JÉSUS SANTIAGO
HELENA ALMEIDA, PINTURA HABITADA, 1975
Uma das questões clínicas com a qual a psicanálise atual se debate é saber até que ponto a doutrina do pai, no primeiro classicismo clínico de Jacques Lacan, está aquém do que se considera como a figura do pai na vida contemporânea. No fundo, o que se apresenta como um problema clínico se traduz pela questão de uma política do sintoma, do sintoma do que é ser pai nos dias de hoje. A crítica que se faz é que a concepção do pai, decorrente da concepção lacaniana do Nome-do-Pai como fator estruturante do inconsciente, está em franca defasagem com a insurreição de estilos de vida que, de uma maneira ou de outra, veiculam modos de gozo que, em si, já constituem uma contestação contundente à família tradicional patriarcal. Desde os anos 70 que o conservadorismo da psicanálise, nessa matéria, valeu-lhe uma acusação de “familialismo”. São Gilles Deleuze e Félix Guattari, com o Anti-édipo, que deploravam o atraso da psicanálise com relação à “esquizofrenização” geral do fluxo da libido. O processo instaurado por eles aparentemente visava apenas o Édipo freudiano, porém, na verdade, o seu intuito era atingir a própria contribuição de Lacan sobre o pai confundido com a lei do desejo. Em outras palavras, esse processo procura atingir a equação entre o pai e a lei, considerada como mais uma tentativa de fazer sobreviver o chamado “dogma paterno” na psicanálise[1].
A psicanálise não é a guardiã da ordem paterna
Não se pode negar que, em muitos momentos, o que se tornou um lugar comum – a tese lacaniana do “declínio do pai” – é apresentado com certo sentimento de nostalgia com relação à dissolução da família. Não faltam psicanalistas, mesmo lacanianos, que sonham com a ideia de recolocar a ordem simbólica e, evidentemente, o Nome-do-Pai no seu devido lugar, para poderem ainda ser subversivos. Jacques-Alain Miller propõe esse questionamento quando conjectura que, talvez, amanhã, ter-se-á uma psicanálise que terá como objetivo reconstituir o inconsciente do papai. Em um futuro bastante próximo, não vão faltar psicanalistas que procurarão reconstituir o inconsciente do papai ou o inconsciente de ontem. É a esse respeito que se compreende a diretiva irônica que Miller teve ocasião de assinalar, no IV Congresso da AMP, em agosto de 2004, na cidade de Comandatuba, a todos psicanalistas ali presentes: “(…) mais um esforço para ser reacionários, senão vocês não serão mais revolucionários…!” (MILLER, 2005, p. 10).
Nada mais avesso à orientação lacaniana do que tomar a psicanálise como uma guardiã da ordem paterna. Para o analista que se orienta pelo real, o cotidiano da clínica é um convite para dar provas de que as manifestações do inconsciente se mostram dissociadas do Nome-do-Pai. Em uma época em que o psicanalista lida com sintomas que se articulam com as mais novas expressões do mal-estar contemporâneo, torna-se uma tarefa vã recorrer ao pai enquanto uma lei necessária, universal e, portanto, capaz de dar consistência à realidade psíquica. Por outro lado, ao considerar os alicerces sobre os quais se constituíram o edifício da psicanálise, é fato de que não é nada fácil, para o analista, operar com o inconsciente que se apresenta desembaraçado do Nome-do-Pai.
Basta dar uma repassada no modo com que Lacan formula a questão preliminar a todo tratamento das psicoses para se perceber o quanto a estruturação do inconsciente se funda na simbolização primordial do Nome-do-Pai. Essa estruturação supõe admitir que o inconsciente é o discurso do Outro, ou seja, é o lugar da memória, concebida como palco de uma questão que permanece em aberto, tendo em vista que se mostra condicionada pela indestrutibilidade do desejo. A possibilidade de resposta a essa questão é dada, no tratamento analítico, pela própria instalação da cadeia significante, cadeia que se inaugura com a simbolização primordial, referida antes, e é considerada como o fator que torna possível captar as ligações lógicas entre o que há por significar e os efeitos do significante no sujeito, descritos como metáfora e metonímia. É o acidente nesse registro da simbolização, a saber, a foraclusão do Nome-do-Pai no lugar do Outro, que se aponta como a falha que confere especificidade à própria a estrutura do inconsciente na psicose, especifidade que a separa da neurose (LACAN, 1998, pp. 581-582).
A propósito dessa lei simbólica do pai como fundamento último da ordem inconsciente, é o caso, inclusive, de se levar em conta as referências de Freud que atestam o quanto o monoteísmo judaico-cristão é um passo decisivo na história da civilização. Se o próprio Freud elegeu o mito da lei do pai como a fonte do recalque, é evidente a dificuldade em desfazer-se de uma leitura da produção inconsciente que não se deixe contaminar por interpretações de cunho paterno e fálico. Sugerir que o inconsciente é incuravelmente fálico e dependente do amor ao pai é, no fundo, admitir que ele é surdo, por exemplo, ao ideal contemporâneo da igualdade entre os sexos. O analista surdo à reivindicação feminista da igualdade entre os sexos seria aquele que se inclui na chamada reação psicanalítica, visto que os ares dos tempos sopram no sentido de fazer vacilar os semblantes que davam sustentação às diferenças sexuais, sobretudo àquelas que se alimentavam do valor universal da dimensão paterna.
Como se vê, há uma sombra que permanece presente nessa paisagem, pois dificilmente se pode, nos dias de hoje, escutar o inconsciente pela orelha do amor ao pai. Nesse ponto preciso, retoma-se a discussão não apenas sobre o elemento subversivo da psicanálise, mas, sobretudo, sobre a eficácia de sua prática na civilização do gozo. No meu ponto de vista, parece-me inútil propor ao psicanalista que permaneça a reboque da sociologia feminista e da racionalidade relativista pós-moderna, com o argumento de que essas diferenças – sexuais – se restringem aos semblantes produzidos por essa civilização, visto que são ficcionais, transitórios e instáveis. É insuficiente, para ele, restringir-se a proposições de que uma orientação clínica para o sintoma e para o gozo deveria levar em conta o fato óbvio de que a família nuclear patriarcal está a ponto de ser extinta.
A crença no Um-inteiramente-só
Para contrapor-se ao ideal feminista de ‘igualdade entre os sexos’, é preciso levar em conta que o seu pano de fundo é a crença no “Um-inteiramente-só” (Un-tout-seul), que, como se sabe, tornou-se um significante-mestre da modernidade, uma espécie de standard do “pós-humano”. Como afirma o feminismo pós-identitário, não há nada que assegure a estabilidade das desordens da família moderna, considerada a família recomposta, senão a crença na igualdade entre os sexos. Em outras termos, para esses supostos representantes das mutações que se processam na época atual, resta-lhes o culto do “Um-inteiramente-só” (COTTET, 2005, p. 130).
No entanto, o último ensino de Lacan adverte ao psicanalista que se pode lançar um outro olhar sobre a presença dessa tendência civilizatória, expressa nesse signficante-mestre do “Um-inteiramente-só”. É a própria definição do inconsciente que se interpõe nessa contraposição, pois, ainda que seja acéfalo, o sujeito do inconsciente só faz o que ele quer, só faz o que lhe dá na cabeça (l’inconscient n’en fait qu’à sa tête)[2]. Utiliza-se essa definição, l’inconscient n’en fait qu’à sa tête, para dar substância ao autismo do gozo que é inerente a cada tomada de posição do sujeito do inconsciente. Esse autismo quer dizer que o inconsciente decidirá, por ele próprio, crer ou não crer, em função dos significantes-mestres que ele encontra em seu caminho e que lhe é possível, a partir daí, gozar. É nisso que o inconsciente é a política (MILLER, 2011). Ao encarnar a política, ele deve ser lido a partir da pulsão e do objeto perdido, e não mais a partir da identificação ao pai e à lei do amor.
Com isso quero dizer que, diante da inexistência do Outro, o inconsciente busca se compatibilizar com a exigência subjetiva de invenção, exigência característica do discurso do mestre pós-moderno. Ou seja, não há mais significantes-mestres únicos que tecem, de modo estável e prevalente, os ideais que comandam os rumos da existência humana. Se, no primeiro tempo, o inconsciente isola um significante-mestre, no momento seguinte, esse significante que se destacou se pluraliza e se multiplica, segundo um processo que, na língua francesa, se traduz pela homofonia entre “S1” e “enxame” (“essaim”). Isso quer dizer que não há apenas Um, há vários, há muitos significantes. Na época atual, há, portanto, sempre uma pulverização dos significantes-mestres (S1). Nada nos assegura que essa pluralização seja algo distinto de um conjunto caótico, mesmo sabendo que o enxame se desloca de modo agrupado. Em suma, afirmar a inexistência do Outro é admitir que a unicidade do significante-mestre deu lugar a uma constelação de significantes (Ibid. p. 20).
Para-além da unicidade do significante paterno
Ir além da unicidade do significante-mestre do pai é colocar à prova a clínica do Nome-do-Pai, concebido como um constructo necessário à apreensão das diversas posições do sujeito personificadas pelas modalidades do desejo: desejo insatisfeito, impossível, prevenido e outros. A própria história recente dos homens propaga a idéia de que o pai deixou de ser uma lei universal e necessária para se tornar um semblante que vem sendo, gradativamente, desvelado, desnudado. É o que também nos permite dizer, por outras vias, que a função do pai é a função do sintoma. Mais do que nunca, o psicanalista se vê habilitado a utilizar-se da hipótese clínica de que a questão paterna se mostra inserida no horizonte do que faz sintoma no âmbito do gozo. É, certamente, quando, no curso do tratamento, a posição de um pai inscreve-se, para o sujeito, nos moldes de um sintoma em que se criam as condições para ir além dele. É quando se pode cifrar o gozo do pai como sintoma que se tem uma chance de dispensá-lo por meio de um uso possível. Apenas pode-se dispensá-lo com a condição de saber usar essa letra de gozo, ou seja, colocá-la a serviço de uma outra forma de satisfação pulsional, forma, certamente, mais compatível com o vivo.
Colocar em prática um tal princípio clínico exigiu abandonar a ideia de que apenas o simbólico tem o poder de nomear o que é real e o que é imaginário. Não é somente a triplicidade do real, do simbólico e do imaginário que Lacan insere, na obra de Freud, mas também uma concepção de que esses três registros se mantêm atados pelo significante do Nome-do-Pai. Enfim, cabe colocar a questão: os elementos desse ternário podem estar amarrados de um modo distinto? É, certamente, isso que constitui toda a elaboração de Lacan a partir dos anos 70. Se os três registros podem ser enlaçados de uma outra maneira, ou seja, por uma via distinta da nomeação que tem como fonte o simbólico, torna-se necessário proceder a uma releitura do Nome-do-Pai. Em primeiro lugar, essa releitura do Nome-do-Pai o conduziu a estabelecer uma disjunção entre uma teoria do nome e uma teoria do pai. É a separação entre os problemas canibalísticos, ligados ao pai – os problemas da incorporação de um traço, que remontam a uma forma primária da identificação –, e a questão da nomeação.
A consequência última desse questionamento é afirmar que a nomeação pode ser tomada não apenas como simbólica, mas também como imaginária e real. Se Lacan enfrenta a questão da nomeação, é porque, no primeiro tempo de seu ensino, a nomeação aparece, quase que espontaneamente, sob o encargo do simbólico. Nesse primeiro tempo, a questão da nomeação se coloca da seguinte maneira: a chamada simbolização primordial é, antes de tudo, uma forma de nomeação que incide sobre o real concernido pelo desejo da mãe, cujo agente essencial é o Nome-do-Pai, que equivale ao pai esvaziado de gozo – enfim, ao pai morto. Em suma, antes, a nomeação simbólica, promovida pelo pai morto, cumpria um papel de ordenação da estrutura do inconsciente e, portanto, de transmissão da função fálica. Ao contrário, o último ensino passa, assim, a ser receptivo ao tomar tanto o imaginário quanto o real como fatores de nomeação. É evidente que essa mudança com relação ao problema da nomeação repercute diretamente naquele da transmissão do pai necessária à constituição do sujeito.
Adeus ao pai morto!
Quero sublinhar em que a questão paterna, para a clínica psicanalítica, se institui, por sua radical irredutibilidade, a uma determinada função universal dada pelo Nome-do-Pai. Desde o momento em que Lacan inventa o objeto (a), a face singular do exercício da paternidade define-se pelo fato de que o pai é sempre o “vetor de uma encarnação da lei no desejo”, na medida em que é capaz de deixar vazio o lugar que ocupa no seio da família. O pai que se toma por um pai, um pai sem falhas, um pai ideal, a exemplo do pai do Presidente Schreber, mostra-se um tirano na vida doméstica, quer colocar ordem na casa impondo uma solução e um regulamento para tudo. Sob essa perspectiva, a impostura paterna define-se pelo modo como o pai se confunde com uma lei universal, tornando-se, assim, a própria causa do filho.
A expressão “encarnação da lei no desejo” quer dizer, também, encarnação da lei naquilo que não pode ser, de forma alguma, um ideal. Não se desconhece, portanto, o fato de que as leis são feitas em nome de ideais e, nesse sentido, é preciso considerar que o discurso religioso, bem como o discurso jurídico, apenas funciona com o apoio desses ideais, buscando fazer acreditar que, sem eles, nada na vida tem êxito. Afirmar que a encarnação da lei se efetua no plano do desejo ─ e não no plano do ideal ─ é dizer que o pai pode humanizar o desejo pela via de um tratamento efetivo da satisfação pulsional que lhe concerne. É essa satisfação pulsional que assume, no ensino de Lacan, o nome de “modo de gozo”. Assim, a lei paterna não se alimenta das mais diversas virtudes morais, mas da questão de um pai, diante de seus filhos, saber, ou não, ser responsável pelo seu “modo de gozo”.
Isso significa que não há regras universais que configurem um manual de instruções concernentes ao que é ser pai. Há sempre pais, no plural ─ isto é, pais singulares ─, pois estes se caracterizam sempre em função dos seus modos próprios de gozo. Se é preciso vislumbrar a questão paterna para além de uma lei universal, é porque ser pai é tornar lei o particular – o particular do gozo que resiste a se deixar absorver pelos ideais, pelas identificações disponíveis ao longo do percurso de vida de um sujeito. Se essa responsabilização não acontece, não quer dizer que não haja transmissão do pai, exatamente, no ponto em que o pai se afirma com relação à montagem particular de seu modo de gozo.
Há algo no pai que extrapola a suposta função pacificadora do pai morto, pois é sabido que a metáfora do pai fracassa sempre em barrar o gozo. Muitas vezes, é-se forçado a admitir, no trabalho clínico, que o elemento transmissível da metáfora do pai corresponde muito mais à metonímia do gozo. Se há, no mito freudiano, morte do pai, e se há, no delírio schereberiano, morte da alma, morte do sujeito, não há, contudo, morte do gozo. A obra do Marquês de Sade é o maior exemplo desse caráter indestrutível do gozo, obra que coincide com a dimensão constante da pulsão. Conhece-se o gesto do Marquês, lavrado em testamento, que ordenava o apagamento de qualquer indício do nome próprio em seu monumento fúnebre. Apenas se compreende essa recusa da inscrição de seu nome quando se leva em conta o seu interesse supremo pela dimensão do gozo. Portanto, ele sempre postulou o gozo como o que o eternizaria enquanto ser, pois sempre concebeu o gozo como infinito e indestrutível. É essa dimensão do gozo infinito e inesgotável que eternizaria o seu ser e não como o significante do nome-próprio inscrito na sua obra escrita (SANTIAGO, 1996, p. 22).
Se, do ponto de vista da metáfora paterna, esse gozo infinito e indestrutível se mostra impossível, do ponto de vista da metonímia, ele é real – o que não o torna mais permitido. Para que o gozo se faça permitido, é necessário não tanto matar o pai – via sem saída –, mas reconhecê-lo como semblante. O semblante do pai é o signo de que houve transmissão do pai, naquilo que o divide, a saber, o real de seu modo de gozo. A apreensão do semblante paterno, no curso do tratamento, constitui o índice de que o sujeito pôde tocar no real do gozo tal como ele se explicita pelo modo como se instaurou a pai-versão. Fica evidente que é essa aproximação do pai ao gozo que levou Lacan a calcar sua nova concepção do função paterna na assonância entre a versão do pai (père-version) e a perversão (perversion). Ao contrário do pai morto, concebe-se a noção de pai-versão como uma contrapartida do caráter indestrutível do gozo trans-estrutural e trans-categorial e, nesse sentido, ela se constitui enquanto um pilar do que se designa como a vertente continuísta da clínica lacaniana, visto que convive bem com a transmissão do pai tanto em casos de neurose quanto em casos de psicose.
Fazer do pai um semblante
É claro que o pai singular que pude apresentar, no início desta exposição, está aquém de saber se responsabilizar pelo seu próprio modo de gozo. Em poucas palavras, tornar particular o gozo equivale a poder viver a pulsão. Nesse particular, o desejo do analista faz a diferença. Enquanto a transferência conduz a demanda à identificação, separando-a da pulsão, ao contrário, o desejo do analista, operando sobre essa curto-circuito da imagem, abre caminho para a pulsão. O que é que se produz quando a demanda do sujeito, dirigida ao analista, alcança a pulsão? É uma pergunta que Lacan faz e, a meu ver, possui um alcance clínico inestimável. Ele diz algo, a esse propósito, bastante curioso. Algo que, no fundo, envolve alguma obscuridade em sua formulação. Ele diz, simplesmente, que, nesse momento, a fantasia se torna pulsão. É muito estranho dizer que a fantasia, uma vez que se tenha franqueado o plano das identificações, se transforma na pulsão.
A formulação dessa questão apenas é possível porque tanto a pulsão como a fantasia se articulam em função do traço comum que reúnem, uma e outra, que é a relação ao gozo. Isso comporta a ideia de que o sujeito mais aquém do plano da identificação, ou mesmo instalado no plano da identificação, deixa a pulsão confinada pela satisfação da fantasia. Cabe colocar a questão sobre o que é o gozo sob o crivo da fantasia e o que se faz com ele para-além do dispositivo fantasia. É preciso, assim, criar as condições para que o sujeito possa localizar-se com relação ao objeto (a) para que a fantasia cesse de mascarar a pulsão. De outro modo, o chamado franqueamento do plano da identificação apenas é possível por meio da separação do sujeito, na experiência analítica, do ponto em que ele se confunde com o objeto (a).
Essa separação entre o sujeito e o objeto (a), no desenrolar do tratamento analítico, equivale à separação entre os significantes-mestres e o mais-gozar, de forma que este último vai, pouco-a-pouco, adquirindo consistência. Captar a pai-versão é fazer do pai um semblante, é resgatar o “como” do gozo que contrasta, frontalmente, com as virtudes e os ideais que esse pai encarnava enquanto um religioso devoto e abnegado à causa do cristianismo. Eu diria que o eixo essencial da orientação clínica, do último ensino, sobre a questão paterna, exige levar às últimas consequências a separação entre os significantes-mestres e o mais-gozar. A pai-versão é a apreensão do pai no ponto preciso do seu laço com uma mulher particular, e não com um universal, tampouco da mãe enquanto sempre proibida e, nesse sentido, sempre universal – é o laço com algo particular do feminino que presentifica, para um pai, a causa de desejo.