MÁRCIA MEZÊNCIO
Apresento-lhes a edição n.14 de Almanaque on-line. Nessa edição, buscamos, mais uma vez, apresentar aos nossos leitores o trabalho que se desenvolve no IPSM-MG, em seus espaços de ensino e investigação. Nossos temas, alinhados ao da comunidade de trabalho da Orientação Lacaniana, acentuam a sintonia com o momento civilizatório em que vivemos e praticamos.
Começamos esta edição traçando as referências teóricas para a localização do psicanalista na clínica atual e em sua presença na cidade. Assim, em Trilhamento, acompanharemos, passo a passo, em um percurso nos textos de Freud e Lacan, o caminho que vai da agressividade à pulsão de morte, através da leitura que Éric Guillot nos apresenta dos fundamentos e mecanismos da agressividade e da pulsão de morte, conceitos que, segundo o autor, estão no coração da clínica das passagens ao ato violentas e que podem nos ajudar a esclarecer o fenômeno da violência contemporânea.
O tema da passagem ao ato também é discutido por Frederico Feu, em Incursões, a partir da leitura do Seminário, livro 10, de J. Lacan. Tomando o eixo desse seminário que é a elaboração do conceito de objeto a, ele busca retrabalhar a diferença estrutural entre neurose e psicose e abordar o tema da passagem ao ato como uma modalidade de resposta do real nas psicoses.
O real que se apresenta na prática dos psicanalistas foi o tema trabalhado pela Seção Clínica durante o primeiro semestre de 2014. Da investigação dos núcleos, publicamos o comentário de Márcia Mezêncio, no Núcleo de Psicanálise e Direito, em torno da formulação de Lacan sobre o utilitarismo da pena e suas consequências sobre a função da punição, e ainda duas produções do Núcleo de Psicanálise com Crianças. Cristiana Pittela de Mattos traz-nos a proposta de investigação sobre o real que se apresenta na clínica com crianças, na tentativa de definir “como ele se faz presente na puberdade; como o sintoma é uma resposta ao trauma; como o trauma se faz presente na devastação materna” — que poderemos acompanhar no trabalho de Andrea Eulálio, Margaret Couto, Maria das Graças Sena; “como a angústia é um sinal do real do trauma; também o real do trauma no autismo e nos pesadelos.”
O autismo é outro tema da atualidade que está presente nesta edição com um artigo de nossa colega argentina Silvia Tendlarz, em que discute o momento atual dos diagnósticos. Destacamos sua afirmação de que há transferência na direção da cura da criança autista e de que se devem determinar, em cada caso, suas particularidades e suas consequências na cura. A invenção, sustenta, é convocada não só do lado da criança, mas também do analista. Encontramos, aí, a orientação da pesquisa neste semestre, que nos inspirou a Entrevista com os membros da Comissão Científica do XX EBCF: pedimos a eles para localizar, em sua prática, o surgimento desse real e indicar-nos as possibilidades e invenções que este convoca.
Em Encontros, Guilherme Cunha Ribeiro propõe uma parceria entre Medicina e Psicanálise, como forma de encontrar opções epistêmicas para sustentar o trabalho do médico, alternativas à clínica da avaliação e do protocolo, prevalente na prática da medicina contemporânea. Registro de atividade conjunta dos núcleos Psicanálise e Medicina e Psicanálise e Toxicomania.
Finalmente, em De uma nova geração, encontramos o vigor e o rigor do trabalho de transmissão sustentado pela Seção de Ensino. O trabalho de Thiago Borges propõe um retorno a um texto fundamental de Jacques-Alain Miller e a um tema também fundamental na clínica contemporânea: a psicose não desencadeada, chamada, entre nós, de psicose ordinária.
Não deixem de ler!