Almanaque On-line – Agosto/2023 – Nº 31

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

Giselle Moreira

Apresentamos a 31ª edição da revista Almanaque On-line, que tem como eixo temático “A clínica universal do delírio”, em consonância com o argumento da próxima Jornada da EBP-MG – O que há de novo nas psicoses… ainda – e do Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, que acontecerá em fevereiro de 2024 sob o título Todo mundo é louco.

Os textos que compõem esta edição marcam um contraponto a uma perspectiva despatologizante que busca eliminar o real do sinthoma. A clínica universal do delírio configura, por sua vez, uma orientação política da psicanálise e parte da leitura lacaniana de que os discursos não são mais que defesas contra o real, o que permite deduzir, nesse caso, que ninguém é normal: “todo mundo é louco, ou seja, delirante” (LACAN, 1978/2010, p. 31).  (Leia mais)

TRILHAMENTOS

Schreber, ainda contemporâneo

Sérgio Laia

Este texto procura demonstrar a contemporaneidade do relato publicado por Schreber sobre sua “doença dos nervos”, bem como da leitura que Freud e Lacan lhe consagraram. Privilegia-se, então, o que ele experimentou como rompimento da Ordem do Mundo, sua emasculação e um recurso inventado e designado por ele como “desenhar”. (Leia mais)


 

Todo mundo é louco

Frederico Zeymer Feu de Carvalho

Texto de explicitação do aforismo lacaniano “todo mundo é louco”, tema do congresso da Associação Mundial de Psicanálise de 2024, destacando seu contexto de enunciação, ligado ao impossível de se ensinar, e o último ensino de Lacan, do qual esse aforismo é uma bússola. (Leia mais)


 

O ordinário do gozo, fundamento da nova clínica do delírio

Dominique Laurent

A norma neurótica é uma falsa evidência imposta na história do patriarcado. As normas se dizem no plural, proliferam, ao passo que a lei se diz no singular. É preciso compreender que a metáfora paterna nunca é inteiramente realizada, a fim de irmos além do binarismo neurose e psicose. O conceito de sinthoma, nesse sentido, constituiu um avanço na clínica “inclassificável”, ou seja, na clínica da psicose ordinária. (Leia mais)


 

“Folitiquement” incorreto

Pascale Fari

O significante “loucura” não é mais admissível em psiquiatria. O psiquismo tem sido apagado, o qualificativo “mental” se tornou uma relíquia incômoda e o que permanece é simplesmente “a doença”. Diante do sufixo-mestre atual, neuro, o essencial não é mais o que o paciente tem a dizer, mas sim que ele engula a coisa. O cérebro é o objeto primordial dessa doença, a máquina é seu modelo original. É a psicanálise que, por sustentar a dimensão da subjetividade, constitui o obstáculo maior à redução da loucura a um distúrbio orgânico. (Leia mais)


 

Clínica psicanalítica do delírio

Laurent Dupont

Em a “Clínica psicanalítica do delírio”, Laurent Dupont parte das considerações freudianas sobre o delírio no caso Schreber e, ao longo do texto, propõe ler o todo mundo é louco lacaniano como uma tentativa de cura diante do real. Ao retomar as três etapas da construção do delírio, Dupont lança luz sobre o papel do narcisismo e da sublimação nesse processo. Nesse sentido, a tese lacaniana do delírio generalizado aponta, segundo o autor, para uma tentativa de trazer um significante de volta ao furo: “tudo o que o homem constrói, inventa, pensa é uma forma de lidar, de compensar este furo fundamental da não relação sexual”. (Leia mais)

ENTREVISTA

Almanaque on-line entrevista Sérgio de Campos

No final do volume 2 de seu livro Investigações lacanianas sobre as psicoses – volume este intitulado “As psicoses ordinárias” (CAMPOS, 2022a) – você cita Lacan quando ele afirma, a propósito da religião, que a psicanálise não triunfará: ela sobreviverá ou não. Podemos ampliar a questão da sobrevivência da psicanálise no que diz respeito ao que temos nos dedicado, atualmente, no Campo Freudiano, a saber, à problemática da despatologização… (Leia mais)

ENCONTROS

A despatologização lacaniana e a outra

Francesca Biagi-Chai

A autora examina a concepção de despatologização, apresentando os argumentos que justificam a oposição já apresentada no título do texto: a lacaniana e a outra. Se a autora afirma que a instituição lacaniana despatologiza, é porque está concebida segundo a topologia moebiana, regida pelo discurso e pela clínica. A despatologização “selvagem” permite equivaler “o sentimento de cada pessoa” à sua realidade e essa deve, portanto, ser reconhecida como tal. Evidencia-se, assim, a evacuação do inconsciente e, igualmente, do sintoma. (Leia mais) 


Despatologização ou desmedicalização: a forclusão do sintoma

Philippe la Sagna

Após a crise do DSM5 e o surgimento fulgurante do Research Domain Criteria (RDoC) na clínica, o modelo de patologia para as doenças mentais se tornou um “transtorno” e se enfraqueceu. Nessa nova situação, o referente passa a ser os circuitos neuronais associados aos comportamentos que são isolados em áreas. Um dos efeitos principais e lógicos disso é a despatologização e a desmedicalização com o apagamento da terapêutica. Hoje, educamos, reabilitamos e visamos o poder de agir, o empoderamento, e realizamos, assim, uma forclusão do sintoma tão caro à psicanálise, que não visa o seu apagamento, mas sim aquilo que o sujeito sabe fazer com ele. (Leia mais)

PRELÚDIOS

O método psicanalítico: de Freud a Lacan e retorno

Paula Pimenta

Este artigo se propõe a apresentar em detalhes o texto de Miller (1997), intitulado “O método psicanalítico”, e o texto quase homônimo de Freud (1904[1905]/2017), intitulado “O método psicanalítico freudiano”. O percurso a ser feito partirá do texto de Freud, passando pelo de Miller e retornando ao de Freud com a intenção de promover uma interlocução entre eles. (Leia mais)


Uma leitura do texto freudiano “Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico”

Cristiana Pittella

A partir de uma leitura de orientação lacaniana do texto em que Freud procura transmitir o método psicanalítico, depreende-se a importância da formação do psicanalista para aqueles que querem se lançar na prática da psicanálise. (Leia mais)


 

Inventar a própria maneira de ler

Márcia Mezêncio

Este artigo traz a leitura, a contextualização e o comentário acerca do artigo de Freud intitulado “Sobre o início do tratamento”, publicado em 1913 na série que ficou conhecida como Escritos técnicos, e desdobra algumas reflexões sobre a transmissão do saber em psicanálise, remetidas ao momento atual. (Leia mais)


 

Uma introdução ao amor transferencial

Renata Mendonça

Este artigo apresenta uma releitura de “Observações sobre o amor transferencial” (1915[1914]) para abordar as indicações de Freud sobre o método psicanalítico, incluindo no debate também alguns autores de nossa época, como Lacan e Miller, mostrando o quanto o texto freudiano é contemporâneo e necessário à clínica psicanalítica. (Leia mais)


 

Lembrar, repetir, perlaborar

Lucia Maria de Lima Mello

A autora comenta o texto de Freud “Lembrar, repetir, perlaborar”, de 1914, à luz das modificações apresentadas pelo diálogo com Lacan em 1964 como um suporte para uma releitura a partir do Seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Alguns fragmentos clínicos ilustram aspectos da contribuição lacaniana para a pesquisa. (Leia mais) 


 

Do sentido à satisfação do sintoma

Kátia Mariás

O texto aborda as Conferências XVII e XXIII de Freud sobre o sentido dos sintomas e sobre os caminhos da formação dos sintomas. Nessas conferências, ao partir do sentido – Sinn – para a significação, a referência – a Bedeutung –, Freud vai do sentido ao gozo do sintoma. (Leia mais)


 

Construções e reminiscências

Luciana Silviano Brandão

A autora faz um percurso ao longo do texto “Construções em análise”, trabalha os conceitos de recordações ultranítidas, verdade histórica, rememoração e reminiscência. Sua hipótese é a de que a verdade histórica se equipara conceitualmente à reminiscência. (Leia mais)

PÓLIS

A escola, o instituto e a ética das consequências – Conferência proferida na atividade Para que serve o Instituto? – abril/2023

Jésus Santiago

No presente texto, o autor apresenta a forma de funcionamento da Escola e do Instituto a partir da ideia de que o princípio de orientação para a prática clínica é o mesmo que para a prática institucional dedicada à formação analítica. O modo como a psicanálise apreende as coisas do mundo diz mais de uma dimensão ética do que propriamente epistêmica – trata-se de uma dimensão ética que se deduz do fato de que não há uma teoria do inconsciente sem uma prática que seja capaz de acolher a experiência do inconsciente. O autor, faz, então, uma leitura sobre os ambientes psicanalíticos contemporâneos e sobre a diferença entre a Escola e o Instituto. (Leia mais)

INCURSÕES

Os neodesencadeamentos: entre discrição e exuberância nas psicoses  

Sérgio de Castro

O autor percorre momentos distintos de ensino de Lacan para abordar o desencadeamento nas psicoses partindo de sua concepção forjada no período estruturalista desse ensino e determinada pela ausência da metáfora paterna para, em seguida, examinar o outro modo pelo qual as psicoses e os seus desencadeamentos se apresentam com maior frequência na contemporaneidade. (Leia mais)


 

O objeto a como bússola em tempos de delírios familiares  

Alejandra Glaze

Em sua investigação sobre a particularidade dos delírios familiares atuais, a autora toma como ponta de partida a localização de um delírio ligado a um imaginário desenfreado que, por essa razão mesmo, é profundamente uniformizante e invasivo para a criança. E aponta como a psicanálise pode se valer de uma outra perspectiva de reconfiguração das famílias tomando como referência o objeto a, por natureza antinômico aos atuais estilos de vida traçados com a marca do universal. (Leia mais)


 

Alocução sobre as psicoses na infância: uma leitura do texto lacaniano

Tereza Facury

A autora faz uma leitura comentada do texto de Lacan “Alocução sobre as psicoses na infância”, de 1967, no qual ele nos adverte de que há uma segregação que se amplia como efeito da progressão da ciência. Ele se antecipa aos acontecimentos que hoje presenciamos, como a segregação, o racismo e a regulação pela norma que não dá lugar à exceção, temas que nos interessam especialmente no caso das crianças as quais atendemos. (Leia mais)


 

A criança, seus delírios e os delírios de seus pais

Suzana Faleiro Barroso

A partir da noção de delírio generalizado, o texto discute a questão da especificidade do delírio na psicose infantil. Segundo o comentário de fragmentos da clínica, verifica-se, numa infância paranoica, diferentes modos de tratamento do gozo sem o Nome-do-Pai. (Leia mais)


 

Supereu solúvel no álcool? 

Miguel Antunes 

A partir da proposta de “retorno aos clássicos”, feita pelo Núcleo de Investigação e Pesquisa nas Toxicomanias e Alcoolismo, o texto propõe comentar a famosa frase “o supereu alcóolico é solúvel no álcool”. Para tal, será trabalhado o conceito de supereu tanto em Freud como em Lacan, indo além do “herdeiro de complexo de Édipo” em direção ao seu imperativo de gozo. (Leia mais)

DE UMA NOVA GERAÇÃO

A neurose obsessiva ao redor do cheiro do ralo 

Paulo Henrique Assunção Rocha 

No romance O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli, um homem sem nome, dono de uma loja de penhores, passa a ser assombrado pelo cheiro fétido que sai do ralo do banheiro do seu trabalho, ao mesmo tempo em que fica obcecado pelas nádegas da atendente da lanchonete que frequenta diariamente. É ao redor dessa trama que abordaremos aspectos significativos da neurose obsessiva, como sua posição em dívida em relação ao pai, os objetos em série, a relação entre o objeto anal e o olhar, a repetição, a postergação e o deslizamento metonímico dos pensamentos compulsivos. (Leia mais)


 

Psicose ordinária: paradigma da clínica contemporânea?

Edwiges de Oliveira Neves

Há um consenso entre os analistas de que os sujeitos hipermodernos se apresentam na clínica um tanto refratários aos moldes de intervenção tradicionais, de uma clínica psicanalítica interpretativa, que tinha o Édipo como teoria central. Com a queda dos ideais, a transferência não opera da mesma forma, e os sintomas, não mais interpretáveis, vêm rotulados como distúrbios. Em tempos em que o Outro não existe, os sujeitos podem encontrar outras maneiras de se estabilizarem e de fazerem laço social para além do Nome-do-Pai. Nesse sentido, nos questionamos: como a psicose ordinária pode contribuir para a clínica contemporânea? (Leia mais)


 

Do dom de Mauss ao inominável da pulsão

Laydiane Pereira de Matos

Este artigo visa revisitar as bases do conceito de dom na teoria de Marcel Mauss e articular sua lógica com a transmissão de Freud e Lacan acerca da teoria de objeto. Para isso, contrasta a utilidade desse conceito na estruturação da primeira clínica lacaniana com sua discordância fundamental, que reside na impossibilidade da determinação significante propiciada pelo acesso ao simbólico em conseguir abarcar o real da pulsão, posto que seu caráter é sempre casuístico, utilizando-se do conceito de assentimento para sustentar tal argumento. (Leia mais)




Almanaque On-line – Março/2024 – Nº 32

 ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO
ISSN 1982-5617

EDITORIAL

Patrícia Ribeiro

Esta edição da Almanaque On-line traz um desdobramento do número anterior, quando o foco da pesquisa do IPSM-MG, em consonância com os temas do XIV Congresso da AMP e da 26ª Jornada da EBP-MG, foi o de explorar o aforismo lacaniano “todo mundo é louco, ou seja, delirante”. Tal loucura se define pela crença em um Outro que, ainda que não exista, protege o ser falante daquilo que é insuportável no real. (Leia mais)

TRILHAMENTOS

UMA EXPERIÊNCIA DE SORTE – SÉRGIO DE MATTOS

Estou honrado pelo convite de ser o responsável por esta atividade que é a aula inaugural do instituto IPSM-MG. Agradeço em especial à Lilany e à Diretoria pelo convite. Essa atividade inaugura o começo dos nossos trabalhos do segundo semestre deste ano. Inaugurar e começar são praticamente sinônimos. Entretanto, a palavra “começar” nos remete a uma continuidade, por isso falamos de começar a analisar-se, e não em inaugurar uma análise. Inauguro, assim, o começo das atividades do Instituto com o assunto que ocupará nossa atenção no X ENAPOL, cujo título é “Começar a analisar-se”.  Esse título foi escolhido com cuidado pela sua importância clínica… (Leia mais)


 

A CLÍNICA NA ERA DO REAL – ESTHELA SOLANO-SUAREZ

A clínica psicanalítica não é uma clínica do comportamento, nem de seus transtornos. Ela não se confunde com uma visada educativa que se declina segundo os critérios em conformidade com uma “norma”. Ela não se limita a um puro formalismo prático, que quer explicar aquilo que se faz ou que não se faz (LACAN, 1955/1998, p. 326). A clínica psicanalítica não se encontra em nenhum outro lugar a não ser “no que se diz em uma análise” (LACAN, 1977, p. 7, tradução nossa). Não é, portanto, uma clínica do fazer, mas uma clínica na qual o dito se renova não por uma realidade factual, mas por sua relação com o dizer. (Leia mais)


 

O ATO DE LEITURA EM PSICANÁLISE – RAM MANDIL

O que pode ser o ato analítico na época dos protocolos e das diretrizes terapêuticas, em que a ação ideal consiste em reduzir, ao mínimo, toda possibilidade de imprevisto? Como observa Éric Laurent, trata-se de um ”ideal de ação calculada”, na medida em que um ato é concebido como assimilável ao raciocínio, como a conclusão lógica das suas premissas. Ele nos lembra que vivemos a era da gestão como modelo da ação, como cálculo de proveitos e codificação das escolhas, em nome do bem-estar individual ou coletivo. Nesse sentido, é importante colocar o ato analítico em perspectiva, numa época em que se busca tamponar os encontros, cada vez mais frequentes, com a inconsistência do Outro. Assim, podemos dizer que há uma foraclusão do ato em muitos domínios de nossa cultura que envolvem a tomada de decisões, quando se manifesta uma descontinuidade entre o ato e suas premissas. (Leia mais)

ENTREVISTA

ALMANAQUE ON-LINE 32 ENTREVISTA OSCAR VENTURA

Almanaque On-line: Em seu texto “Quando um sonho desperta Um corpo”,  há um ensinamento em que clareza e beleza se combinam em uma transmissão. Cito abaixo a frase em questão, e peço que nos fale como o analista pode chegar a esse ponto de “precisão” que você disse e que marca a fineza de uma clínica lacaniana.. (Leia mais)

ENCONTROS

CINCO TESES SOBRE AS NÚPCIAS DO DICO E DO NEURO – HERVÉ CASTANET

Uma tese invade hoje a episteme e pretende fazer a separação entre o que é clínico e o que não é. Orientados pela psicanálise, é necessário esfregar os olhos para perceber o que tem sido bombardeado: o cérebro é uma máquina – à maneira sofisticada de Turing – de processar informações. É o órgão no qual reside toda causalidade dita mental.

O mental aí se reduz ao neuronal, e o inconsciente, que nada tem a ver com aquele de Freud e de Lacan, pode ser aceito com a condição de que seja provido de córtex. Querer enlaçar traço sináptico e traço psíquico, ainda que se referindo ao primeiro Freud, participa desse mesmo empreendimento de naturalização: o inconsciente, sim, mas não sem o neocórtex. (Leia mais)


 

Adeline, uma garotinha reservada – Jacqueline Dhéret

A garotinha de sete anos e meio, que recebi durante dois anos e revi novamente quando esteve em Lyon, me contou suas preocupações. Ela “não sabe como fazer” com seu pai. Ela veio acompanhada pela mãe, que explica a situação insustentável que vem enfrentando há vários anos. O juiz de família encarregado do divórcio dos pais planeja encaminhar o caso ao juiz da infância, porque o pai de Adeline, que se afirma transexual,vive um relacionamento com um companheiro. O juiz esteve com os pais e está reticente em permitir que a criança frequente a casa do pai, que está disposto a continuar a ver sua filha. A criança circula entre pai e mãe e permanece calada. (Leia mais)

PRELÚDIOS

Neurose e psicose: um início de compreensão – Luciana Silviano Brandão

No pequeno texto “Neurose e psicose”, escrito e publicado por Freud em 1924, há, pela primeira vez, a ocorrência do termo “psicose” em um título. Vê-se também a separação entre duas entidades clínicas: neurose e psicose. Vale lembrar que as concepções tratadas aqui são fruto dos avanços do psicanalista em sua elaboração da segunda tópica e, especialmente, depois de “O eu e o isso”, publicado no ano anterior. (Leia mais)


 

Manuscrito H – Elisa Alvarenga

Começo com uma pergunta: a psicose é para Freud uma estrutura, no sentido lacaniano do termo? Abordada inicialmente no quadro das “Neuropsicoses de defesa”, a psicose é vista como uma maneira específica de defesa, e como tal distinta da neurose. Freud se interessa num primeiro momento pelas psicoses, no plural, pois ele distingue diversas maneiras de enfrentar realidades penosas, no sentido de representações inconciliáveis com o eu. O mecanismo do recalque já está então no centro do problema. (Leia mais)


 

Constituição e perda do campo da realidade – Kátia Mariás

Para Freud, a condição para que a realidade seja constituída é que algo seja subtraído ao sujeito, funcionando como índice de uma realidade externa. É esse vazio subjetivo que organiza e corrige o mundo interno.

O campo da realidade não é dado a priori, precisa ser construído, pois não depende da percepção do objeto, não diz respeito a nenhuma realidade exterior, mas refere-se ao objeto perdido. (Leia mais)


 

Comunicação de um caso de paranoia que contradiz a teoria psicanalítica – Lucia Mello

Comentar o ensaio clínico de 1915 intitulado “Comunicação de um caso de paranoia que contradiz a teoria psicanalítica” provoca surpresa desde seu título, acarreta indagações diversas sobre o tema da paranoia, conduz às conexões, releituras com outros textos e tanto amplia quanto demonstra o trabalho de Freud seguindo as implicações do sujeito como categoria operatória na trama dos elementos que constituem sua história. (Leia mais)

INCURSÕES

Diferentes usos da droga – Marcelo Quintão

O conceito de toxicomania é uma criação recente e sua importância, seu lugar e seu papel estão em constante evolução, na medida em que se modificam as configurações da subjetividade contemporânea, a cada tempo. Trabalhamos aqui o caso de um paciente atendido na rede pública de BH à luz do trabalho de Fabián Naparstek (2015, 2018) no qual ele nos apresenta, numa articulação com outros conceitos, um percurso histórico e teórico a respeito da presença das drogas em nossa civilização. (Leia mais)


 

O historiador do detalhe: articulações entre sonho e acontecimento de corpo – Ana Sanders

Em 1936, o filósofo judeu alemão Walter Benjamin (1936/1987), ao localizar o silêncio sintomático dos combatentes que retornaram do campo de batalha da Primeira Guerra Mundial, elabora sua célebre formulação, em seu ensaio “Experiência e Pobreza”, afirmando que a arte de narrar histórias e de compartilhar experiências estaria em declínio. Diante do excesso vivenciado nas trincheiras, os combatentes voltavam mudos e empobrecidos na capacidade de transmitir, através da fala, algo dessa experiência. Tal experiência já havia sido apontada por Freud ao escrever sobre as neuroses de guerra, em 1918, as quais, diferentemente da lógica da neurose de transferência, corresponderiam a uma neurose traumática. Assim, o excesso de uma vivência pulsional não seria sem consequências para os processos psíquicos, apontando, dessa forma, o fundamento dessa neurose na fixação no acontecimento traumático. (Leia mais)


 

Elucidações sobre acontecimento de corpo e o sonho do “Historiador do Detalhe”, de Carolina Koretzky – Paula Pimenta

O caso do “historiador do detalhe”, apresentado por Carolina Koretzky, é precioso para revelar a função do sonho na psicose, ao que se acrescenta o modo como irrompe o chamado “acontecimento de corpo”. Em seu texto “O historiador do detalhe: articulações entre sonho e acontecimento de corpo”, Ana Sanders especifica sobre a montagem do sonho, para Freud e para Lacan, e descreve o sonho do pequeno Matéo, de oito anos, que lhe serve para “seguir dormindo, com os olhos bem abertos”. (Leia mais)


 

Será que o racismo mata? – Mônica Campos

Queria começar com o título proposto: será que o racismo mata? Sim, mata! Vemos todos os dias. Mas sugiro aqui dizer que, subjetivamente, há a mortificação do sujeito por práticas racistas.

Não ser racista é algo importante, para que não se reproduza indefinidamente a domesticação da qual se provém. Osvald de Andrade (2009, p. 282), ao falar sobre o preconceito, dispara: “os otários se reeducam”. Neste sentido, nos valemos ainda de Neusa Santos Souza (2021), que indica que, no discurso analítico, cada negro em particular vai elaborar suas questões “que lhe dê feições próprias” (Souza, 2021). Me parece que é fundamental essa colocação de Neusa, de cada um… isso não retira os efeitos mortíferos, nefastos do racismo, mas, de saída, não elimina o que há de singular e a possível mudança de posição. (Leia mais)


 

O microfone mudo e o psicanalista de chinelo: intervenção no Ateliê de Pesquisa em Psicanálise e Segregação – Lilany Pacheco

Agradeço o convite para estar aqui, hoje, nesta atividade do Ateliê de Pesquisa em Psicanálise e Segregação, neste momento de concluir os trabalhos sobre o tema Racismo e sistema de justiça: como a Psicanálise contribui nesse debate? e, quem sabe, abrir perspectivas para investigações futuras.

Na atividade de abertura das atividades do Ateliê em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Direito – que girou em torno da seguinte pergunta: “Ser vítima ou réu, na sua relação com o sistema de justiça, faz diferença na forma de tratamento destinada a esses sujeitos?” –, dois aspectos me chamaram a atenção, além daquele já destacado durante o semestre: a fala de Jésus Santiago, de que é preciso furar o discurso do mestre, e duas pontuações do convidado Felipe Mata Machado, procurador do Distrito Federal, uma sobre o não dito e, outra, quando ele se refere às vestes dos juízes, indicando que, em um julgamento, os juízes não podem estar de chinelo. Me recordo de ter pensado: então eles não acreditam no semblante? Em conversas posteriores, Jésus Santiago lembrou que, no escrito sobre a criminologia, Lacan ressalta exatamente o contrário: os profissionais do Direito são ciosos do semblante, levam à sério demais o parecer ser. E eu pensei: o analista pode estar de chinelo! (Leia mais)


 

Eutanásia: entre demanda e desejo – Araceli Teixidó

Este texto realiza-se a partir de minhas próprias elaborações, mas não seria possível sem as elaborações de outros que pesquisaram comigo, especialmente psicanalistas da ELP e da AMP, mas também médicos e outros profissionais da área da saúde que caminham  conosco neste terreno incerto que é a fronteira entre a psicanálise e a medicina.

A ciência alcançou avanços que levam a vida mais além do que seria desejável. Para vidas que podem não ser desejáveis. Isso abre para a decisão de ter que frear a deriva, parar o processo terapêutico, para não chegar a esses extremos em que prolongar a vida não faz sentido. Isto tem sido trabalhado pelo Estado espanhol há anos e algumas fórmulas foram alcançadas para limitar a violência terapêutica. Essas vias eram legais, porque a morte era causada pela doença, mesmo quando ocorria por recusa do paciente em receber a medicação eficaz. Tanto a eutanásia, quanto o suicídio assistido, eram puníveis. Os casos que foram regulamentados com a nova lei são aqueles em que é solicitada a intervenção de um profissional para poder morrer, sem que o paciente se encontre em estado agonizante ou terminal. (Leia mais)

DE UMA NOVA GERAÇÃO

O lugar do analista na interpretação – Ana Menezes

Na atualidade, somos confrontados de forma massiva com terapias que se alinham a noções como as de um “eu consciente de si”, de “controle de emoções” e de outros ideais que se centram na pretensão da reeducação de comportamentos. Esses imperativos, aliados ao discurso capitalista, lançam sobre a relação “terapeuta-cliente”, como é nomeada, lógicas que se remetem à intersubjetividade e à dialogicidade, sustentadas pela crença em uma comunicação inequívoca: ao ensinar, se aprende; ao escutar, se entende. (Leia mais)


 

Corpos (des) amarrados – Sílvia Coutinho

Circulando em um shopping center, notei a instalação de uma clínica de estética. Na entrada, observo a seguinte pergunta: “o que te incomoda hoje?” – uma interrogação que convida as pessoas a se depararem com seus incômodos no corpo e se dirigirem a esse local que faz a oferta das supostas soluções. Dessa forma, esse estabelecimento, estruturado para a venda de bens materiais ou serviços como cinema, atrações de lazer, agência de viagem e loja de câmbio, amplia a oferta em relação ao corpo, para além das vestimentas. As academias já são vistas, há muitos anos, como local de prática de exercícios e espaço de saúde. Agora, as portas são abertas para essas clínicas de estética, que instigam o olhar do sujeito para sua imagem, sua adequação em relação ao império da beleza e ofertam seus serviços enquanto as pessoas circulam nesse ambiente, já que, na lógica do mercado de consumo, não há espaço para pensar, refletir, fazer escolhas, prescindir. (Leia mais)




Almanaque On-line – Agosto/2023 – Nº 31

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

Giselle Moreira

Apresentamos a 31ª edição da revista Almanaque On-line, que tem como eixo temático “A clínica universal do delírio”, em consonância com o argumento da próxima Jornada da EBP-MG – O que há de novo nas psicoses… ainda – e do Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, que acontecerá em fevereiro de 2024 sob o título Todo mundo é louco.

Os textos que compõem esta edição marcam um contraponto a uma perspectiva despatologizante que busca eliminar o real do sinthoma. A clínica universal do delírio configura, por sua vez, uma orientação política da psicanálise e parte da leitura lacaniana de que os discursos não são mais que defesas contra o real, o que permite deduzir, nesse caso, que ninguém é normal: “todo mundo é louco, ou seja, delirante” (LACAN, 1978/2010, p. 31).  (Leia mais)

TRILHAMENTOS

Schreber, ainda contemporâneo

Sérgio Laia

Este texto procura demonstrar a contemporaneidade do relato publicado por Schreber sobre sua “doença dos nervos”, bem como da leitura que Freud e Lacan lhe consagraram. Privilegia-se, então, o que ele experimentou como rompimento da Ordem do Mundo, sua emasculação e um recurso inventado e designado por ele como “desenhar”. (Leia mais)


 

Todo mundo é louco

Frederico Zeymer Feu de Carvalho

Texto de explicitação do aforismo lacaniano “todo mundo é louco”, tema do congresso da Associação Mundial de Psicanálise de 2024, destacando seu contexto de enunciação, ligado ao impossível de se ensinar, e o último ensino de Lacan, do qual esse aforismo é uma bússola. (Leia mais)


 

O ordinário do gozo, fundamento da nova clínica do delírio

Dominique Laurent

A norma neurótica é uma falsa evidência imposta na história do patriarcado. As normas se dizem no plural, proliferam, ao passo que a lei se diz no singular. É preciso compreender que a metáfora paterna nunca é inteiramente realizada, a fim de irmos além do binarismo neurose e psicose. O conceito de sinthoma, nesse sentido, constituiu um avanço na clínica “inclassificável”, ou seja, na clínica da psicose ordinária. (Leia mais)


 

“Folitiquement” incorreto

Pascale Fari

O significante “loucura” não é mais admissível em psiquiatria. O psiquismo tem sido apagado, o qualificativo “mental” se tornou uma relíquia incômoda e o que permanece é simplesmente “a doença”. Diante do sufixo-mestre atual, neuro, o essencial não é mais o que o paciente tem a dizer, mas sim que ele engula a coisa. O cérebro é o objeto primordial dessa doença, a máquina é seu modelo original. É a psicanálise que, por sustentar a dimensão da subjetividade, constitui o obstáculo maior à redução da loucura a um distúrbio orgânico. (Leia mais)


 

Clínica psicanalítica do delírio

Laurent Dupont

Em a “Clínica psicanalítica do delírio”, Laurent Dupont parte das considerações freudianas sobre o delírio no caso Schreber e, ao longo do texto, propõe ler o todo mundo é louco lacaniano como uma tentativa de cura diante do real. Ao retomar as três etapas da construção do delírio, Dupont lança luz sobre o papel do narcisismo e da sublimação nesse processo. Nesse sentido, a tese lacaniana do delírio generalizado aponta, segundo o autor, para uma tentativa de trazer um significante de volta ao furo: “tudo o que o homem constrói, inventa, pensa é uma forma de lidar, de compensar este furo fundamental da não relação sexual”. (Leia mais)

ENTREVISTA

Almanaque on-line entrevista Sérgio de Campos

No final do volume 2 de seu livro Investigações lacanianas sobre as psicoses – volume este intitulado “As psicoses ordinárias” (CAMPOS, 2022a) – você cita Lacan quando ele afirma, a propósito da religião, que a psicanálise não triunfará: ela sobreviverá ou não. Podemos ampliar a questão da sobrevivência da psicanálise no que diz respeito ao que temos nos dedicado, atualmente, no Campo Freudiano, a saber, à problemática da despatologização… (Leia mais)

ENCONTROS

A despatologização lacaniana e a outra

Francesca Biagi-Chai

A autora examina a concepção de despatologização, apresentando os argumentos que justificam a oposição já apresentada no título do texto: a lacaniana e a outra. Se a autora afirma que a instituição lacaniana despatologiza, é porque está concebida segundo a topologia moebiana, regida pelo discurso e pela clínica. A despatologização “selvagem” permite equivaler “o sentimento de cada pessoa” à sua realidade e essa deve, portanto, ser reconhecida como tal. Evidencia-se, assim, a evacuação do inconsciente e, igualmente, do sintoma. (Leia mais) 


Despatologização ou desmedicalização: a forclusão do sintoma

Philippe la Sagna

Após a crise do DSM5 e o surgimento fulgurante do Research Domain Criteria (RDoC) na clínica, o modelo de patologia para as doenças mentais se tornou um “transtorno” e se enfraqueceu. Nessa nova situação, o referente passa a ser os circuitos neuronais associados aos comportamentos que são isolados em áreas. Um dos efeitos principais e lógicos disso é a despatologização e a desmedicalização com o apagamento da terapêutica. Hoje, educamos, reabilitamos e visamos o poder de agir, o empoderamento, e realizamos, assim, uma forclusão do sintoma tão caro à psicanálise, que não visa o seu apagamento, mas sim aquilo que o sujeito sabe fazer com ele. (Leia mais)

PRELÚDIOS

O método psicanalítico: de Freud a Lacan e retorno

Paula Pimenta

Este artigo se propõe a apresentar em detalhes o texto de Miller (1997), intitulado “O método psicanalítico”, e o texto quase homônimo de Freud (1904[1905]/2017), intitulado “O método psicanalítico freudiano”. O percurso a ser feito partirá do texto de Freud, passando pelo de Miller e retornando ao de Freud com a intenção de promover uma interlocução entre eles. (Leia mais)


Uma leitura do texto freudiano “Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico”

Cristiana Pittella

A partir de uma leitura de orientação lacaniana do texto em que Freud procura transmitir o método psicanalítico, depreende-se a importância da formação do psicanalista para aqueles que querem se lançar na prática da psicanálise. (Leia mais)


 

Inventar a própria maneira de ler

Márcia Mezêncio

Este artigo traz a leitura, a contextualização e o comentário acerca do artigo de Freud intitulado “Sobre o início do tratamento”, publicado em 1913 na série que ficou conhecida como Escritos técnicos, e desdobra algumas reflexões sobre a transmissão do saber em psicanálise, remetidas ao momento atual. (Leia mais)


 

Uma introdução ao amor transferencial

Renata Mendonça

Este artigo apresenta uma releitura de “Observações sobre o amor transferencial” (1915[1914]) para abordar as indicações de Freud sobre o método psicanalítico, incluindo no debate também alguns autores de nossa época, como Lacan e Miller, mostrando o quanto o texto freudiano é contemporâneo e necessário à clínica psicanalítica. (Leia mais)


 

Lembrar, repetir, perlaborar

Lucia Maria de Lima Mello

A autora comenta o texto de Freud “Lembrar, repetir, perlaborar”, de 1914, à luz das modificações apresentadas pelo diálogo com Lacan em 1964 como um suporte para uma releitura a partir do Seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Alguns fragmentos clínicos ilustram aspectos da contribuição lacaniana para a pesquisa. (Leia mais) 


 

Do sentido à satisfação do sintoma

Kátia Mariás

O texto aborda as Conferências XVII e XXIII de Freud sobre o sentido dos sintomas e sobre os caminhos da formação dos sintomas. Nessas conferências, ao partir do sentido – Sinn – para a significação, a referência – a Bedeutung –, Freud vai do sentido ao gozo do sintoma. (Leia mais)


 

Construções e reminiscências

Luciana Silviano Brandão

A autora faz um percurso ao longo do texto “Construções em análise”, trabalha os conceitos de recordações ultranítidas, verdade histórica, rememoração e reminiscência. Sua hipótese é a de que a verdade histórica se equipara conceitualmente à reminiscência. (Leia mais)

PÓLIS

A escola, o instituto e a ética das consequências – Conferência proferida na atividade Para que serve o Instituto? – abril/2023

Jésus Santiago

No presente texto, o autor apresenta a forma de funcionamento da Escola e do Instituto a partir da ideia de que o princípio de orientação para a prática clínica é o mesmo que para a prática institucional dedicada à formação analítica. O modo como a psicanálise apreende as coisas do mundo diz mais de uma dimensão ética do que propriamente epistêmica – trata-se de uma dimensão ética que se deduz do fato de que não há uma teoria do inconsciente sem uma prática que seja capaz de acolher a experiência do inconsciente. O autor, faz, então, uma leitura sobre os ambientes psicanalíticos contemporâneos e sobre a diferença entre a Escola e o Instituto. (Leia mais)

INCURSÕES

Os neodesencadeamentos: entre discrição e exuberância nas psicoses  

Sérgio de Castro

O autor percorre momentos distintos de ensino de Lacan para abordar o desencadeamento nas psicoses partindo de sua concepção forjada no período estruturalista desse ensino e determinada pela ausência da metáfora paterna para, em seguida, examinar o outro modo pelo qual as psicoses e os seus desencadeamentos se apresentam com maior frequência na contemporaneidade. (Leia mais)


 

O objeto a como bússola em tempos de delírios familiares  

Alejandra Glaze

Em sua investigação sobre a particularidade dos delírios familiares atuais, a autora toma como ponta de partida a localização de um delírio ligado a um imaginário desenfreado que, por essa razão mesmo, é profundamente uniformizante e invasivo para a criança. E aponta como a psicanálise pode se valer de uma outra perspectiva de reconfiguração das famílias tomando como referência o objeto a, por natureza antinômico aos atuais estilos de vida traçados com a marca do universal. (Leia mais)


 

Alocução sobre as psicoses na infância: uma leitura do texto lacaniano

Tereza Facury

A autora faz uma leitura comentada do texto de Lacan “Alocução sobre as psicoses na infância”, de 1967, no qual ele nos adverte de que há uma segregação que se amplia como efeito da progressão da ciência. Ele se antecipa aos acontecimentos que hoje presenciamos, como a segregação, o racismo e a regulação pela norma que não dá lugar à exceção, temas que nos interessam especialmente no caso das crianças as quais atendemos. (Leia mais)


 

A criança, seus delírios e os delírios de seus pais

Suzana Faleiro Barroso

A partir da noção de delírio generalizado, o texto discute a questão da especificidade do delírio na psicose infantil. Segundo o comentário de fragmentos da clínica, verifica-se, numa infância paranoica, diferentes modos de tratamento do gozo sem o Nome-do-Pai. (Leia mais)


 

Supereu solúvel no álcool? 

Miguel Antunes 

A partir da proposta de “retorno aos clássicos”, feita pelo Núcleo de Investigação e Pesquisa nas Toxicomanias e Alcoolismo, o texto propõe comentar a famosa frase “o supereu alcóolico é solúvel no álcool”. Para tal, será trabalhado o conceito de supereu tanto em Freud como em Lacan, indo além do “herdeiro de complexo de Édipo” em direção ao seu imperativo de gozo. (Leia mais)

DE UMA NOVA GERAÇÃO

A neurose obsessiva ao redor do cheiro do ralo 

Paulo Henrique Assunção Rocha 

No romance O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli, um homem sem nome, dono de uma loja de penhores, passa a ser assombrado pelo cheiro fétido que sai do ralo do banheiro do seu trabalho, ao mesmo tempo em que fica obcecado pelas nádegas da atendente da lanchonete que frequenta diariamente. É ao redor dessa trama que abordaremos aspectos significativos da neurose obsessiva, como sua posição em dívida em relação ao pai, os objetos em série, a relação entre o objeto anal e o olhar, a repetição, a postergação e o deslizamento metonímico dos pensamentos compulsivos. (Leia mais)


 

Psicose ordinária: paradigma da clínica contemporânea?

Edwiges de Oliveira Neves

Há um consenso entre os analistas de que os sujeitos hipermodernos se apresentam na clínica um tanto refratários aos moldes de intervenção tradicionais, de uma clínica psicanalítica interpretativa, que tinha o Édipo como teoria central. Com a queda dos ideais, a transferência não opera da mesma forma, e os sintomas, não mais interpretáveis, vêm rotulados como distúrbios. Em tempos em que o Outro não existe, os sujeitos podem encontrar outras maneiras de se estabilizarem e de fazerem laço social para além do Nome-do-Pai. Nesse sentido, nos questionamos: como a psicose ordinária pode contribuir para a clínica contemporânea? (Leia mais)


 

Do dom de Mauss ao inominável da pulsão

Laydiane Pereira de Matos

Este artigo visa revisitar as bases do conceito de dom na teoria de Marcel Mauss e articular sua lógica com a transmissão de Freud e Lacan acerca da teoria de objeto. Para isso, contrasta a utilidade desse conceito na estruturação da primeira clínica lacaniana com sua discordância fundamental, que reside na impossibilidade da determinação significante propiciada pelo acesso ao simbólico em conseguir abarcar o real da pulsão, posto que seu caráter é sempre casuístico, utilizando-se do conceito de assentimento para sustentar tal argumento. (Leia mais)




Almanaque On-line Março/2023 – Nº 30

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

Patrícia Ribeiro

Com este número comemoramos, com muita alegria, a 30ª edição da Almanaque On-line, cujo formato digital se iniciou há pouco mais de 15 anos!Desta vez, norteados pelo tema O encontro com um psicanalista hoje, seus artigos dão testemunho da importância da presença do discurso psicanalítico em nossos dias, face à presença hegemônica de um discurso que impele a um imperativo de gozo, consoante com a sociedade atual de consumo em seu pacto com a ciência. (Leia mais)

TRILHAMENTOS
A urgência do falasser e a presença sutil do analista: qual encontro possível?

Laura Rubião

O texto explora certas nuances do que se pode conceber como “presença do analista” em nossa época, diferenciando-a de algumas concepções tradicionais que evocam o analista como figura neutra, passiva ou desinteressada.  Ao contrário, o analista se faz presente como aquele que escolhe estar ao lado da urgência do falasser e da solução sinthomática de cada um frente ao real do gozo. (Leia mais)


 

A presença real na análise


Gilles Chatenay

A partir dos capítulos XVI, XVII e XVIII do Seminário 8: A transferência, de Jacques Lacan, o texto se propõe a delimitar o que realmente está presente em uma análise sobre a expressão “presença real”. (Leia mais)


 

Tem alguém aí?


Esteban Pikiewicz

O autor percorre os textos de Freud e de Lacan buscando elucidar o que estaria implicado na expressão presença do analista. Ele destaca a ideia inicialmente desenvolvida por Freud sobre o analista como objeto e retomada por Lacan quanto à função do “desejo do analista” e do analista enquanto semblante do objeto a causa de desejo, vinculando a sua presença ao próprio conceito de inconsciente. Porém, acrescenta o autor, trata-se de uma presença real e, nesse sentido, nos reenvia a Lacan para afirmar que há, nesse desejo, algo de impuro. (Leia mais)

ENTREVISTA
Almanaque on-line entrevista 

Margarida Elia Assad

Em seu texto “O impossível e o laço, o analista e a época” (2022), encontramos importantes contribuições. Ao retomar a frase de Lacan “o coletivo não é nada senão o sujeito do individual” (LACAN, 1945/1998, p. 213), você nos adverte que o coletivo não é a soma dos indivíduos. Isso nos leva a indagar sobre um fenômeno de nosso tempo: a adesão crescente a coletivos, não mais sob os moldes da identificação a um ideal comum, mas a partir de um modo próprio de gozo, isto é, de um sintoma articulado ao laço social, tal como esclareceu Miller. (Leia mais)

ENCONTROS
As TCCs e sua tentativa de reduzir o ser falante ao organismo

Margaret Pires do Couto

O artigo discute como a crença na existência de um corpo natural sustenta a tentativa operada pelas Terapias Cognitivas Comportamentais de reduzir o ser falante ao organismo. Trata-se de um corpo que supostamente poderá ser quantificado, domesticado e, portanto, adaptado aos ideais da cultura. Ao contrário disso, a psicanálise nos ensina que um corpo habitável não é um dado biológico. Ele é fruto do choque com a linguagem, lugar do gozo. (Leia mais)


 

Sobre certa presença da psicanálise nas ruas

Clarisse Boechat

Retomo, neste texto, questões que surgiram da experiência de trabalho nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, entre 2012 e 2019, e os ensinamentos que pude extrair daí, destacando especialmente a errância que as ruas me apresentaram como um dos nomes do real do nosso tempo. A partir disso, foi possível localizar e apontar o que, para cada um, funcionava como orientação, assim como sustentar a aposta nos “métodos errantes” daqueles com os quais me encontrei, o que se constituiu como um aprendizado coincidente com o que também encontro na clínica mais tradicional que acontece em meu consultório. A posteriori, depreendeu-se que, seja no consultório, seja nas ruas, a errância parece se apresentar como modalidade de funcionamento privilegiada em tempos nos quais o Nome-do-Pai já não faz mais as vezes de rodovia principal. Na medida em que vivemos em um mundo também errante, os pacientes que nos procuram em nossos consultórios são igualmente tomados por suas próprias errâncias e soluções atípicas, como um sintoma de nossa época. (Leia mais)


 

Modos de presença


Florencia F. C. Shanahan

A autora levanta algumas questões, a partir de sua própria experiência, sobre os modos de presença em uma análise, apontando o lugar fundamental que o atendimento virtual teve para ela. No entanto, questiona se haveria um final de análise caso assim permanecesse. (Leia mais)


 

A presença de Lacan 


Guy De Villers

O autor toma como ponto de partida o seu primeiro encontro com Lacan.  Durante o tempo em que estava dedicado à sua tese, na qual trabalhava a crítica freudiana à filosofia, ouviu Lacan contestar o coração do projeto filosófico: aquele de “tudo compreender”. Enquanto o autor encontrava no texto de Freud uma centralidade da pulsão que também verificava em sua própria experiência, reencontrou ecos disso em uma pergunta de Lacan: “Estou, será que estou presente quando falo com vocês?”. A partir dessa indagação, o autor discute o que a presença de Lacan introduz na prática da psicanálise. (Leia mais)

PRELÚDIOS
Defender-se de uma incompatibilidade na vida representativa 


Virgínia Carvalho

A autora trabalha a noção lacaniana de “des-montar” (déranger) a defesa a partir de uma releitura dos textos de Freud “As neuropsicoses de defesa” (1894) e “Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa” (1896), nos quais localiza a “incompatibilidade na vida representativa” como o ponto chave do qual o sujeito se defende, indicando algumas perspectivas clínicas dessa concepção. (Leia mais)


 

Uma defesa primária  


Cristina Drummond

O texto aborda a importância do conceito de defesa primária como norteador da clínica freudo-lacaniana. Freud situa a noção de defesa em primeiro plano nas psiconeuroses e delineia a própria concepção do funcionamento da vida psíquica, marcando sua oposição em relação aos seus contemporâneos. Desde o texto “Projeto para uma psicologia científica”, a defesa primária é percorrida tanto através da busca por sua origem quanto pela diferenciação entre defesa normal e patológica. Avançando pelo ensino de Lacan, argumenta-se que a defesa diz respeito à dor, ao corpo, e como cada um pode se virar com esse encontro. A partir dessa premissa, esse conceito é apresentado como orientador na direção do tratamento, seja em casos nos quais a formação do sintoma se estrutura pelo recalque e é passível de decifração, permitindo a desmontagem de sentido, seja nos fenômenos de corpo, como as toxicomanias e anorexias, seja quando a desmontagem da defesa faz emergir a pulsão encoberta. A construção pela defesa primária permite buscar, por trás das manifestações sintomáticas, o sujeito do gozo. (Leia mais)


 

O sintoma substituto  


Mônica Campos Silva

O presente artigo visa a tratar o lugar do sintoma como defesa. A partir da diferenciação realizada por Freud entre inibição, sintoma e angústia, é possível observar o funcionamento psíquico em seu aspecto dinâmico, bem como a função do Eu diante das demandas de satisfação. Assim, o sintoma como substituto evidencia tanto sua vertente de verdade como de real, estabelecendo consequências para a clínica e seu manejo(Leia mais)


 

Uma fissura na relação do eu com o mundo exterior  


Cristiana Pittella

A autora faz uma leitura do texto freudiano “Neurose e psicose” (1924), servindo-se da orientação lacaniana. (Leia mais)


 

Perigos e defesas: a análise finita e a infinita  


Luciana Silviano Brandão

O texto acompanha o percurso de Freud sobre o tema do final de análise tendo como referência o artigo “A análise finita e a infinita”, que trouxe desdobramentos importantes na psicanálise. No entanto, Lacan, ao postular a inexistência da relação sexual, desafia a concepção de Freud e abre a possibilidade de um passe de ordem lógica. (Leia mais) 


 

Cisão do eu no processo de defesa — Ichspaltung 


Lucia Mello

Comentário sobre o artigo inacabado de Freud “Uma cisão do Eu — Ichspaltung” orientado pelas leituras de Lacan e Miller sobre o tema, que resultaram em contribuições fundamentais para a atualidade do trabalho clínico. Há, na cura psicanalítica, uma experiência da Spaltung, que atravessa dois grandes momentos do ensino de Lacan, do simbólico ao real, e preserva, nesse percurso, seu elemento de surpresa. (Leia mais)

INCURSÕES
A presença do analista na psicose ordinária  


Sérgio de Campos

Desde as últimas décadas, nos deparamos com casos clínicos que se manifestam sob formas de gozo, cujas manifestações convocam a uma construção diagnóstica não estruturalista. Tendo essas novas formações como casuística principal e sob a perspectiva de uma construção diagnóstica pautada na ética, em argumentos lógicos e baseada em um ponto de vista clínico, este artigo apresenta argumentações sobre a presença do analista na psicose ordinária orientadas pelo esforço de elaboração oriundos do Conciliábulo de Angers, da Conversação de Arcachon e da Convenção de Antibes, que resultou numa atualização dos conceitos de desencadeamento, conversão e transferência no âmbito das psicoses. As noções de neodesencadeamento, neoconversão e neotransferências são apresentadas de maneira a orientar a presença do analista diante das tendências contemporâneas da psicose ordinária, demarcando as diferenças entre estabilização, suplência e sinthoma. (Leia mais)


 

Clínica do funcionamento: a psicose ordinária e a presença do analista  


Fernanda Otoni-Brisset

Na atualidade da experiência analítica nos deparamos com uma plasticidade de casos que, sob transferência, nos exigem um tempo maior para que uma precisão diagnóstica se esclareça, evitando, assim, reduzir a resposta a um simples “sim” ou “não”, presença ou ausência do Nome-do-Pai. Cabe sublinhar que a formulação milleriana designada como “psicose ordinária” não é mais uma categoria clínica, mas, conforme, escreveu Sérgio de Campos: “é um diagnóstico em suspensão, um diagnóstico de parêntese, uma pausa”, que instala um plano de investigação que caminha junto, com a clínica em movimento. Se, para os neuróticos, o Nome-do-Pai faz o nó, no vasto mundo das psicoses outros modos de nós e grampos se apresentam como se fossem um Nome-do-Pai. A lanterna se desloca da querela do diagnóstico para iluminar o real no interior do tratamento; a pergunta se desloca do “o que será que ele é” para “como é que ele funciona”. Não seria aqui que a presença do analista aconteceria na clínica da psicose ordinária? (Leia mais)


 

Os pais traumáticos, a data do trauma e a criança troumatisé


Philippe Lacadée

A criança é, desde suas primeiras relações com o Outro, traumatizada. Lacan forjou o neologismo troumatisme para indicar que o trauma está ligado a uma experiência relacionada ao sem-sentido, ao encontro com um real, enfim, a um furo na compreensão das coisas ou das palavras que recebe do Outro. (Leia mais)


Implicações da criminalização do aborto a partir da psicanálise


Ondina Machado

Em quê implicaria a criminalização do aborto sob o ponto de vista da psicanálise? Se A Mãe existe, sob a perspectiva da norma fálica, e A Mulher não existe, conforme formulado por Lacan, o que é um filho para uma mulher? Considerando que uma mulher não pressupõe um filho, fazer do aborto um crime é fazer com que toda mulher seja A mãe, excluindo o lado não-todo fálico no qual ela também pode se situar. Uma mulher não pode não querer ser mãe? A criminalização do aborto quer punir essa mulher, desconsiderando que o filho não é solução para todas as mulheres. Assim, a criminalização do aborto compromete a assunção do desejo por um filho. Como uma mulher pode assinar esse desejo se for obrigada por lei a ter o filho? (Leia mais)


Toxicomanias◊Adixões  


Ernesto Sinatra
 

Ernesto Sinatra fundamenta as suas razões para a criação do termo adixões, escrito com o X freudiano de fixierung, para ressaltar a marca da fixação singular de satisfação com que cada UM responde ao trauma da não-relação e, assim, diferenciá-lo das generalizações dadas ao termo adições, para o qual toda e qualquer forma de consumo se aplica. Sem abandonar o termo toxicomanias, a proposta do termo adixiones encontra um fundamento ético em que o X aponta para a marca singular do gozo sinthomático de cada Um, que resiste a ser catalogado pela banalização do mercado de consumo com sua fabricação de objetos de gozo que pretende para todos o mesmo. O X marca a singularidade do gozo e a responsabilidade subjetiva pela própria satisfação. Dessa forma, Sinatra aponta que a psicanálise oferece a possibilidade de interrogar a alienação de cada Um aos objetos que intoxicaram sua existência. Nessa clínica, o singular é a bússola que cabe ao analista seguir. (Leia mais)


 

Um corpo de angu

Nathália Temponi Natal e Cláudia Reis 

Este escrito se constituiu a partir de uma apresentação na Seção Clínica do Núcleo de Investigação e Pesquisa em Psicanálise nas Toxicomanias e Alcoolismo, na qual Nathália foi a responsável pela escrita do caso clínico e, Cláudia, pelos comentários. Nosso campo de interesse foi investigar a relação que um sujeito pode manter com uma substância tóxica e a posição do analista na condução do caso clínico, e, em consequência, verificar os efeitos desse encontro. (Leia mais)


Algoritmos, protocolos e conteúdos patrocinados: uma combinação problemática na clínica com crianças e adolescentes 


Sílvia Reis Soares 

A psicanálise com crianças e adolescentes tem apresentado diversos atravessamentos a partir da incidência da tecnologia, da internet e das redes sociais. Investiga-se aqui a implicação do analista nesse contexto, tendo em vista a mudança da relação com o saber, que já não passa mais pela suposição ao Outro. (Leia mais)


O grito silencioso: o corpo da criança na clínica da civilização 


Alessandra Thomaz Rocha

O texto trata da questão do grito silencioso a partir do acontecimento de corpo político na perspectiva da clínica psicanalítica com crianças. Para isso, a autora aborda a questão do grito em Lacan e localiza a questão do silêncio e sua importância na psicanálise. Articula-os um ao outro e à clínica do falasser a partir do acontecimento de corpo político, considerando que não há clínica do sujeito sem clínica da civilização. (Leia mais)

 

 

INCURSÕES

Os neodesencadeamentos: entre discrição e exuberância nas psicoses  

Sérgio de Castro

O autor percorre momentos distintos de ensino de Lacan para abordar o desencadeamento nas psicoses partindo de sua concepção forjada no período estruturalista desse ensino e determinada pela ausência da metáfora paterna para, em seguida, examinar o outro modo pelo qual as psicoses e os seus desencadeamentos se apresentam com maior frequência na contemporaneidade. (Leia mais)


 

O objeto a como bússola em tempos de delírios familiares  

Alejandra Glaze

Em sua investigação sobre a particularidade dos delírios familiares atuais, a autora toma como ponta de partida a localização de um delírio ligado a um imaginário desenfreado que, por essa razão mesmo, é profundamente uniformizante e invasivo para a criança. E aponta como a psicanálise pode se valer de uma outra perspectiva de reconfiguração das famílias tomando como referência o objeto a, por natureza antinômico aos atuais estilos de vida traçados com a marca do universal. (Leia mais)


 

Alocução sobre as psicoses na infância: uma leitura do texto lacaniano

Tereza Facury

A autora faz uma leitura comentada do texto de Lacan “Alocução sobre as psicoses na infância”, de 1967, no qual ele nos adverte de que há uma segregação que se amplia como efeito da progressão da ciência. Ele se antecipa aos acontecimentos que hoje presenciamos, como a segregação, o racismo e a regulação pela norma que não dá lugar à exceção, temas que nos interessam especialmente no caso das crianças as quais atendemos. (Leia mais)


 

A criança, seus delírios e os delírios de seus pais

Suzana Faleiro Barroso

A partir da noção de delírio generalizado, o texto discute a questão da especificidade do delírio na psicose infantil. Segundo o comentário de fragmentos da clínica, verifica-se, numa infância paranoica, diferentes modos de tratamento do gozo sem o Nome-do-Pai. (Leia mais)


 

Supereu solúvel no álcool? 

Miguel Antunes 

A partir da proposta de “retorno aos clássicos”, feita pelo Núcleo de Investigação e Pesquisa nas Toxicomanias e Alcoolismo, o texto propõe comentar a famosa frase “o supereu alcóolico é solúvel no álcool”. Para tal, será trabalhado o conceito de supereu tanto em Freud como em Lacan, indo além do “herdeiro de complexo de Édipo” em direção ao seu imperativo de gozo. (Leia mais)

DE UMA NOVA GERAÇÃO

A neurose obsessiva ao redor do cheiro do ralo 

Paulo Henrique Assunção Rocha 

No romance O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli, um homem sem nome, dono de uma loja de penhores, passa a ser assombrado pelo cheiro fétido que sai do ralo do banheiro do seu trabalho, ao mesmo tempo em que fica obcecado pelas nádegas da atendente da lanchonete que frequenta diariamente. É ao redor dessa trama que abordaremos aspectos significativos da neurose obsessiva, como sua posição em dívida em relação ao pai, os objetos em série, a relação entre o objeto anal e o olhar, a repetição, a postergação e o deslizamento metonímico dos pensamentos compulsivos. (Leia mais)


 

Psicose ordinária: paradigma da clínica contemporânea?

Edwiges de Oliveira Neves

Há um consenso entre os analistas de que os sujeitos hipermodernos se apresentam na clínica um tanto refratários aos moldes de intervenção tradicionais, de uma clínica psicanalítica interpretativa, que tinha o Édipo como teoria central. Com a queda dos ideais, a transferência não opera da mesma forma, e os sintomas, não mais interpretáveis, vêm rotulados como distúrbios. Em tempos em que o Outro não existe, os sujeitos podem encontrar outras maneiras de se estabilizarem e de fazerem laço social para além do Nome-do-Pai. Nesse sentido, nos questionamos: como a psicose ordinária pode contribuir para a clínica contemporânea? (Leia mais)


 

Do dom de Mauss ao inominável da pulsão

Laydiane Pereira de Matos

Este artigo visa revisitar as bases do conceito de dom na teoria de Marcel Mauss e articular sua lógica com a transmissão de Freud e Lacan acerca da teoria de objeto. Para isso, contrasta a utilidade desse conceito na estruturação da primeira clínica lacaniana com sua discordância fundamental, que reside na impossibilidade da determinação significante propiciada pelo acesso ao simbólico em conseguir abarcar o real da pulsão, posto que seu caráter é sempre casuístico, utilizando-se do conceito de assentimento para sustentar tal argumento. (Leia mais)




Almanaque On-line Agosto/2022 – Nº 29 V. 16

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

DANIELA DINARDI

Animados pelo desejo de transmissão do trabalho de pesquisa produzido no IPSM-MG e pelos demais colegas da nossa comunidade analítica, nos dedicamos a recolher textos alinhados ao tema de investigação do Instituto neste primeiro semestre de 2022: “Acontecimento de corpo político e a psicanálise hoje” é a bússola que nos orienta. [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
DO NÓ COMO SUPORTE DO SUJEITO 

FREDERICO FEU DE CARVALHO

A partir do terceiro capítulo do Seminário 23, de J. Lacan, o texto se propõe a esclarecer a utilização do nó borromeano por Lacan e algumas de suas aplicações à clínica das psicoses. Nesse contexto, confere-se privilégio à noção de Sinthoma como suporte do sujeito. [Leia Mais]

 


 

O INCONSCIENTE E O CORPO POLÍTICO: A PSICANÁLISE HOJE

 RICARDO SELDES

O inconsciente é intérprete e, ao interpretar, cifra novamente tornando infinita a atividade interpretativa. Frente a esse excesso interpretativo do inconsciente que se impõe nas psicoses como nas neuroses — embora, nestas últimas, de forma mais velada e sutil —, este texto, na trilha das formulações de Lacan e Miller, argumenta que interpretar analiticamente é fazer frente a esse trabalho interpretativo infindável próprio ao inconsciente, de modo que a interpretação analítica vire pelo avesso essa interpretação infinita do inconsciente. A heresia em questão é sustentar a interpretação na contracorrente do inconsciente quando a concepção que, em geral, se tem da atividade analítica é de que ela o interpreta, ou ainda que, na clínica das psicoses, não se deve interpretar. [Leia Mais]

 


 

O DISCURSO COMO SAÍDA DO CAPITALISMO 

PHILIPPE LA SAGNA

Lacan aponta uma afinidade entre o discurso capitalista e o discurso da ciência, no qual o desenvolvimento do primeiro acompanha o segundo. Nessa aliança, a verdade passa a ficar envolta em brumas e o saber vira um objeto de mercado. O discurso capitalista se apresenta sob a égide do consuma-se e deixe-se consumir, sempre com um mais-de-gozo que se impõe ao sujeito contemporâneo. O discurso analítico tem a possibilidade de desvendar a maquinaria do mais-de-gozar e, ao fazer do objeto a causa de desejo, arejar os efeitos do mais-de-gozar. [Leia Mais]

 


INTERPRETAR O “MATERIAL HUMANO” 

VÉRONIQUE VORUZ

A autora correlaciona o estatuto do falasser, reduzido a material humano, e a interpretação analítica, na medida em que, alienado ao imperativo capitalista de consumo, o sujeito se deixa desabonar de sua honra. A autora sublinha que é sobre isso que a interpretação deve intervir, a fim de lhe restituir sua dignidade de sujeito barrado. [Leia Mais]

 


 

PSICANÁLISE E POLÍTICA: UMA AMIZADE ESTRUTURAL 

GUSTAVO STIGLITZ

O autor investiga a relação entre a psicanálise e a política e considera que Lacan tenha operado uma inversão na premissa freudiana. Se, para Freud, a política é o inconsciente, para Lacan, o inconsciente é a política. A partir daí, o autor delimita uma definição da política a partir da discussão sobre o final de análise, o que o conduz a abordar a política a partir de uma perspectiva não-toda. Por fim, se pergunta sobre qual seria a participação do psicanalista no campo político. [Leia Mais]

 

 

 

ENTREVISTA
ALMANAQUE ON-LINE ENTREVISTA

SÉRGIO LAIA 

Há mais de trinta anos, em seu seminário O banquete dos analistas, Miller convocava os psicanalistas para uma tomada de posição diante do avanço de um discurso cujo cerne implicava o apagamento do desejo em favor de uma injunção ao mais de gozar.  Hoje, esse cenário se consolidou. [Leia Mais]

ENCONTROS
A INFÂNCIA É TRANS… 

TÂNIA MARIA LIMA ABREU

Este trabalho é fruto de uma pesquisa que tomou como eixo o documentário Pequena garota e as leituras que dele a autora pode fazer a partir de textos e vídeos com os quais dialogou. [Leia Mais]

 


 

PEQUENA GAROTA

SILVIA BAUDINI

A autora apresenta a sua leitura do documentário Pequena garota, que aborda a questão do transexualismo e sua incidência nos corpos das crianças. Sua análise o articula ao discurso de nossa época, o que lhe permite dizer que  se “na era vitoriana a histeria era a epidemia que explicava o impasse sexual da época, a causa trans é o que está em jogo hoje no impasse sexual de 2021”. [Leia Mais]

 


 

PSICANÁLISE E POLÍTICA: QUATRO MODALIDADES DE UMA RELAÇÃO

ANAËLLE LEBOVITS-QUENEHEN

A autora trata, neste artigo, da relação entre psicanálise e política, “em particular, a forma como um psicanalista se interessa pela política”. Para tanto, distingue diferentes modalidades dessa relação, assim como diferentes níveis de implicação do psicanalista com o político. Ainda de acordo com a autora, a conexão entre psicanálise e política aponta sempre “a não impedir” que o discurso analítico continue a existir, ou seja, cabe aos analistas “não cessar de fazer dos impasses que se encontram no mundo a ocasião de um avanço epistêmico sobre a base da necessidade ética”. [Leia Mais]

 


 

PSICANÁLISE E POLÍTICA 

FABIÁN A. NAPARSTEK

Neste artigo Fabián Naparstek parte de uma referência a Cervantes e Borges para, com as indicações de Lacan, abordar o laço entre psicanálise e política. Desse modo, o autor faz uma leitura da política envolvida no laço entre os analistas, na direção do tratamento, assim como na própria posição do analista no mundo, marcando uma orientação que vai contra os processos de segregação, propondo uma estratégia que segue, a cada época, uma política do sintoma singular, mas não sem o Outro. [Leia Mais]

 


 

DISCURSOS DE GÊNERO E PSICANÁLISE: POSSÍVEIS INTERLOCUÇÕES

RODRIGO ALMEIDA

O presente trabalho propõe uma articulação entre alguns pontos dos “discursos de gênero” e suas teorias no que eles se contrapõem à psicanálise, examinando de forma breve o discurso da psicanálise, sua prática e seu lugar no social. Posto isso, interrogamos de que maneira o debate com as teorias de gênero pode contribuir para os psicanalistas na leitura da subjetividade de sua época.[Leia Mais]

INCURSÕES
“TÁ TUDO AO CONTRÁRIO”

A CRIANÇA, SEUS PAIS E A VIA DO EQUÍVOCO – SUZANA FALEIRO BARROSO

Através de aspectos teóricos e clínicos, o artigo discute as duas abordagens da família hoje, isto é, a via do disfuncionamento familiar protagonizado pelo discurso da ciência em contraponto com a via do equívoco orientada pelo discurso psicanalítico. [Leia Mais]


 

COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO “TÁ TUDO AO CONTRÁRIO”

A CRIANÇA, SEUS PAIS E A VIA DO EQUÍVOCO – SANDRA MARIA ESPINHA OLIVEIRA

O texto é um comentário do trabalho apresentado por Suzana Faleiro Barroso no Núcleo de Pesquisa em Psicanálise com Crianças do IPSM-MG. Ele faz parte da pesquisa desenvolvida em torno do tema “O falasser político: a criança e seus pais” e discorre sobre o que se revela nas novas configurações familiares como sendo a parte que retorna a cada falasser para fazer existir a função significante da família no lugar onde se impõe sua função de gozo. Trata-se de abordar a família a partir do real — a partir do Um do gozo no qual a civilização atual está imersa — e demonstrar com fragmentos clínicos como a psicanálise permite à criança separar-se do lugar de objeto para reinventar sua família frente à desordem simbólica que caracteriza a época atual e em oposição aos discursos de remediação cognitiva e comportamental que não levam em conta esse real. [Leia Mais]


UM CAMINHO POLÍTICO-IDEOLÓGICO PARA A HEGEMONIA DAS CLASSIFICAÇÕES E SEUS PROTOCOLOS RUMO ÀS NEUROCIÊNCIAS

MARIA RITA GUIMARÃES 

A partir da clínica psicanalítica, sobretudo a clínica com crianças e a clínica com autistas nela incluída, o que nos interessa acerca de protocolos e classificações? Debater a atualidade: há uma perda da bússola de orientação clínica porque se passou das decisões clínicas ao organismo das neurociências, ignorando ou tornando muda a palavra do sujeito. O texto tenta examinar as condições político-ideológicas desse percurso.  [Leia Mais]


O ACONTECIMENTO DE CORPO POLÍTICO E A PSICANÁLISE HOJE

MARIA WILMA S. DE FARIA 

O corpo falante testemunha o discurso como laço social e traz em si suas marcas enquanto corpo socializado. Tendo como referência o segundo ensino de Lacan, no que toca ao falasser político, o texto indaga o que pode hoje a psicanálise frente à toxicomania que nossa época promove. Interroga os sintomas contemporâneos que têm a toxicomania como paradigma, bem como as adições generalizadas, o uso excessivo de remédios, as instituições segregativas e a violência discriminatória exercida sobre usuários e dependentes de drogas e/ou em uso prejudicial de álcool. [Leia Mais]


PSICOPATOLOGIA DO RACISMO COTIDIANO: DO CORPO POLÍTICO AO ACONTECIMENTO DE CORPO

LUÍS COUTO

O artigo visa partir dos efeitos da histórica política de segregação racial em nosso país para chegar à proposta da psicanálise de uma política do sintoma, a partir da qual será possível recolher, para cada sujeito, os efeitos singulares das nomeações vindas do campo do Outro e sua relação com o gozo. [Leia Mais]


O CORPO: DO CLÍNICO AO POLÍTICO 

ELAINE ROCHA MACIEL

A noção de corpo na psicanálise passou por redefinições ao longo da obra de Freud e do ensino de Lacan. Focaremos no último ensino de Lacan, em que o corpo é afetado por lalíngua. Um encontro traumático, derivado do choque entre língua e corpo, tendo como resultado um acontecimento de corpo e produção de efeitos de gozo. Um gozo fora do sentido, que se apresenta enquanto excesso e que deixa marcas no corpo, acontecimentos que são os sintomas. Esses sintomas manifestam-se de diversas maneiras na contemporaneidade. Trata-se de uma dimensão clínica articulada a uma dimensão política. [Leia Mais]


CORPOS ANORÉXICOS E O AVESSO DA BIOPOLÍTICA 

ANA MARIA COSTA DA SILVA LOPES E HENRIQUE OSWALDO GAMA TORRES

O presente artigo articula a anorexia e o avesso da biopolítica, da lógica cartesiana, dos protocolos universais. Investiga-se o para além da medicina baseada em evidências, que padroniza e normatiza protocolos. Não se propõe o avesso dos avanços propedêuticos e terapêuticos, mas a aposta de que o corpo escapa às identificações prontas, pois o gozo transborda, o sintoma que faz sofrer “traumatiza”. A aposta no singular da invenção sintomática, ao fazer vacilar a clínica médica, a psiquiatria, entre outros saberes, permite que o sujeito anoréxico apresente o corpo marcado para além do puro organismo, corpos afetados pela linguagem. Investiga-se a relação de cada falasser com seu inconsciente e suas respostas à biopolítica de nossos tempos. [Leia Mais]

 

DE UMA NOVA GERAÇÃO
A NEUROSE NA URGÊNCIA SUBJETIVA 

GIULIA CAMPOS LAGE

Frente à experiência em uma instituição psiquiátrica, constata-se a dificuldade em manejar a neurose na urgência hospitalar. Este texto visa buscar, na teoria psicanalítica de orientação lacaniana, formas de entender a urgência subjetiva, principalmente na neurose, e como poder viabilizar saídas que acolham a subjetividade em questão, evitando a institucionalização. [Leia Mais] 


 

MOMENTOS DE VIRADA NO ENSINO DE JACQUES LACAN: DO INCONSCIENTE TRANSFERENCIAL AO INCONSCIENTE REAL 

PAULO DE SOUZA NOVAIS

Este artigo busca apresentar um percurso relativo às elaborações sobre o conceito de inconsciente, partindo do momento em que o interesse de Lacan estava voltado para a relação transferencial com o analista e para suas interpretações decorrentes dos conflitos edipianos e do Nome-do-Pai, até chegar às últimas teorizações de que o falasser e o gozo do Um surgem na pena do psicanalista. O testemunho de passe de Alejandro Reinoso será tomado como bússola para ilustrar essas conceituações. [Leia Mais]




Almanaque On-line Março/2022 V. 16 Nº 28

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

MICHELLE SENA

Esta edição tem como tema Interpretação: um dizer que toca o corpo. A partir da continuidade do trabalho desenvolvido pelo IPSM-MG no segundo semestre de 2021 e seguindo a trilha do Almanaque 27, a temática da interpretação continua provocando ressonâncias que, nesta edição, serão abordadas evidenciando seus efeitos sobre o corpo. [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
DO ACONTECIMENTO AO ADVENTO

ESTHELA SOLANO-SUÁREZ

A autora descreve em seu texto um antes e um depois de seu encontro com Lacan, na época de seu último ensino, “no momento em que ele deportava a prática da psicanálise do Outro em direção ao Um, visando o real do sinthoma”. Nesse sentido, sua experiencia de análise com Lacan teve, segundo Esthela Solano, a dimensão de um acontecimento. A autora destaca que essa análise lhe permitiu ler, no equívoco dos sons, o que escorre em lalíngua, isolando o Um do significante separado do outro. [Leia Mais]


 

ACONTECIMENTO DE CORPO, GOZO MÍSTICO E JACULAÇÃO

JÉSUS SANTIAGO

O interesse do texto é mostrar que a jaculação é uma versão renovada da interpretação na medida que nela o objeto voz se orienta para a vertente da ressonância do significante, dando assim abertura ao equívoco. Para a jaculação, o significante é menos o que produz sentido e mais o que se ouve e ressoa como real. Por intermédio do objeto voz, a interpretação joga com o equívoco dos significantes que causam o gozo. E nisso a interpretação se apresenta diretamente conectada com a escritura. Apenas a escritura é capaz de circunscrever e isolar o real do efeito de sentido. O inconsciente torna-se um texto que se lê e no qual a leitura se equivoca, deixando ouvir efeitos sonoros que permitem esvaziar o sentido. [Leia Mais]


 

UM CORPO, UM. TRADUÇÃO E DECIFRAMENTO

ANTONI VICENS

O autor empreende a tentativa de tradução e interpretação da frase lacaniana contida na conferência Joyce, o Sintoma, “UOM kitemum corpo e só-só Teium (…)”. A partir de questões sobre o ter e o Um, ele propõe algumas perguntas sobre o corpo a partir das consequências do ter: como UOM pode ter Um corpo? O que é ter? Como é Um? O que é corpo? E, para respondê-las, considera as três dimensões do dito: o imaginário, o simbólico e o real. [Leia Mais]


LIÇÕES SOBRE HAMLET: O DESEJO DA MÃE

SANDRA MARIA ESPINHA OLIVEIRA

O texto é um comentário da lição XV de O Seminário, livro VI: o desejo e sua interpretação, de Jacques Lacan, que tem como título “O desejo da mãe”. Trata-se de um comentário proferido no âmbito das Lições Introdutórias do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais, dedicadas às Sete Lições sobre Hamlet, que compõem a quarta parte do Seminário VI, de Lacan. Após localizar o momento do ensino de Lacan em que esse seminário é proferido, o texto comenta as principais questões contidas em cada uma das três partes da lição XV, na qual Lacan realça o poder de fascinação de Hamlet como uma obra literária que apresenta o drama do desejo humano e cujo valor de estrutura é equivalente ao de Édipo Rei. O texto acompanha as elaborações de Lacan sobre a prevalência do desejo da mãe como o que desregula, em Hamlet, o acordo entre seu desejo e seu ato, levando-o a procrastiná-lo para realizá-lo apenas no e pelo seu próprio desaparecimento. Para Lacan, Hamlet se debate com o desejo de sua mãe, uma vez que esse desejo não encontrou seu lugar no simbólico em uma relação com a castração, ou seja, com a lei paterna e o falo. [Leia Mais]

 

ENTREVISTA

Almanaque on-line entrevista Sérgio de Campos

No final do volume 2 de seu livro Investigações lacanianas sobre as psicoses – volume este intitulado “As psicoses ordinárias” (CAMPOS, 2022a) – você cita Lacan quando ele afirma, a propósito da religião, que a psicanálise não triunfará: ela sobreviverá ou não. Podemos ampliar a questão da sobrevivência da psicanálise no que diz respeito ao que temos nos dedicado, atualmente, no Campo Freudiano, a saber, à problemática da despatologização… (Leia mais)

ENCONTROS

ALMANAQUE ON-LINE ENTREVISTA

MÁRCIO ABREU

 Ator, diretor e dramaturgo natural do Rio de Janeiro, sua formação tem passagens pela EITALC (Escola Internacional de Teatro da América Latina e Caribe) e pela ISTA (Escola Internacional de Antropologia Teatral). Nos anos 1990, em Curitiba, fundou o Grupo Resistência de Teatro, com o qual trabalhou por seis anos. Diretor da companhia brasileira de teatro em 1999, sediada em Curitiba, desenvolveu pesquisas e processos criativos em intercâmbio com artistas de várias partes do Brasil e de outros países. Entre seus trabalhos recentes estão PROJETO bRASIL (2015) e PRETO (2017), com os parceiros da companhia brasileira de teatro. Dirigiu o Grupo Galpão no espetáculo Nós (2016) e Outros (2018). Em 2021 estreou Sem Palavras, uma criação junto à companhia brasileira de teatro. [Leia Mais]

ENCONTROS
UMA LEITURA SOBRE O SINTOMA COMO ACONTECIMENTO DE CORPO

ESTEBAN KLAINER

O autor busca, no último ensino de Lacan, esclarecimentos sobre o que faria a diferença entre os chamados fenômenos de corpo e os acontecimentos de corpo. Baseando-se principalmente na conferência de Lacan em Roma, em 1974, “A terceira”, ele explora as noções de gozo fálico como um gozo fora do corpo, no enlaçamento simbólico-real, tendo como marca os objetos a, e um gozo no corpo, resultado do enlaçamento imaginário-real, gozo que situa o ser falante em relação a seu encontro com lalíngua[Leia Mais]


 

O QUARTETO DE JACQUES LACAN

LEONARDO GOROSTIZA

Leonardo Gorostiza localiza algumas escansões, ao longo do ensino de Lacan, que antecipam e apontam para a mudança de ênfase operada, posteriormente, “da verdade para o real”, considerando as questões que essa mudança lança sobre a interpretação analítica. Desse modo, Gorostiza afirma que as noções de injúria, opacidade e jaculatória, juntamente com a de silêncio, constituem um quarteto — num sentido musical e que vai contra a ideia de “concatenação” — com o qual Lacan se orienta para desdobrar a questão: como é possível, com a palavra, influenciar o corpo, o gozo e o real? [Leia Mais]

INCURSÕES
RACISMO E IDENTIDADE: UM GUIA LACANIANO PARA ENTENDER A QUESTÃO

ANDREA MÁRIS CAMPOS GUERRA

O tema da raça reduzido à perspectiva imaginária, nega a articulação entre os três registros – real, simbólico e imaginário – na sua conformação. Numa lógica decolonial, retomamos a matriz inconsciente que articula toda forma de segregação, para problematizá-la, em seguida, a partir do esquema óptico de Bouasse, localizando a dimensão do Outro, cujos poder, saber, ser e gênero sofrem epistemicídio sistemático. Nesse diálogo, apostamos numa teoria e numa práxis psicanalíticas que abalem pulsionalmente essa estrutura hegemônica e normativa. [Leia Mais]


 

FENÔMENO E ACONTECIMENTO DE CORPO

SÉRGIO DE CAMPOS

O autor trabalha a diferença entre os conceitos de fenômeno de corpo e acontecimento de corpo, o primeiro, um gozo que se inscreve como traumatismo e que poderá, ou não, ganhar o estatuto de acontecimento de corpo.  Para traçar essa diferença, explora as noções -indissociáveis- de corpo e gozo, dado que o corpo vivo surge como a persistência de uma letra de gozo, um corpo consequência de marcas, traços, inscrições e acontecimentos contingentes. Além disso, apresenta três exemplos de acontecimentos de corpo: em Schreber, na relação de James Joyce e Nora e em um fragmento de sua própria análise. [Leia Mais] 


 

AS TEMPORALIDADES DA MEDIDA PROTETIVA DE ACOLHIMENTO

CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA NUNES

O artigo trata da medida protetiva de acolhimento, utilizada como instrumento de proteção a crianças e adolescentes pelo Judiciário e pelas políticas públicas de assistência social. Nesse âmbito, o texto explora pontos de tensão entre esses campos no esforço de argumentar que questões em torno da temporalidade, bem como a penetração do discurso jurídico no espaço reservado à escuta dos sujeitos, ocupam posições centrais nesse debate. O desafio está em criar um intervalo para a escuta que propicie a dialetização entre a temporalidade cronológica, na qual opera o discurso jurídico, e a temporalidade lógica, mais própria ao sujeito. [Leia Mais]


 

O INCONSCIENTE: DA CRIANÇA ATÉ O ADOLESCER, E MAIS

CRISTIANE BARRETO

O texto comenta o prefácio de Jacques-Alain Miller para o livro L’Inconscient de l’enfant: du symptôme au désir de savoir, de Hélène Bonnnaud. Para tanto, primeiro contextualiza o inconsciente freudiano, seguido das elaborações lacanianas do inconsciente estruturado como uma linguagem ao inconsciente real. Ressalta a importância da questão da defesa e de como perturbar a defesa na psicanálise com crianças. Por fim, por meio de de um fragmento clínico, discute a questão contemporânea do inconsciente frente ao sintoma de uma adolescente e os efeitos na família, bem como o lugar de uma análise. [Leia Mais]


 

ALZHEIMER COMO RUPTURA DO LAÇO SOCIAL:  UMA LEITURA PSICANALÍTICA

GUILHERME CUNHA RIBEIRO

A partir do filme Meu pai, escrito e dirigido por Florian Zeller, este texto busca compreender as mudanças que ocorrem em portadores da doença de Alzheimer  sob a ótica da psicanálise de orientação lacaniana. Essa doença neurológica se manifesta no campo da fala, onde são percebidas alterações no funcionamento significante, em especial na metáfora e na metonímia. As consequências são sentidas no discurso e em uma progressiva ruptura no laço social. [Leia Mais]

INCURSÕES

Os neodesencadeamentos: entre discrição e exuberância nas psicoses  

Sérgio de Castro

O autor percorre momentos distintos de ensino de Lacan para abordar o desencadeamento nas psicoses partindo de sua concepção forjada no período estruturalista desse ensino e determinada pela ausência da metáfora paterna para, em seguida, examinar o outro modo pelo qual as psicoses e os seus desencadeamentos se apresentam com maior frequência na contemporaneidade. (Leia mais)


 

O objeto a como bússola em tempos de delírios familiares  

Alejandra Glaze

Em sua investigação sobre a particularidade dos delírios familiares atuais, a autora toma como ponta de partida a localização de um delírio ligado a um imaginário desenfreado que, por essa razão mesmo, é profundamente uniformizante e invasivo para a criança. E aponta como a psicanálise pode se valer de uma outra perspectiva de reconfiguração das famílias tomando como referência o objeto a, por natureza antinômico aos atuais estilos de vida traçados com a marca do universal. (Leia mais)


 

Alocução sobre as psicoses na infância: uma leitura do texto lacaniano

Tereza Facury

A autora faz uma leitura comentada do texto de Lacan “Alocução sobre as psicoses na infância”, de 1967, no qual ele nos adverte de que há uma segregação que se amplia como efeito da progressão da ciência. Ele se antecipa aos acontecimentos que hoje presenciamos, como a segregação, o racismo e a regulação pela norma que não dá lugar à exceção, temas que nos interessam especialmente no caso das crianças as quais atendemos. (Leia mais)


 

A criança, seus delírios e os delírios de seus pais

Suzana Faleiro Barroso

A partir da noção de delírio generalizado, o texto discute a questão da especificidade do delírio na psicose infantil. Segundo o comentário de fragmentos da clínica, verifica-se, numa infância paranoica, diferentes modos de tratamento do gozo sem o Nome-do-Pai. (Leia mais)


 

Supereu solúvel no álcool? 

Miguel Antunes 

A partir da proposta de “retorno aos clássicos”, feita pelo Núcleo de Investigação e Pesquisa nas Toxicomanias e Alcoolismo, o texto propõe comentar a famosa frase “o supereu alcóolico é solúvel no álcool”. Para tal, será trabalhado o conceito de supereu tanto em Freud como em Lacan, indo além do “herdeiro de complexo de Édipo” em direção ao seu imperativo de gozo. (Leia mais)

DE UMA NOVA GERAÇÃO
UMA DIFICULDADE A MAIS NA ANÁLISE DE UMA MULHER?

LUCIANA EASTWOOD ROMAGNOLLI

Com base no debate sobre a neurose obsessiva em mulheres, o artigo indaga se a estratégia obsessiva contra o gozo feminino não simbolizável apresenta, na clínica contemporânea, uma dificuldade a mais na análise de mulheres, considerando a realidade de devastação na relação mãe-filha, de quem esta esperaria uma consistência impossível pela inexistência do significante d’A mulher. Na defesa obsessiva, a tentativa de fazer Um com o eu e a consequente fortificação do corpo; a oblatividade que assegura a consistência do Outro; o amor erotômano; além do imperativo do supereu, aparecem como pontos possíveis de agravamento da estratégia neurótica frente à devastação. [Leia Mais] 


 

AS DUAS MORTES DE ANA KARENINA

CIRILO AUGUSTO VARGAS

A partir do clássico Ana Karenina, romance atemporal publicado por Liev Tolstói em 1877, o artigo aborda o tema da pulsão de morte em seu entrelaçamento com o gozo mortífero e o suicídio. Freud, ele próprio um mestre das letras, já apontava a utilidade de investigar personagens inventados por grandes escritores, dada a abundância do seu conhecimento da alma. A experiência destrutiva de uma melancólica capturada pelo espiral trágico da repetição assume relevância atual em um cenário político-social de conflagração e ódio. Ana Karenina convida à reflexão, ilustrando como a morte é companheira inseparável do amor. [Leia Mais] 




Almanaque On-line Agosto/2021 V. 14 Nº 27

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

MICHELLE SENA

Esta edição tem como tema Interpretação: um dizer que toca o corpo. A partir da continuidade do trabalho desenvolvido pelo IPSM-MG no segundo semestre de 2021 e seguindo a trilha do Almanaque 27, a temática da interpretação continua provocando ressonâncias que, nesta edição, serão abordadas evidenciando seus efeitos sobre o corpo. [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
DA ESCUTA DO SENTIDO À LEITURA FORA DO SENTIDO: NOSSA SANTA INTERPRETAÇÃO

SILVIA BAUDINI

Em um primeiro momento dessa conferência, a autora trabalha as noções de transferência e interpretação quando sustentadas pelo simbólico e pelo analista alojado em uma posição de prestígio pelo suposto saber, para, em seguida, pensá-las em um mundo onde essa suposição tem praticamente desaparecido e o simbólico não é o registro predominante. Através de alguns fragmentos de casos, a autora nos conduz por uma clínica onde o Outro não existe e na qual a leitura do fora do sentido pode dar lugar a invenção de uma nova escrita. [Leia Mais]


INTERPRETAÇÃO HERÉTICA E ACONTECIMENTO DE CORPO NAS PSICOSES

SÉRGIO LAIA

O inconsciente é intérprete e, ao interpretar, cifra novamente tornando infinita a atividade interpretativa. Frente a esse excesso interpretativo do inconsciente que se impõe nas psicoses como nas neuroses — embora, nestas últimas, de forma mais velada e sutil —, este texto, na trilha das formulações de Lacan e Miller, argumenta que interpretar analiticamente é fazer frente a esse trabalho interpretativo infindável próprio ao inconsciente, de modo que a interpretação analítica vire pelo avesso essa interpretação infinita do inconsciente. A heresia em questão é sustentar a interpretação na contracorrente do inconsciente quando a concepção que, em geral, se tem da atividade analítica é de que ela o interpreta, ou ainda que, na clínica das psicoses, não se deve interpretar. [Leia Mais]


 

A INTERPRETAÇÃO E ALÉM

SOPHIE MARRET-MALEVAL

A prática analítica se estabelece entre o que se lê e o que se escreve, ancora-se numa decifração que não visa o sentido e se regula pelo corte que separa S1 e S2, bem ali onde a palavra mostra o seu limite. [Leia Mais]


 

NÃO SEM OS CORPOS

BERNARD SEYNHAEVE

O autor sustenta o lugar determinante que Lacan dá à presença dos corpos em uma análise: o do analista e do analisante. Em seu ultimíssimo ensino, compreende-se que a interpretação segue o rastro do falasser considerando que a função do inconsciente se completa pelo corpo — não pelo corpo simbolizado nem pelo corpo imaginário, mas pelo corpo que tem em si algo de real. Portanto, para além da decifração, o que uma interpretação visa é perturbar a defesa, fazer ressoar o corpo afetado por lalangue. Para tanto, não basta se ver ou se falar; a presença física também faz parte da interpretação. [Leia Mais]

 

ENTREVISTA

ALMANAQUE ENTREVISTA

JACYNTHO LINS BRANDÃO

Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, Jacyntho Lins Brandão lecionou língua e literatura grega de 1977 a 2018, foi diretor da Faculdade de Letras por duas vezes e vice-reitor da Universidade. Foi também professor visitante na Universidade de Aveiro, em Portugal, na Universidad Nacional del Sur, na Argentina e na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), na França. Atualmente é professor visitante da Universidade Federal de Ouro Preto e membro da Academia Mine ira de Letras. [Leia Mais]

ENCONTROS
A INTERPRETAÇÃO LACANIANA: MEIO-DIZER, POESIA, ESTILO

JORGE ASSEF

O autor recorre a uma citação de Éric Laurent referente a um episódio do início de sua análise com Lacan e, a partir desse exemplo, aborda as três vertentes do meio-dizer implicadas na estrutura da interpretação tal como propostas por Lacan: o equívoco, o enigma e os efeitos de estilo.[Leia Mais]


 

O QUE FAZ UM, MARCA

PAULA HUSNI

A autora faz referência ao encontro de Lilia Mahjoub-Trobas com Lacan e os efeitos de uma intervenção do analista que toca o corpo, ressoa e faz eco perturbando as defesas e inserindo um menos. Com seu corpo, o analista inscreve uma hiância ao se prestar a representar o não simbolizável do gozo. O analista advém no lugar do trauma ao provocar um vazio, o Um a menos que instaura a presença da falha da não relação sexual. [Leia Mais]


 

A INTERPRETAÇÃO JACULATÓRIA

MARISA MORETTO

A autora traz nuances da discussão teórica sobre a interpretação jaculatória situando-a no limite da palavra quando já não é mais possível o desdobramento da cadeia significante e pergunta se tratar-se-ia de um efeito de sentido que, por sua ressonância, toca o corpo e incide no campo do gozo. Ali, onde a palavra se apaga, estaria o impacto, o que faz ressoar outra coisa que não a significação. Para Miller, trata-se de uma interpretação que precipita um “é assim” cessando o afã de continuar buscando a decifração eterna. [Leia Mais]


 

UMA INTERVENÇÃO POUCO ORTODOXA

MARÍA DE LOS ÁNGELES CÓRDOBA

A autora faz uma leitura apurada do testemunho de Hilda Doolittle sobre a sua análise com Freud, presente no livro Por amor a Freud, no qual Doolittle se esforça para transmitir algo da experiência desse encontro de maneira vívida. A autora destaca a “atmosfera interpretativa” e o efeito do impacto do gesto e das palavras do analista sobre o corpo da analisante a partir de umas das intervenções freudianas relatadas por Doolittle — uma intervenção de exceção, pouco ortodoxa, que seguiu ressoando por muito tempo após o fim dessa análise.[Leia Mais]

INCURSÕES
A PSICOSE E A MÁQUINA DE INTERPRETAR

MAURICIO TARRAB

Neste texto o autor retoma e comenta outra publicação de sua autoria, “A psicose e a máquina de interpretar”, e resgata a ideia de que o real, fora do sentido, coloca em funcionamento uma máquina de produzir ficções e que a própria psicanálise pode fazer funcionar essa máquina de produzir sentido. Ele ressalva, no entanto, que, com o ensino de Lacan, é possível ir além do campo ficcional, e é esse além que o autor desdobra em seu texto. [Leia Mais]


 

“EU NÃO SOU DE FALAR MUITO, EU DANÇO”

MÁRCIA MEZÊNCIO

Comentário do filme Inocência roubada, narrativa ficcional sobre a experiência infantil de abuso sofrido pela protagonista e suas tentativas de dar tratamento ao trauma. Interrogam-se os efeitos, para o sujeito, da interpretação dada pelo discurso jurídico. Propõe-se que o que a justiça faz valer é a responsabilidade do sujeito por seu dizer, por sair do silêncio e confessar o segredo. [Leia Mais]


 

POR QUE AS MÃES DE HOJE NÃO INTERPRETAM?

MARGARET PIRES DO COUTO 

Investigam-se os embaraços dos pais, especialmente do Outro materno, em traduzir o mal-estar das crianças, o que os leva a recorrer cada vez mais ao saber da ciência por meio dos inúmeros especialistas da criança. Partindo da premissa que uma primeira interpretação é fundante do sujeito e que a dificuldade em interpretar a criança responde à inexistência do Outro, discute-se como o discurso analítico instala o Outro retirando a criança da solidão de seu gozo. Com essa operação de restituição do S2, a cadeia significante se produz com importantes efeitos de mobilidade para criança. [Leia Mais]


 

A INTERPRETAÇÃO ENTRE A ESCUTA E O QUE SE LÊ

TEREZA FACURY 

A autora elege o texto de Miller “Ler um sintoma” para abordar o tema da interpretação. A leitura de um sintoma implica em uma defasagem entre a escuta e a leitura que se faz sobre o dito do sujeito. Para esclarecer essa diferença, aborda um caso relatado por Guilherme Ribeiro no Núcleo de Psicanálise e Medicina e o testemunho de passe de Gustavo Stiglitz: “Aqui hay gato encerrado. Sobre el fenômeno psicossomático”[Leia Mais]


 

O QUE CABE AO ANALISTA NA INTERPRETAÇÃO HOJE?

APARECIDA ROSÂNGELA SILVEIRA

Este texto trata do lugar que ocupa a interpretação hoje na clínica psicanalítica a partir do último ensino de Lacan. Busca-se elucidar os deslocamentos teóricos-clínicos produzidos na prática da interpretação com o recurso de vinhetas clínicas. Da escuta do sentido do sintoma à leitura do fora de sentido, destaca-se que a interpretação opera entre o ser da falta e a fixidez do gozo, entre o saber ler e o bem-dizer do sintoma. Assim, espera-se que do encontro com o analista possam advir saídas para o sujeito lidar com o que é da ordem de seu mal-estar. [Leia Mais]

DE UMA NOVA GERAÇÃO
NEUROSE OBSESSIVA: UM DIALETO CONTEMPORÂNEO?

MARCELA BACCARINI PACÍFICO GRECO

Este trabalho parte de um comentário feito por Lacan em 1978 para investigar como o discurso do mestre contemporâneo e suas incidências podem privilegiar apresentações sintomáticas que se aproximam daquelas de que se vale a neurose obsessiva. Trata-se de discutir como determinados aspectos dessa forma de organização subjetiva, que foram apontados por Freud e retomados por Lacan, podem ser cotejados com a fenomenologia dos novos sintomas provocados pela decadência da ordem simbólica. Por fim, objetiva-se, também, levantar uma questão sobre a direção do tratamento nesses casos. [Leia Mais] 


 

O REAL DO INCONSCIENTE E A GAIA CIÊNCIA: SABER FAZER COM LALÍNGUA

BERNARDO MARANHÃO

Este artigo discute o trecho de “Televisão” em que Lacan faz menção à gaia ciência, o saber alegre dos trovadores medievais. O que se pretende interrogar é em que medida esse saber pode ser tomado como um referencial, entre outros simultaneamente possíveis, para a interpretação analítica, num contexto em que o inconsciente é concebido, com Lacan, como “o mistério do corpo falante”.[Leia Mais]




Almanaque On-line Março/2021 V. 14 Nº 26

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

TEREZA FACURY

Bem-vindos à 26ª edição da revista Almanaque Online, do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais.
Esta edição foi preparada em meio a um cenário mundial de devastação, causada pela pandemia da covid-19, seja do ponto de vista econômico, seja do social, o que afetou sobremaneira os laços sociais das mais variadas formas. As relações entre as pessoas passaram a ser norteadas pelo significante “cuidado” no tocante aos seus corpos, uma vez que o outro se tornou um potencial e arriscado hospedeiro do vírus.  [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
PSICANÁLISE E ESQUECIMENTO: PONTUAÇÕES SOBRE ESTES TEMPOS ESTRANHOS

HENRI KAUFMANNER

Partindo da pergunta lançada por Lacan ao final do seminário XI, sobre uma possível impostura da psicanálise, pergunta-se o que o conduziu a traçar uma distinção entre a religião, a ciência e a psicanálise sob a perspectiva da ideia de esquecimento. Sublinhando como o avanço do discurso da ciência em nosso tempo, com sua oferta indiscriminada de objetos de consumo, provocou o tamponamento da falta do sujeito barrado e afetou “gravemente essa distinção entre esses campos em sua relação com o esquecimento”, faz-se recordar que, nesse mesmo seminário, Lacan já alertava quanto aos efeitos da chamada mass media, algo que hoje podemos traduzir como a era das tecnociências, aí implicada a virtualidade das nossas relaçõesDiante desse cenário, o que nos é exigido é a audácia da invenção. [Leia Mais]


 

A PRESENÇA REAL E A FUGACIDADE DO CORPO

CATHERINE LACAZE-PAULE

Catherine Lacaze-Paule aborda a atual experiência de confinamento para refletir sobre suas repercussões na clínica psicanalítica praticada virtualmente. Nesse contexto, ela indaga quais seriam “as condições para que um encontro seja real, para que uma presença se faça sentir, para que ela se experimente”. A autora se serve da expressão lacaniana “presença real” enodada ao desejo do analista e, dessa forma, dá um passo além dos termos— presencial, a distância — que o discurso corrente faz uso. [Leia Mais]


TRANSFERÊNCIA E PRESENÇA DO ANALISTA

FRANK ROLLIER

Neste texto, Frank Rollier traz a discussão sobre a importância da  presença dos corpos (analista-analisante) e seus efeitos relativos ao trabalho na transferência e de abertura ao inconsciente. As terapias a distância produzem uma exacerbação dos semblantes, uma profusão de sentidos, conectadas ao projeto político do discurso cientificista sob o qual a relação sexual possa se escrever. A “presença real” do analista é a aposta ética da psicanálise de poder tocar pedaços do real pulsional e do resto, o objeto a. [Leia Mais]


O ANALISTA ESSENCIAL

IRENE ACCARINI

Neste artigo, a partir de uma reflexão sobre as sessões analíticas a distância, a autora relaciona as noções da presença do analista e do objeto voz considerando que a experiência do inconsciente, desde Freud, é marcada pela forma com que a palavra afeta o corpo. Tendo em conta as mudanças impostas na rotina de todos pela pandemia do coronavírus, a autora relata efeitos subjetivos no que diz respeito à forma com que atos anódinos tornam-se atos de consciência constante e reflete sobre a prática da psicanálise enquanto restituidora da dimensão do inconsciente neste contexto de consciência exacerbada. [Leia Mais]

ENTREVISTA

Gustavo Dessal

Nos traz, em Entrevista, suas percepções e elaborações sobre o que tem extraído de sua experiência e de suas pesquisas sobre o uso dos dispositivos on-line nos atendimentos. [Leia Mais]

ENCONTROS
TECH-NO-ME, TECH-TO-ME

RENATA TEIXEIRA

A autora aborda, neste artigo, como a irrupção da pandemia do novo coronavírus afetou sua prática clínica com crianças e adolescentes e a faz se interessar pelo mundo dos jogos digitais como uma ferramenta possível para a continuidade do tratamento via dispositivos eletrônicos. A partir de alguns extratos clínicos, localiza como o analista pode se fazer presente, mesmo que virtualmente, acompanhando as invenções e os laços de cada sujeito. [Leia Mais]


 

NÃO É UMA BRINCADEIRA DE CRIANÇA

PRERNA KAPUR

Neste artigo, a autora aborda os impactos do confinamento sobre seu trabalho clínico com crianças. Sem os objetos que circulam nos atendimentos presenciais, questiona-se sobre como seria possível dar continuidade aos atendimentos por plataforma de vídeo. Utiliza fragmentos de um caso clínico para pensar a presença do analista e como, para alguns sujeitos, áudio e vídeo podem servir como recurso para novas invenções e laços. [Leia Mais]

INCURSÕES
PSICANÁLISE ON-LINE COM CRIANÇAS

SUZANA FALEIRO BARROSO

O artigo reúne pontos abordados na XXIV Conversação da Seção Clínica do IPSM-MG, em novembro de 2020. Discute o recurso aos dispositivos virtuais para sustentar a prática analítica com crianças durante a quarentena; articula-os aos aspectos da direção do tratamento, o manejo da transferência, o desejo e a presença do analista; aborda algumas vinhetas da clínica do unheimlich a partir dos relatos de crianças e adolescentes em análise e, por fim, verifica como o discurso analítico é aquele que pode acolher os efeitos do encontro com o estranho junto às crianças e adolescentes. [Leia Mais]


 

COMENTÁRIO AO TEXTO DE SUZANA BARROSO NA XXIV CONVERSAÇÃO CLÍNICA DO IPSM-MG

LILANY VIEIRA PACHECO 

Suzana descreve, assim, as condições de possibilidades para a constituição do lugar do Outro pela operação de mutação do Real em significante [Leia Mais]

DE UMA NOVA GERAÇÃO
UM RETRATO DO PSICANALISTA QUANDO ARTISTA:  A INTERPRETAÇÃO NO ÚLTIMO ENSINO DE LACAN

DERICK DAVIDSON SANTOS TEIXEIRA

No prefácio à edição inglesa do seminário 11, Lacan escreve que “a psicanálise, desde que ex-siste, mudou”. Sabe-se que essa mudança decorre, principalmente, de uma promoção do corpo e da escrita no interior da psicanálise. Da escrita poética chinesa à obra de James Joyce, passando pelo corpo tomado por uma satisfação pulsional que escapa à articulação significante, Lacan reformula a interpretação analítica.  O presente texto trata dos desdobramentos da interpretação na fase final do ensino de Lacan. Faremos um breve percurso pelo tema do “moterialismo” e da emergência da letra na psicanálise. Nessa via, elucidamos os efeitos de uma interpretação que não se pauta apenas pelo sentido, mas que faz valer, também, um furo — a realização de um vazio semântico —, um efeito de sentido real. [Leia Mais] 


 

RACISMO, CORPO E TRAUMA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

NAYARA PAULINA FERNANDES ROSA

O presente artigo discorre brevemente sobre a incidência dos efeitos psíquicos do racismo contra negros no âmbito da identificação imaginária a partir da teoria do estádio do espelho. Fragmentos de casos clínicos ilustram a proposição de que, no momento em que o sujeito é nomeado negro pelo outro, se dá conta de que esse significante conjuga a representação de todas as imagens com as quais aquele que foi nomeado branco não deseja se identificar. Ao ser classificado como negro, o sujeito é fixado em uma espécie de “inferioridade epidermizada”. A escuta desse tipo de sofrimento — que envolve corpo, cultura e palavra — envolve a sutileza na evocação da singularidade da experiência traumática aliada à assertividade de não se recuar na luta antirracista, compreendendo-a como causa que concerne a também a nós, analistas de orientação lacaniana.[Leia Mais]




Almanaque On-line Agosto/2020 V. 14 – Nº 25

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

PATRÍCIA RIBEIRO

É com enorme satisfação que lhes apresentamos a 25ª edição do Almanaque Online, cujos trabalhos abordam um tema que nos foi inspirado pelo XXIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, O feminino infamiliar, dizer o indizível. Neste número, trataremos do infamiliar nos laços sociais indagando como ele se insere nessa dimensão das relações dos sujeitos com o Outro. Por essa razão, e como não poderia deixar de ser, esta edição contempla também o momento atual, marcado por essa absoluta infamiliaridade na qual vivemos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
BARTLEBY, O REAL

GUSTAVO DESSAL

O autor se apoia no conto “Bartleby, o escrivão”, de H. Melville, para desenvolver a noção de estranho a partir da singularidade do personagem principal e indica como a presença dessa opacidade real participa de toda a existência e da própria humanidade. Sua análise é dividida em três tempos e perspectivas — ironia, dimensão ética e tragédia — e destaca a posição subjetiva de Bartleby frente ao laço social. Bartleby representa esse real excluído da dimensão simbólica, que não cessa de se escrever, não sem consequências, e, ironicamente, expõe a inutilidade essencial da existência e sua condição de semelhança que afeta a todos. [Leia Mais]


 

O INFAMILIAR FREUDIANO

MARINA LUSA

Como se construiu, em Freud, o conceito de Unheimlich? Quais caminhos Freud pega emprestado para apreender esse inapreensível que, entretanto, marca nossa experiência? O texto propõe uma arqueologia desse conceito, assim como o contexto e as referências que Freud trabalhou para fazer emergir, na psicanálise, o infamiliar, que, por si só, faz ressoar o movimento das profundezas com as quais o sujeito se confronta. O estudo de Ernest Jentsch (1906), Schelling e a decifração do conto de Hoffmann, “O homem da areia”, são alguns dos pontos que Freud vai com, contra e/ou além para a investigação desse fenômeno angustiante. [Leia Mais]

ENTREVISTA

Entrevista com Santuza Teixeira

Almanaque entrevista Santuza Teixeira, mineira de Belo Horizonte. Graduada e mestre em bioquímica na Universidade de Brasília, fez doutorado na Universidade de Lausanne, na Suíça, e pós-doutorado na Universidade de Iowa, nos EUA. Professora e pesquisadora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, atua no departamento de Bioquímica e Imunologia coordenando pesquisas em genômica e parasitologia e no desenvolvimento de vacinas. Em dezembro de 2019, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências. [Leia 

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ENCONTROS
OS DIAS DO UNHEIMLICH FAMILIAR

MARIANA SCHWARTZMAN

Esta crônica relaciona a epidemia do coronavírus e suas consequências na vida cotidiana ao conceito freudiano de infamiliar [Unheimlich] e ao conceito de extimidade, proposto por Jacques-Alain Miller. Esses conceitos são abordados enquanto uma chave de leitura possível do momento atual e de seus efeitos infamiliares em cada sujeito, na sua relação com o que lhe seria mais familiar: sua casa. [Leia Mais]


 

CONFINAMENTO FAMILIAR: FAMÍLIAS, QUESTÕES CRUCIAIS

HÉLÈNE BONNAUD

A crônica de Hélène Bonnaud explora a relação entre a pandemia do coronavírus e o confinamento dos sujeitos em casa. Consequentemente, a angústia diante da incerteza que acomete a todos irrompe diante desse real. As novas rotinas domésticas e laborais, a convivência aumentada com a família, a aposta midiática na prática de meditação e o aumento de divórcios são alguns efeitos deste momento que são ressaltados e examinados pela autora. Pela evidente amplificação do sentimento de solidão, a autora propõe um paralelo entre isolamento e solidão, levando em conta, contudo, as diferenças entre os dois. [Leia Mais]

INCURSÕES
A PSICOSE, O INFAMILIAR E O INTRADUZÍVEL

FREDERICO FEU DE CARVALHO


O infamiliar é trabalhado por Freud como a emergência no campo da realidade de algo íntimo e secreto, que deveria permanecer oculto, e que é experimentado em seu oposto, ou seja, como algo estranho — infamiliar. O surgimento de alguma coisa que produz essa inquietante estranheza modifica, por um momento, nossa percepção da realidade. É possível se perguntar, por meio dessa palavra-conceito expressa por Freud, quais relações aproximativas podem ser feitas entre o infamiliar, o sentimento de estranheza e a “perda da realidade” na psicose. [Leia Mais]


 

O FEMININO INFAMILIAR: DIZER O INDIZÍVEL

ANDRÉA EULÁLIO DE PAULA FERREIRA

Tanto a palavra quanto a experiência do Unheimlich remetem a um ponto enigmático que é da ordem do indizível e do inominável, a algo irredutível e não mediatizado pelo simbólico e que não pode ser interpretado. Um fragmento clínico elucida como que, no mais íntimo de cada língua familiar, existe uma língua estranha, estrangeira, cujo encontro retorna, segundo Freud, como “inquietante estranheza”.[Leia Mais] 


 

O ESTRANHO FAMILIAR: UMA LEITURA A PARTIR DE FREUD

JEANNINE NARCISO

Este texto apresenta um ensaio de Freud, no qual aparece um novo significante, que diz respeito ao aterrorizante, ao que causa a angústia e aponta o esmaecimento dos domínios entre o familiar e o estrangeiro. Retoma-se a questão com Miller ao dizer que, para Lacan, o “infamiliar” resulta na noção da extimidade. Aborda-se a relação do sujeito com a linguagem como o que faz furo no real. [Leia Mais]


 

O INFAMILIAR E O OUTRO MAU

IVAN VITOVA JUNQUEIRA

O presente artigo é baseado em uma pesquisa realizada com uma populacão encarcerada, que recebe atendimento psicológico e psiquiátrico há mais de seis anos, e no qual se tenta articular os sentimentos de angústia e terror que surgem nos atendimentos ao conceito freudiano de infamilar, assim como ao conceito de dejeto, proposto por Miller em seu texto “A salvação pelos dejetos”. A partir desses conceitos, é possível pensar se esses sujeitos podem estar identificados ao objeto “a” enquanto dejeto Real. [Leia Mais]

DE UMA NOVA GERAÇÃO
O HOMEM E UMA MULHER E O IMAGINÁRIO

LÍVIA SERRETTI AZZI FUCCIO

Este trabalho busca localizar as disjunções da histeria e da feminilidade no diário de Anaïs Nin (1931–1932/1986). Para tanto, serão demarcados três posicionamentos: (I) a posição de Anaïs diante de June, ao elegê-la como A mulher; (II) o papel que Henry Miller encarna para Anaïs, como o semblante do homem ideal; e (III) o diário como sintoma da elaboração do que fazer diante da não relação sexual. [Leia Mais] 

 


 

UM MÍSTICO PARA A NOÇÃO DE GOZO FEMININO

RODRIGO SANTOS DA MATTA MACHADO

São João da Cruz apareceu em meio à psicanálise lacaniana como um instrumento de auxílio na transmissão do saber psicanalítico. Surge, portanto, nesse contexto, como um exemplo de místico prestigiado por Lacan, que o tinha como uma pessoa dotada. Investigaram-se a obra e biografias de São João da Cruz buscando conhecer algumas importantes facetas da sua vida para melhor aplicação desse exemplo nas elaborações da tábua da sexuação. As facetas poética e mística de São João da Cruz foram úteis em importantes transmissões do psicanalista. [Leia Mais]




Almanaque On-line Março/2020 V. 14 – Nº 24

A ALMANAQUE | NORMAS | EXPEDIENTE | CONTATO

EDITORIAL

Ludmila Féres Faria


Voilá! Chegamos à 24ª edição da revista Almanaque On-line, que tem a religião como tema principal. O mote da escolha foi a constatação do crescimento das igrejas evangélicas no Brasil… [Leia Mais]

TRILHAMENTOS
Uma época fundamentalmente descrente – Dalila Arpin
Glosa Sobre uma bússola – Antônio de Ciaccia
ENTREVISTA
As religiões vêm no lugar das adições – Marie Hélène Brousse
A religião e a verdade – Frei Betto
ENCONTROS
Crença e Nome-do-Pai – Alessandra Rocha
INCURSÕES
O tempo faz sintoma no inconsciente à céu aberto – Fernando Casula

O tempo e o inconsciente – Guilherme Ribeiro

A temporalidade do inconsciente na clínica das toxicomanias – Cláudia Generoso

DE UMA NOVA GERAÇÃO
A solidão e o isolamento nas psicoses – Fernanda do Valle

Psicanálise nas instituições: relato de experiência Pai-PJ do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – Kelen Cristina Silva