UNIDADE I

O INCONSCIENTE E O PARLÊTRE

Em que o inconsciente lacaniano representa uma contribuição ou uma divergência em com­paração ao inconsciente freudiano? Inicialmente, o recalque, que caracterizou o essencial do inconsciente para Freud, deixa de ser uma categoria fundamental. Diferentemente de Freud, Lacan não parte da memória para construir a noção de inconsciente; retêm desta, apenas “a inscrição em um significante”. Além disso, para Lacan, de maneira muito mais marcante, ainda atribuindo a posição à Freud, “o inconsciente está estruturado como uma linguagem”, o que deve ser entendido não somente como algum discurso que faria fundo para o sujeito, mas como algo que fala, no qual o sujeito desempenha um papel. O que aparece gradualmente no ensino de Lacan é que o inconsciente é menos uma descoberta que uma construção. “Isso não descobre nada [...], o inconsciente inventa”. A unidade I propõe acompanhar a maneira como o conceito de inconsciente é trabalhado e retrabalhado até as últimas formulas do Unbewußt.

UNIDADE II

NEUROSES CLÁSSICAS E CONTEMPORÂNEAS

“A neurose é uma questão formulada pelo sujeito no nível de sua própria existência.” Essa questão assume, na histeria, as seguintes formas: O que quer dizer o sexo que tenho? O que quer dizer o sexo? O que quer dizer ter um sexo? O que quer dizer a diferença entre os sexos? O que quer dizer que eu possa mesmo me formular essa questão? Em definitivo, todas recaem sobre a questão de saber o que é ser mulher. Na neurose obsessiva, onde está em jogo não apenas a relação do sujeito com o seu sexo, mas sua relação com o próprio fato de existir, as questões se formulam da seguinte maneira: O que é existir? Como sou com referência àquele que sou sem o ser, já que posso, de alguma maneira, dispensá-lo, distanciar-me dele o bas­tante para me conceber como morto? “A morte aparece como figura limite para responder à pergunta sobre a existência.” A neurose se define como uma pergunta que o desejo endereça ao seu ser. Assim, se a neurose é uma espécie de questão fechada para o sujeito, mas organi­zada, estruturada como questão, os sintomas se deixam compreender como os elementos vivos dessa questão articulada, sem que o sujeito saiba o que ele articula. Desse modo, a unidade II propõe o estudo da histeria e da neurose obsessiva definidas como perguntas do desejo ao ser, a partir de casos clínicos como Dora e o Homem dos Ratos, mas também das formas atuais de suas apresentações, em que sobressaem os novos sintomas.

UNIDADE III

AS PSICOSES: UMA REORIENTAÇÃO CLÍNICA

Nesta unidade a psicose será situada, inicialmente, a partir da psiquiatria clássica e seus impasses, bem como da clínica estrutural baseada em uma classificação cujo modelo se sustenta na pre­sença ou ausência da função paterna. Abordaremos o caso Schreber como um paradigma no qual a ausência da função paterna estruturante terá como efeito a desintegração do mundo e a posterior construção do delírio como tentativa de repará-lo. Em seguida, faremos uma leitura lacaniana do caso do Homem dos Lobos. Inquietante, ele surge como “uma serpente e seus mistérios” e marca o momento no qual essa classificação, sustentada na função simbólica do pai, começa a ser abalada, evidenciando novos elementos que desregulam o modelo clínico baseado em uma referência universal. A partir   da elaboração de Lacan sobre “a desordem na junção mais íntima do sentimento de vida do ser”  serão abordadas as novas formas de apresenta­ção da psicose, nomeadas por Miller de “psicoses ordinárias”. As oscilações do humor serão investigadas a partir das operações de constituição do sujeito, alienação e separação. E no que tange ao autismo, nos perguntaremos: como abordá-lo, clinicamente, hoje, a partir da psicanálise?

UNIDADE IV

PSICANÁLISE APLICADA

Há uma contradição entre a psicanálise e a Instituição, uma vez que a primeira lida com o singular do caso clínico enquanto a Instituição está inserida na lógica do universal. Quando o analista se faz presente na instituição e na cidade, cabe a ele inserir o ato da palavra, pois não basta que alguém escute para que se faça presente um sujeito que fala. A Unidade IV propõe elucidar o tema “A ação lacaniana nas Instituições”. A formalização dessa prática e a construção de sua teoria será abordada por meio dos dispositivos: Construção do caso clínico, Clínica feita por muitos, Apre­sentação de Paciente. Será abordado, também, o dispositivo das Conversações Interdisciplinares, proposto por Jacques-Alain Miller, assim como os casos clínicos apresentados nas Conversações Clínicas do Campo freudiano.

 

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