A Sintonia Do Eu Com O Sintoma: A Problemática Da Angústia Na Neurose Obsessiva
SIMONE SOUTO
A despeito de sua complexidade, se acompanhamos Freud no texto “Inibição, sintoma e angústia” (1926/1976), acabamos por nos render a seu interesse e entusiasmo ao constatar a importância do estudo da neurose obsessiva para a compreensão dos mecanismos da formação do sintoma e sua relação com a angústia.
Assim, é “na esperança de aprender alguma coisa a mais sobre o sintoma” (FREUD, 1926/1976, p.135) que, a certa altura desse texto, Freud passa ao estudo mais detalhado da neurose obsessiva. Em “Inibição, sintoma e angústia”, Freud considera a neurose obsessiva o tema mais interessante e compensador da pesquisa analítica. Possivelmente, porque, como veremos, no que se refere à formação dos sintomas, encontramos, na neurose obsessiva, uma multiplicidade de mecanismos que se sobrepõem e/ou se sucedem, cada um visando a compensar o fracasso do outro. É também na neurose obsessiva que encontramos uma maior sintonia do eu com o sintoma, não só porque, com a ajuda desses diversos mecanismos, o eu, em certa medida, incorpora o sintoma em sua organização, mas principalmente porque, como sublinha Freud, na neurose obsessiva, a forma que o sintoma assume torna-se muito valiosa para o eu, pois obtém para este não apenas certas vantagens — ganhos secundários, como no caso da histeria — mas uma satisfação narcísica. Esta é, a meu ver, o aspecto mais importante da relação do eu com o sintoma na neurose obsessiva: o sintoma, na neurose obsessiva, é acompanhado de uma sensação de prazer, e não de desprazer, como na histeria.
Como nos esclarece Freud, os sistemas que o neurótico obsessivo constrói lisonjeiam seu amor próprio, fazendo-o sentir-se melhor que as outras pessoas porque é especialmente limpo, ou especialmente consciencioso, ou especialmente organizado, etc. Dessa forma, podemos dizer que, se o sintoma, na histeria, nos coloca diante da dificuldade de reconhecer uma satisfação no desprazer, a neurose obsessiva nos coloca o desafio de lidar com um sintoma que é reconhecidamente uma fonte de satisfação, de prazer, do qual o sujeito não quer abrir mão.
Podemos inferir, portanto, que o grande interesse demonstrado por Freud em “Inibição, sintoma e angústia”, no estudo da neurose obsessiva, se deve ao fato de que, nessa neurose, encontramos, de maneira mais evidente, o sintoma como sendo a “significação de uma satisfação” (FREUD, 1926/1976, p.135) (Bedeutung eine Befriedigung). Ou seja, parece-me que Freud, nesse texto, não está interessado no sentido do sintoma, no sintoma como algo que pode ser decifrado, mas no sintoma como uma satisfação. É essa vertente do sintoma que, a meu ver, designa essa “alguma coisa a mais” que Freud pretende entender, quando recorre ao estudo pormenorizado da neurose obsessiva.
Como eu dizia anteriormente, na neurose obsessiva, os mecanismos de defesa se constituem de forma complexa e múltipla. Assim, podemos destacar três mecanismos de defesa presentes na formação dos sintomas na neurose obsessiva:
– Recalque
– Regressão
– Formações reativas
Recalque
A neurose obsessiva se constitui a partir do mesmo mecanismo presente na histeria: o recalque, que é, por excelência, o mecanismo de formação da neurose. O recalque é um mecanismo de defesa que, segundo Freud, visa a manter afastadas da consciência as experiências traumáticas vividas na infância, ligadas ao Complexo de Édipo. Isto é, o recalque visa a desviar as exigências libidinais do complexo edipiano e o consequente perigo da castração. Mas, apesar de se constituir a partir do mesmo mecanismo que a histeria, a neurose obsessiva vai-se modelar de forma bem diferente. Como já vimos, na histeria, as experiências da infância ligadas ao Complexo de Édipo são acompanhadas de uma sensação de desprazer, uma falta de prazer, um prazer a menos (-). Um exemplo disso é a repulsa ligada à cena primária de sedução, isto é, ao sexo. No caso da neurose obsessiva, ao contrário, as experiências da infância ligadas ao Complexo de Édipo serão acompanhadas de um intenso prazer, um prazer a mais (+).
Se seguirmos a lógica freudiana a propósito do mecanismo do recalque, constataremos que uma experiência só se torna traumática se causar desprazer, e esse seria o motivo pelo qual a lembrança dessa experiência seria afastada da consciência, ou seja, recalcada. Na verdade, é exatamente assim que ocorre, segundo Freud: a condição para que o recalque aconteça é que a força motora do desprazer adquira mais vigor do que o prazer obtido na experiência de satisfação. Estamos, então, com uma dificuldade no que concerne ao mecanismo do recalque na neurose obsessiva. Como explicar o recalque na neurose obsessiva uma vez que nela as experiências ligadas ao Complexo de Édipo são acompanhadas de intenso prazer? Por que, então, elas precisariam ser recalcadas?
Freud parte da constatação de que o aparelho psíquico funciona a partir do princípio de constância, ou , como diz Lacan, por homeostase. Isso significa que o aparelho psíquico busca sempre manter o nível de tensão o mais baixo possível. Assim, qualquer coisa que ameace esse equilíbrio, seja um prazer a menos (como na histeria), seja um prazer a mais (como na neurose obsessiva), é sentida pelo aparelho psíquico como um aumento de tensão que causa desprazer, tornando-se, assim, uma condição para o recalque. Porém, existe ainda outro fator a ser considerado, porque, no que concerne à experiência de satisfação, ela nunca se completa, ou seja, a satisfação obtida nunca será toda. Sempre haverá uma diferença entre a satisfação obtida e aquela que era esperada. Assim, no caso da neurose obsessiva, por mais prazer que o sujeito obtenha, isso terá um limite que também será sentido como desprazer, tornando-se, portanto, condição para o recalque. O recalque opera quando entra em jogo algo que não pode ser absorvido pela homeostase, isto é, algo que está para além do princípio do prazer.
A partir daí, podemos entender por que, para o neurótico obsessivo, o prazer a mais ou, para usar um termo lacaniano, o gozo, é muitas vezes acompanhado de sentimentos de angústia, pânico, culpa, depressão, etc. Ou, ainda, por que, muitas vezes, o obsessivo acaba por evitar o prazer para não ter que se haver com essa diferença entre a satisfação obtida e a satisfação esperada. É por isso que, na base da experiência do obsessivo, existe sempre o que Lacan chamou de “certo receio de desinflar” (LACAN, 1960-1961/1992, p.235), relacionado com o que resulta do encontro com a satisfação. Aqui, Lacan nos lembra da fábula da rã que queria fazer-se tão grande quanto o boi: “O miserável animal, como sabem, inchou tanto que estourou” (LACAN, 1960-1961/1992, p.235).
O testemunho de um paciente exemplifica bem esse impasse obsessivo: segundo ele, o sucesso lhe era proibido porque qualquer coisa que lhe deixava feliz, que lhe dava prazer, seja no amor, seja no trabalho, chegava sempre em um ponto, em um limite no qual se transformava em um sofrimento horrível. Assim, preferia evitar qualquer situação que o deixasse feliz, que lhe desse prazer. Dessa forma, isolava-se cada vez mais: não saía de casa, evitava o contato com as pessoas , etc.
Esse exemplo nos permite entender a constatação de Freud segundo a qual o resultado desse processo, na neurose obsessiva, será “um eu extremamente restringido que ficará reduzido a procurar satisfação nos sintomas” (FREUD, 1926/1976, p.141).
No início do texto “Inibição , sintoma e angústia”, Freud define o sintoma da seguinte forma: “o sintoma é um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que permaneceu em estado jacente; é uma consequência do processo de recalque” (FREUD, 1926/1976, p.112). Isso quer dizer que, primeiramente, o recalque não é totalmente eficaz, e que, de algum modo, a satisfação pulsional encontra um substituto, apesar dele. Mas, como substituto da satisfação pulsional, o sintoma tende a cumprir o mesmo destino desta, ou seja, tende a manter sua existência fora da organização do eu, mas que, no entanto, não deixa de ter incidências sobre ele, tal qual “um corpo estranho que mantém uma sucessão constante de estímulos e reações no tecido no qual está encavado” (FREUD, 1926/1976, p.120). De acordo com Freud, o sintoma é, portanto, uma peça do mundo interno (do eu) que é estranha a ele (pois advém do isso). Sendo assim, a luta inicial do recalque contra a satisfação pulsional se prolonga na luta contra o sintoma. O neologismo criado por Lacan, “extimidade”, localiza, de maneira precisa, essa posição do sintoma como algo que está excluído, mas internamente, ou seja, algo que é estranho, exterior, mas, ao mesmo tempo, íntimo.
Dessa maneira, observa-se que, na neurose obsessiva, nessa luta secundária contra o sintoma, o eu apresenta “duas faces com expressões contraditórias” (FREUD, 1926/1976, p.120): ao mesmo tempo em que luta contra a satisfação pulsional, utiliza o seu poder de síntese para impedir que os sintomas “permaneçam isolados e alheios, empregando todos os métodos possíveis para agregá-los a si e para incorporá-los em sua organização por meio desses vínculos” (FREUD, 1926/1976, p.120). Assim, os sintomas que fazem parte dessa neurose se enquadram, em geral, em dois grupos de tendências opostas:
1) sintomas negativos (proibições, precauções e expiação);
2) sintomas positivos (satisfações substitutivas que amiúde aparecem com um disfarce simbólico).
Segundo Freud, o grupo defensivo, negativo, dos sintomas, é o mais antigo dos dois, mas, no decorrer do processo, “as satisfações, que zombam de todas as medidas defensivas, levam vantagem” (FREUD, 1926/1976, p.135). Assim, como observa Freud, a formação dos sintomas, na neurose obsessiva, assinala seu triunfo, ao conseguir combinar a proibição com a satisfação, de modo que o que era originalmente uma ordem defensiva ou proibição acaba adquirindo, também, a significância de uma satisfação. Aqui, é preciso fazer um parêntese e sublinhar a importância do supereu na formação dos sintomas da neurose obsessiva, uma vez que o supereu, como nos esclarece Lacan, é exatamente essa instância que incorpora a proibição e a satisfação ao mesmo tempo, ou seja, a lei e o gozo. O supereu ordena o gozo.
Dessa forma, “o eu faz uma adaptação ao sintoma e passa a se comportar como se reconhecesse que o sintoma chegara para ficar e que a única coisa a fazer é aceitar a situação de bom grado” (FREUD, 1926/1976, p.121). Ou seja, o eu se adapta a esse corpo estranho que é o sintoma, ele o incorpora. Portanto, na neurose obsessiva, o sintoma se funde cada vez mais com o eu, colocando-se cada vez mais em sintonia com este, que passa a se apresentar, em sua glória, com todos os seus sintomas, que se tornam, dessa maneira, traços fundamentais de sua personalidade. Parece-me, então, que é na neurose obsessiva que temos a oportunidade de constatar a frase de Freud segundo a qual “o eu é idêntico ao isso, sendo apenas uma parte especialmente diferenciada do mesmo” (FREUD, 1926/1976, p.119).Por outro lado, o sintoma, por sua vez, para fugir ao recalque e ser aceito pelo eu, apresenta-se como um substituto da satisfação pulsional, mas de forma muito mais reduzida, deslocada e inibida. No entanto, a despeito desse disfarce, o sintoma renova continuamente suas exigências de satisfação, obrigando o eu, por sua vez, a dar um sinal de desprazer, ou seja, a se deparar com a angústia. Então, para fazer frente a essa falha do recalque e à consequente presentificação da angústia, o obsessivo lança mão de outro mecanismo defensivo fundamental: a regressão.
Regressão
Segundo Freud (1917/1976, p.419), os neuróticos repetem, na atualidade, através de seus sintomas, uma experiência traumática do passado, experiência na qual parecem ter-se fixado. Isso acontece desse modo porque, diante da impossibilidade de satisfação (perigo da castração), a libido é compelida a tomar o caminho da regressão para tentar encontrar satisfação em períodos anteriores do seu desenvolvimento. Podemos dizer, então, que há um retorno da libido para um ponto de fixação onde, ao mesmo tempo, a libido ter-se-ia fixado e interrompido seu percurso. Esse ponto de fixação nada mais é do que a experiência de satisfação ligada ao Complexo de Édipo, que, uma vez recalcada, passa a funcionar como um ponto de atração da libido no inconsciente.
fixação recalque
De acordo com Freud, no caso da neurose obsessiva, essas experiências traumáticas em que a libido se teria fixado possuem uma significação sádico-anal, isto é, são experiências, lembranças, que não teriam alcançado uma significação fálica, sexual. Segundo Freud, na neurose obsessiva,
“[…] a organização genital da libido é débil e insuficientemente resistente, de modo que, quando o eu começa seus esforços defensivos, a primeira coisa que ele consegue fazer é lançar a libido de volta, no todo ou em parte, ao nível anal-sádico, mais antigo” (FREUD, 1926/1976, p.136).
Assim, por exemplo, a cena de uma relação sexual entre os pais pode ser compreendida como uma agressão sadomasoquista, ou como coito anal.
Toda questão que aqui se coloca é que compreender o significado sexual significa se deparar com a castração feminina. Como todo neurótico, o obsessivo tem acesso à significação fálica, mas, para não ter que se haver com a castração feminina, ele acaba por desconhecer a significação sexual, fálica, regredindo a um modo de satisfação sádico-anal. Freud deixa bem claro que, na ocasião em que se entra em uma neurose obsessiva, a fase fálica já foi alcançada.
satisfação sádico-anal castração feminina
Assim, através da regressão, não só os impulsos agressivos iniciais serão despertados de novo, mas também uma proporção de novos impulsos libidinais terá que seguir o caminho prescrito para eles pela regressão e surgirá, também, como tendências agressivas destrutivas: “O eu nada poderá empreender que não seja atraído para a esfera desse conflito” (FREUD, 1926/1976, p.141).
Dessa forma, com o intuito de evitar a castração, os impulsos eróticos, na neurose obsessiva, tomarão o disfarce da agressividade. Como nos diz Freud:
“A luta contra a sexualidade, doravante, será levada sob o estandarte de princípios éticos. O ego recuará com assombro das instigações à crueldade e à violência não tendo qualquer ideia de que, nelas, está combatendo desejos eróticos, inclusive, alguns em relação aos quais não teria aberto exceção alguma” (FREUD, 1926/1976, p.139).
Freud chama atenção para o fato de que, no interesse da masculinidade, isto é, para fugir da castração, por vezes toda a atividade que pertence à masculinidade é paralisada; como observamos, por exemplo, em alguns casos de disfunções sexuais (impotência, ejaculação precoce, etc.). Nesse contexto, “devido à regressão da libido, na neurose obsessiva, o conflito é agravado em duas direções: as forças defensivas se tornam mais intolerantes e as forças que devem ser desviadas, se tornam mais intoleráveis” (FREUD, 1926/1976, p.140).
O problema é que esse mecanismo também fracassa no objetivo de evitar a irrupção das exigências pulsionais e, consequentemente, da angústia. Por isso, o obsessivo utilizará, ainda, outro recurso: as formações reativas.
Formações Reativas
As formações reativas são técnicas auxiliares e substitutas do recalque e da regressão, mas que, ao mesmo tempo, os pressupõem. São elas:
Desfazer o que foi feito
Isolar
Desfazer o que foi feito: o sujeito se esforça para dissipar a impressão traumática por meio de um simbolismo motor, repetindo, de maneira diferente, o que não aconteceu de forma desejada, fazendo-o como se não tivesse acontecido, ou seja, ele tenta consertar o que julga que aconteceu de maneira errada, repetindo a ação como se ela não tivesse sido feita. Dessa forma, uma primeira ação é cancelada por uma segunda, de modo que é como se nenhuma ação tivesse ocorrido, ao passo que, na realidade, ambas ocorreram. Freud nos diz que é uma tentativa de tornar o próprio passado inexistente. Mas o que acaba por acontecer é uma repetição infindável de ações motoras que, no esforço de desfazer a impressão traumática, acaba por repeti-la. O que o sujeito repete é o fracasso da ação.
Isolar: diante de uma impressão traumática, o paciente interpola um intervalo, suas conexões associativas são interrompidas, permanecendo isoladas. A experiência não é esquecida como acontece, por exemplo, na histeria, em que temos a amnésia. Ao invés disso, a experiência traumática é destituída de afeto, permanecendo isolada, não sendo reproduzida nos processos comuns do pensamento. O isolamento motor destina-se a assegurar uma interrupção da ligação de pensamento, e o efeito acaba sendo o mesmo que o da amnésia histérica, com a diferença que, uma vez destituídas do afeto, as coisas podem ser ditas, mas não são relacionadas, não são ligadas ao trauma, isto é, incluídas nas associações relativas à significação traumática. O efeito disso é que ficamos impressionados como na neurose obsessiva as coisas podem ser tão ditas e, ao mesmo tempo, serem tão desconhecidas do próprio sujeito. Isolar, segundo Freud, é remover a possibilidade de contato. É um método para evitar que alguma coisa seja tocada, e, quando um paciente isola uma impressão interpolando um intervalo, ele permite que se compreenda que não deixará que seus pensamentos entrem em contato associativo com outros pensamentos. Freud observa que “nesse esforço de impedir associações e ligações de pensamento, o eu está obedecendo a uma das ordens mais antigas e fundamentais da neurose obsessiva: o tabu de tocar” (FREUD, 1926/1976, p.145). Segundo Freud, o toque, ou seja, o contato físico, é uma finalidade imediata das catexias objetais tanto agressivas como amorosas:
“Visto que a neurose obsessiva começa por perseguir o toque erótico e, depois, após ter se verificado a regressão, passa a perseguir o toque erótico sob a forma de agressividade, depreende-se daí que nada é tão fortemente proscrito nessa neurose como tocar, nem tão bem adequado para tornar-se o ponto central de um sistema de proibições” (FREUD, 1926/1976, p.145).
O fragmento de um caso clínico nos demonstra claramente essa estratégia obsessiva: um músico que fez um sintoma no braço a partir do qual não podia mais tocar. Isso acontece logo depois da traição da namorada que ele idealizava, mantendo por ela um amor sublime que a conservava intocada. Subjacente ao problema do braço, aparece um sintoma de impotência como forma de evitar o toque erótico. A cena de traição lhe remete, depois de alguns anos de análise, a uma cena de infância na qual ele escutava os ruídos provenientes da relação sexual entre o padrasto e a mãe.
A Angústia: Um Resto A Concluir
Gostaria de concluir dizendo que, em “Inibição, sintoma e angústia”, Freud, apesar de relacionar a angústia com a perda do objeto e não com a presença do objeto, como o fará Lacan, mais tarde (1962-1963/2005), acaba por reconhecer, no decorrer desse texto, que a exigência pulsional, ou seja, a iminência da satisfação, é o que faz surgir a angústia. Sendo assim, podemo-nos perguntar se a criação dos sintomas, na neurose obsessiva, toda essa parafernália que o obsessivo cria, não seria uma tentativa de fugir da angústia, sem abrir mão da satisfação. Para isso, ele se identifica ao sintoma, incorporando-o ao eu, ou seja, dando-lhe uma conformação narcísica, o que lhe custa o preço da anulação do desejo, tanto dele próprio, como do outro.
Talvez, seja este o cerne da análise, nos casos de neurose obsessiva: como ir além do narcisismo, como identificar-se ao sintoma sem anular o desejo.