EDITORIAL – ALMANAQUE N 28
MICHELLE SENA
Está no ar a 28ª edição da revista Almanaque On-line!
Esta edição tem como tema Interpretação: um dizer que toca o corpo. A partir da continuidade do trabalho desenvolvido pelo IPSM-MG no segundo semestre de 2021 e seguindo a trilha do Almanaque 27, a temática da interpretação continua provocando ressonâncias que, nesta edição, serão abordadas evidenciando seus efeitos sobre o corpo.
Iniciamos, em Trilhamentos, com os textos de Esthela Solano-Suárez, Jésus Santiago, Antoni Vicens e Sandra Espinha. Em Do acontecimento ao advento, Solano traz um relato de sua análise, no qual transmite a constituição do seu sintoma e os efeitos do tratamento no corpo e coloca em evidência como a análise visa o real do sinthoma. Em Acontecimento de corpo, gozo místico e jaculação, Santiago aborda a jaculação enquanto uma versão renovada da interpretação, considerando a vertente da ressonância do significante e do equívoco. No texto Um corpo, Um: tradução e deciframento, Vicens empreende a tentativa de tradução e interpretação da frase lacaniana “UOM (…) kitemum corpo e só-só Teium” visando o corpo a partir das consequências do ter. Ainda nessa rubrica, contamos também com o texto de Sandra Espinha, Lições sobre Hamlet: o desejo da mãe, proferido no âmbito das Lições Introdutórias do IPSM-MG, dedicadas às Sete Lições sobre Hamlet.
Na rubrica Encontros, elegemos os textos de Esteban Klainer e Leonardo Gorostiza. Em O quarteto de Jacques Lacan, Gorostiza propõe o quarteto — injúria, opacidade, jaculatória e silêncio — como instrumentos de leitura da interpretação analítica enquanto incidência da palavra e do significante sobre o corpo, o gozo e o real. No texto Uma leitura sobre o sintoma como acontecimento de corpo, Klainer busca detalhar a construção da noção de sintoma como acontecimento de corpo no último ensino lacaniano partindo da diferenciação entre fenômeno e acontecimento de corpo, percorrendo a pista de Joyce, necessária para que Lacan pudesse formular essa noção.
Para a Entrevista, conversamos com Márcio Abreu, dramaturgo, diretor e ator, que nos conta sobre seu percurso nas artes, principalmente a relação da escrita e da atuação com o corpo. Márcio aponta a importância da palavra e sua materialidade, incluindo a dimensão do silêncio, bem como o aspecto do corpo do espectador, necessário na sua orientação dramatúrgica.
Em Incursões, temos textos que orientaram as discussões realizadas nos núcleos de pesquisa do IPSM-MG e no Atelier de Pesquisa: Psicanálise e Segregação no último semestre. Compõem essa rubrica os textos Racismo e Identidade: um guia lacaniano para entender a questão, de Andréa Guerra; O inconsciente: da criança até o adolescer, e mais, de Cristiane Barreto; Fenômeno e acontecimento de corpo, de Sérgio de Campos; As temporalidades da medida protetiva de acolhimento, de Carlos Henrique Nunes e Alzheimer como ruptura do laço social: uma leitura psicanalítica, de Guilherme Ribeiro.
E, por fim, em De uma nova geração, contamos com textos produzidos pelos alunos do IPSM-MG: Uma dificuldade a mais na análise de uma mulher?, de Luciana Romagnolli, e As duas mortes de Ana Karenina, de Cirilo Vargas.
Acompanhando os textos apresentados, vocês encontrarão os trabalhos de Desali[1], a quem agradecemos imensamente por colorir esta edição com sua singular produção artística.
Agradecemos também aos autores e à equipe de publicação desta revista, em especial à Cecília Batista, responsável pela tradução de todos os resumos para o inglês.
Desejamos aos leitores que desfrutem desses textos tão precisos e que sua leitura ecoe em um desejo vivo de trabalho!
[1] Desali, 1983, Contagem, MG. Desali é formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard (UEMG). Participou das exposições “Enciclopédia Negra”, na Pinacoteca de São Paulo; “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, no Instituto Moreira Salles; 36º Panorama da Arte Brasileira: “Sertão”, no MAM; Bolsa Pampulha, no MAP, e da 32ª Edição do Salão Arte Pará. Já fez parte de residências, exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior. É autor de obras adquiridas pelo Centro Cultural São Paulo (acervo Arte da Cidade) e pelos acervos do Museu de Arte da Pampulha (MAP) e da Pinacoteca de São Paulo. Criador do Coletivo Piolho Nababo, há dez anos em Belo Horizonte, viaja por múltiplas linguagens, incluindo grafite, fotografia, vídeo e intervenção urbana, promovendo o contato entre a margem e o centro e questionando as instituições artísticas tradicionais e seu colonialismo, contaminando esses espaços com as ruas.