo que hoje podemos traduzir como a era das tecnociências, aí implicada a virtualidade das nossas relaçõesDiante desse cenário, o que nos é exigido é a audácia da invenção. [Leia Mais]


 

A PRESENÇA REAL E A FUGACIDADE DO CORPO

CATHERINE LACAZE-PAULE

Catherine Lacaze-Paule aborda a atual experiência de confinamento para refletir sobre suas repercussões na clínica psicanalítica praticada virtualmente. Nesse contexto, ela indaga quais seriam “as condições para que um encontro seja real, para que uma presença se faça sentir, para que ela se experimente”. A autora se serve da expressão lacaniana “presença real” enodada ao desejo do analista e, dessa forma, dá um passo além dos termos— presencial, a distância — que o discurso corrente faz uso. [Leia Mais]


TRANSFERÊNCIA E PRESENÇA DO ANALISTA

FRANK ROLLIER

Neste texto, Frank Rollier traz a discussão sobre a importância da  presença dos corpos (analista-analisante) e seus efeitos relativos ao trabalho na transferência e de abertura ao inconsciente. As terapias a distância produzem uma exacerbação dos semblantes, uma profusão de sentidos, conectadas ao projeto político do discurso cientificista sob o qual a relação sexual possa se escrever. A “presença real” do analista é a aposta ética da psicanálise de poder tocar pedaços do real pulsional e do resto, o objeto a. [Leia Mais]


O ANALISTA ESSENCIAL

IRENE ACCARINI

Neste artigo, a partir de uma reflexão sobre as sessões analíticas a distância, a autora relaciona as noções da presença do analista e do objeto voz considerando que a experiência do inconsciente, desde Freud, é marcada pela forma com que a palavra afeta o corpo. Tendo em conta as mudanças impostas na rotina de todos pela pandemia do coronavírus, a autora relata efeitos subjetivos no que diz respeito à forma com que atos anódinos tornam-se atos de consciência constante e reflete sobre a prática da psicanálise enquanto restituidora da dimensão do inconsciente neste contexto de consciência exacerbada. [Leia Mais]

ENTREVISTA

Gustavo Dessal

Nos traz, em Entrevista, suas percepções e elaborações sobre o que tem extraído de sua experiência e de suas pesquisas sobre o uso dos dispositivos on-line nos atendimentos. [Leia Mais]

ENCONTROS
TECH-NO-ME, TECH-TO-ME

RENATA TEIXEIRA

A autora aborda, neste artigo, como a irrupção da pandemia do novo coronavírus afetou sua prática clínica com crianças e adolescentes e a faz se interessar pelo mundo dos jogos digitais como uma ferramenta possível para a continuidade do tratamento via dispositivos eletrônicos. A partir de alguns extratos clínicos, localiza como o analista pode se fazer presente, mesmo que virtualmente, acompanhando as invenções e os laços de cada sujeito. [Leia Mais]


 

NÃO É UMA BRINCADEIRA DE CRIANÇA

PRERNA KAPUR

Neste artigo, a autora aborda os impactos do confinamento sobre seu trabalho clínico com crianças. Sem os objetos que circulam nos atendimentos presenciais, questiona-se sobre como seria possível dar continuidade aos atendimentos por plataforma de vídeo. Utiliza fragmentos de um caso clínico para pensar a presença do analista e como, para alguns sujeitos, áudio e vídeo podem servir como recurso para novas invenções e laços. [Leia Mais]

INCURSÕES
PSICANÁLISE ON-LINE COM CRIANÇAS

SUZANA FALEIRO BARROSO

O artigo reúne pontos abordados na XXIV Conversação da Seção Clínica do IPSM-MG, em novembro de 2020. Discute o recurso aos dispositivos virtuais para sustentar a prática analítica com crianças durante a quarentena; articula-os aos aspectos da direção do tratamento, o manejo da transferência, o desejo e a presença do analista; aborda algumas vinhetas da clínica do unheimlich a partir dos relatos de crianças e adolescentes em análise e, por fim, verifica como o discurso analítico é aquele que pode acolher os efeitos do encontro com o estranho junto às crianças e adolescentes. [Leia Mais]


 

COMENTÁRIO AO TEXTO DE SUZANA BARROSO NA XXIV CONVERSAÇÃO CLÍNICA DO IPSM-MG

LILANY VIEIRA PACHECO 

Suzana descreve, assim, as condições de possibilidades para a constituição do lugar do Outro pela operação de mutação do Real em significante [Leia Mais]

DE UMA NOVA GERAÇÃO
UM RETRATO DO PSICANALISTA QUANDO ARTISTA:  A INTERPRETAÇÃO NO ÚLTIMO ENSINO DE LACAN

DERICK DAVIDSON SANTOS TEIXEIRA

No prefácio à edição inglesa do seminário 11, Lacan escreve que “a psicanálise, desde que ex-siste, mudou”. Sabe-se que essa mudança decorre, principalmente, de uma promoção do corpo e da escrita no interior da psicanálise. Da escrita poética chinesa à obra de James Joyce, passando pelo corpo tomado por uma satisfação pulsional que escapa à articulação significante, Lacan reformula a interpretação analítica.  O presente texto trata dos desdobramentos da interpretação na fase final do ensino de Lacan. Faremos um breve percurso pelo tema do “moterialismo” e da emergência da letra na psicanálise. Nessa via, elucidamos os efeitos de uma interpretação que não se pauta apenas pelo sentido, mas que faz valer, também, um furo — a realização de um vazio semântico —, um efeito de sentido real. [Leia Mais] 


 

RACISMO, CORPO E TRAUMA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

NAYARA PAULINA FERNANDES ROSA

O presente artigo discorre brevemente sobre a incidência dos efeitos psíquicos do racismo contra negros no âmbito da identificação imaginária a partir da teoria do estádio do espelho. Fragmentos de casos clínicos ilustram a proposição de que, no momento em que o sujeito é nomeado negro pelo outro, se dá conta de que esse significante conjuga a representação de todas as imagens com as quais aquele que foi nomeado branco não deseja se identificar. Ao ser classificado como negro, o sujeito é fixado em uma espécie de “inferioridade epidermizada”. A escuta desse tipo de sofrimento — que envolve corpo, cultura e palavra — envolve a sutileza na evocação da singularidade da experiência traumática aliada à assertividade de não se recuar na luta antirracista, compreendendo-a como causa que concerne a também a nós, analistas de orientação lacaniana.[Leia Mais]