O ato de leitura em psicanálise1
Ram Mandil
Psicanalista, A.M.E. da Escola Brasileira de Psicanálise/AMP
mandil.bhe@terra.com.br
Resumo: O autor parte da constatação de que vivemos na era da gestão como modelo da ação, como cálculo de proveitos e codificação das escolhas, em nome do bem-estar individual ou coletivo. Nesse sentido, ele destaca a importância de colocar o ato analítico em perspectiva, em um tempo no qual se busca tamponar os encontros, cada vez mais frequentes, com a inconsistência do Outro. E esclarece que é a partir do discurso analítico que podemos orientar o debate sobre a ordem simbólica no século XXI em uma nova dimensão, levando em conta o contraste entre o simbólico como cadeia significante e o simbólico definido em relação ao furo, ao trauma, ao que não cessa de não se escrever.
Palavras-chave: ato analítico; ordem simbólica; cadeia signficante; furo.
THE ACT OF READING IN PSYCHOANALYSIS
Abstract: The author starts from the observation that we live in the era of management as a model of action, as a calculation of profits and codification of choices, in the name of individual or collective well-being. In this sense, he highlights the importance of putting the analytical act into perspective, at a time when we seek to buffer the increasingly frequent encounters with the inconsistency of the Other. And it clarifies that it is from the analytical discourse that we can guide the debate on the symbolic order in the 21st century in a new dimension, taking into account the contrast between the symbolic as a signifying chain and the symbolic defined in relation to the hole, the trauma, the that never ceases to be written.
Keywords: analytical act; symbolic order; signifying chain; hole.
O que pode ser o ato analítico na época dos protocolos e das diretrizes terapêuticas, em que a ação ideal consiste em reduzir, ao mínimo, toda possibilidade de imprevisto? Como observa Éric Laurent, trata-se de um ”ideal de ação calculada”, na medida em que um ato é concebido como assimilável ao raciocínio, como a conclusão lógica das suas premissas.[2] Ele nos lembra que vivemos a era da gestão como modelo da ação, como cálculo de proveitos e codificação das escolhas, em nome do bem-estar individual ou coletivo. Nesse sentido, é importante colocar o ato analítico em perspectiva, numa época em que se busca tamponar os encontros, cada vez mais frequentes, com a inconsistência do Outro. Assim, podemos dizer que há uma foraclusão do ato em muitos domínios de nossa cultura que envolvem a tomada de decisões, quando se manifesta uma descontinuidade entre o ato e suas premissas.
O ato analítico e o ato de leitura do sintoma
No que diz respeito ao ato de leitura em psicanálise, na perspectiva do ato analítico, vamos nos referir a uma passagem do caso Dora, mais precisamente à maneira como Freud trata um de seus numerosos sintomas: sua tosse persistente, sua tussis nervosa.
De início, Freud observa que sua tussis, frequentemente acompanhada de um sintoma de afonia, estava diretamente associada à presença ou ausência do homem para qual ela dirigia seu amor naquele momento. Ele ressalta que os episódios de tosse coincidiam com os deslocamentos que o Sr. K. devia fazer. No entanto, ele sugere que ela precisava encontrar um meio para dissimular a coincidência entre seus acessos de tosse e a ausência do homem que ela amava em segredo. De toda maneira, segundo Freud (1905[1901]/1972, p. 37), é preciso ler na periodicidade das crises de tosse “um traço de seu significado original”. Logo em seguida, Freud abre uma discussão sobre a causa dos sintomas histéricos. Devemos considerá-los como sintomas “somáticos” ou como sintomas “psíquicos”? Mesmo sob a perspectiva do somático, Freud indaga-se em que medida eles são influenciados pelo “pensamento”. Pode-se colocar isso em perspectiva com as recentes elaborações de Jacques-Alain Miller (2011, p. 56-57), especialmente em relação à diferença que ele estabelece entre um “fenômeno de corpo” e um “acontecimento de corpo”. Deve-se tomar um acontecimento de corpo como um efeito do impacto do significante, o que implica um desarranjo ou um desvio do que se imaginaria ser “o gozo natural do corpo vivo”. Dito de outro modo, deve-se considerar um acontecimento de corpo, no sentido do sintoma, como um efeito da ação do significante, “que opera fora do sentido”. É desta ação do significante que se produz uma metáfora, ponto de partida para a metonímia do gozo, na qual se veicula a dialética da significação.
Nesse sentido, vale a pena trazer aqui extrato do texto de Freud (1905[1901]/1972, p. 44):
Tanto quanto posso ver, todo sintoma histérico […] não pode se produzir sem uma certa complacência somática que se manifesta por um processo normal ou patológico num ou sobre um órgão do corpo. Esse processo só se produz uma vez – e a capacidade de repetir-se é uma das características de um sintoma histérico – a menos que tenha uma importância, um significado psíquico. O sintoma histérico não tem esse significado, em si, mas tem o significado que se lhe empresta, soldado a ele, por assim dizer; e em todos os casos o significado pode ser diferente, segundo a natureza dos pensamentos recalcados que estejam lutando por expressão.
Examinemos uma das interpretações que Freud faz da tosse de Dora. Pode-se dizer que ele toma, de início, esse sintoma do lado da metonímia: como suas queixas contra seu pai persistiam ao mesmo tempo que seus acessos de tosse, Freud (1905[1901]/1972, p. 44) escreve que foi “levado a pensar que esse sintoma podia ter uma significação em relação ao seu pai”. Por outro lado, Freud (1905[1901]/1972, p. 44) vai atrair nossa atenção para o aspecto metafórico do sintoma, sua relação com o gozo sexual, o sintoma como substituto de um prazer sexual: “o sintoma significa a representação – a realização – de uma fantasia de conteúdo sexual”.
Lembremos, aqui, a vinheta bem conhecida na qual Freud encontra outra ocasião para interpretar a tosse de Dora. Ele sublinha a insistência de Dora ao dizer que a Sra. K. não estava apaixonada por seu pai, mas que apenas estava com ele porque ele era “ein vermögender Mann” (um homem de posses, rico). Aqui é importante seguir, de perto, o texto de Freud (1905[1901]/1972, p. 45):
Certos pormenores da maneira como ela se expressou – particularidades que omito aqui, como a maioria das outras partes puramente técnicas do trabalho da análise – levaram-me a perceber atrás desta frase o seu sentido oposto oculto, ou seja, que seu pai era um homem sem recursos. [O que em alemão – “ein unvermögender Mann” – significa também um homem impotente, no sentido sexual do termo.]
O que parece importante não é a emergência de uma significação escondida, mas a revelação de uma contradição com um valor de significante da falta no Outro. Freud apresenta a contradição a Dora: como ela pode insistir, ao mesmo tempo, numa ligação sexual entre seu pai e a Sra. K. e a impotência de seu pai? Pode-se ver aqui que a falta no Outro aponta para um impasse na relação sexual. É notável como, naquele momento, o fantasma de Dora vem justamente tapar esse furo, ao dizer a Freud que existem muitos outros meios de obter prazer sexual. Nesse momento ela confessa pensar no sexo oral.
Duas dimensões do sintoma se fazem aí presentes: a que é apreendida pelo sentido e a que permanece opaca a toda significação. Pode-se dizer que o gozo apreendido pelo sentido é o que está enquadrado no fantasma. No caso de Dora, Freud (1905[1901]/1972, p. 45) faz esta observação:
A conclusão era inevitável no sentido de que, com sua tosse espasmódica que, como de hábito, se reportava por seu estímulo excitante a uma cócega na garganta, ela pintava para si mesma uma cena de satisfação sexual per os entre as duas pessoas cujo caso amoroso ocupava tão incessantemente sua mente.
Ainda que Freud reconheça no desaparecimento do sintoma, logo após essa interpretação, uma confirmação de sua tese segundo a qual o sintoma desaparece uma vez sua significação revelada, ele também deixa margem para um aspecto do sintoma que permanece fora do alcance do sentido. Para Freud, um sintoma não pode ser completamente elucidado pelo sujeito, e é justo aí que reside sua eficácia como sintoma. Aliás, como esse sintoma da tosse de Dora sempre se mostrou intermitente, Freud encontra aí uma possível explicação de seu desaparecimento. Mas, de fato, ele não parece duvidar que sua dissolução decorre desta interpretação.
Vamos nos referir agora à relação que Freud estabelece entre o sintoma de tosse de Dora e o seu corpo. Além de ser uma forma de identificação com seu pai, pelos espasmos e pelos mucos – dois elementos de conotação sexual –, pode-se reconhecer nessa tosse, tal como Freud a analisa, aquilo que J.-A. Miller identifica como sendo os dois níveis de gozo: o gozo do corpo vivo, na sua dimensão autoerótica, e o gozo marcado pelo significante. Freud (1905[1901]/1972, p. 80) dá uma boa imagem da relação entre os dois: primeiramente, ele descreve a dimensão autoerótica do sintoma de Dora como a presença, em sua garganta, “de uma irritação real e orgânica”, que funcionava, diz ele, como “o grão de areia ao redor do qual a ostra forma sua pérola”. Depois, ele precisa: “Esta irritação era suscetível de fixação, pois dizia respeito a uma parte do corpo que, em Dora, conservara acentuadamente sua importância como zona erógena” (FREUD, 1905[1901]/1972, p. 80). Essa irritação convinha para a expressão de todos seus diferentes estados de excitação libidinal. Em torno do grão de areia contingencial observa-se a formação de um gozo que conflui com o sentido, de um gozo situado na relação com o Outro, seja a tosse de Dora entendida como signo da identificação com seu pai, seja como representação de sua relação com o Sr. K., ou, bem, a tosse como representação-realização de uma relação sexual fantasmática através de sua identificação com a Sra. K.
Podemos concluir que a leitura do sintoma de Dora pode ser feita em duas dimensões: ou se lê nele a expressão de uma polifonia de sentido, ou orienta-se a leitura para separá-lo de todas suas significações. Nessa perspectiva, pode-se dizer, valendo-me aqui da metáfora freudiana, que a leitura de um sintoma consiste no esforço para ler o grão de areia no interior da pérola, o grão de areia em torno do qual a pérola se formou.
A metáfora do grão de areia não deixa de evocar aqui uma outra metáfora, a que Lacan criou sobre a letra como “litoral”. Um litoral enquanto diferente de uma fronteira, na medida em que ele articula dois lados heterogêneos, como a terra e o mar. Dito de outro modo, a letra tanto como elemento simbólico, quanto um receptáculo do gozo, aspecto que se torna mais evidente quando ela não está comprometida com o sentido.
Ler um sintoma, ler o inconsciente
Interroguemos, agora, a relação entre “ler um sintoma” e “ler o inconsciente”. Em “Ler um sintoma”, J.-A. Miller insiste sobre a diferença entre os dois: o sintoma, em sua relação com o real, se apresenta como fixação, como o que está sempre no mesmo lugar, enquanto se percebe o inconsciente a partir de fenômenos fugazes, como os sonhos, o lapso, os atos falhos, etc.[3]
Lembremos aqui algumas das ideias de Jacques Lacan sobre a leitura no discurso psicanalítico, especialmente a última passagem da lição do Seminário 20, Mais, ainda: “A função do escrito”. Sabemos que, nessa passagem do Seminário, ele tem a escrita de James Joyce em mente. Lacan compara o ato de leitura em psicanálise ao esforço que devemos fazer para ler Finnegans Wake. Só podemos ler uma formação do inconsciente ou um lapso, do mesmo modo como é exigida a leitura de Finnegans Wake, como um número infinito de leituras possíveis. Não se pode lê-los, senão como mau-lidos ou de maneira oblíqua.
“O de que se trata no discurso analítico é sempre isto – ao que se enuncia de significante, vocês dão sempre uma leitura outra que não o que ele significa”, dirá Lacan (1972-73/1985, p. 52). De certa maneira, é o que se pode inferir do ato de leitura que Freud fez do sintoma de tosse de Dora. O que se diz, como significante, podia ter uma multiplicidade de sentidos. Logo, isso não tem uma significação particular, o que indica, de certo modo, a presença do lugar vazio da significação.
No entanto, na mesma lição, Lacan introduz uma nova dimensão ao ato de ler o inconsciente: a dimensão do ler-se. Ele produz uma alegoria da observação das abelhas e dos pássaros: por exemplo, se vemos um grupo de pássaros voar baixo, dizemos que uma tempestade se aproxima. Em certa medida, pode-se comparar esta leitura com a leitura do inconsciente, pela vertente do sentido. Mas o que Lacan quer saber é se se pode considerar que os pássaros fazem também esta leitura de sua maneira especial de voar, como estando em relação com a tempestade. Segundo ele, esta é a verdadeira questão da leitura do inconsciente. Como já observou J.-A. Miller, a questão é saber se nós podemos considerar o próprio inconsciente como um leitor, como um intérprete. Donde a questão de como ler o inconsciente, visto ser ele um leitor de si mesmo.
Lacan nos faz observar que, no discurso analítico, supomos que o sujeito do inconsciente é um sujeito que sabe ler. Pode-se supor não apenas que ele sabe ler, mas que ele pode também aprender a ler. No entanto, essa lição conclui de forma enigmática, quando ele afirma que aquilo que o sujeito do inconsciente pode aprender a ler não tem nada a ver “com o que vocês possam escrever a respeito” (LACAN, 1972-73/1985, p. 52). Uma das interpretações possíveis desta frase é que aquilo que o inconsciente pode verdadeiramente aprender a ler, ao longo de uma experiência analítica, é alguma coisa que não pode se escrever. O que não pode se escrever, e sabemos disso através do próprio Lacan é, de fato, a relação (rapport) sexual entre os falasseres (parlêtres).
O escrito para não se ler
Uma semana antes desta lição sobre a função da escrita no discurso analítico, Lacan havia redigido um Posfácio ao livro 11 do seu Seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Nesse Posfácio, há nova referência a James Joyce, como aquele que introduziu a dimensão da escrita como não sendo destinada à leitura: “um escrito como para não se ler” (LACAN, 1964/1985, p. 263).
Há aqui um contraponto que deve ser levado em consideração. No fim da lição sobre a função do escrito do Seminário 20, Lacan indica uma leitura disso que não pode ser escrito. No entanto, devemos levar em conta que o que não pode ser escrito – a relação sexual como impossível – deixa uma marca, um traço que abre para a dimensão da letra. Lacan o havia assinalado quando introduziu o matema S(Ⱥ), o significante da falta no Outro. Nós podemos inferir que este significante pode ser considerado como uma letra, uma letra a ser lida como “um grão de areia”, e não como um significante a espera de uma significação.
Gostaria de me referir aqui a uma passagem de Um retrato do artista quando jovem, de James Joyce, na qual se percebe como a letra vem em primeiro plano a cada vez que o sujeito se vê confrontado com a inconsistência do Outro.
Numa passagem dessa obra encontra-se o seguinte diálogo entre o jovem Stephen Dedalus – “James Joyce tentando decifrar seus enigmas”, segundo Lacan – e Wells, seu colega de classe:
Depois que ele saiu, Wells veio até Stephen e lhe disse:
“Diga-nos uma coisa, Dedalus, você beija sua mãe antes de ir deitar?”
Stephen respondeu:
“Beijo, sim.”
Wells virou-se para os demais camaradas e disse:
“Escutem uma coisa, este camarada aqui está dizendo que beija a mãe dele todas as noites antes de ir deitar.”
Os outros garotos pararam de jogar e se viraram todos naquela direção, pondo-se a rir. Stephen corou e disse:
“Não beijo nada.”
Wells disse:
“Escutem vocês, este camarada aqui está dizendo que não beija a mãe dele antes de ir deitar.”
Eles todos tornaram a rir. Stephen tentou rir com eles. Sentiu todo seu corpo quente e confuso, de súbito. Qual era a resposta certa para tal pergunta? Ele tinha dado duas e ainda assim Wells rira. […] Fora Wells que o empurrara para dentro da valeta na véspera […] Agir assim era uma coisa má; todos os camaradas tinham dito. E como a água estava fria e escorregadia! […]
O lodo visguento do fosso tinha coberto o seu corpo inteiro; […] Tentava ainda pensar qual seria a resposta certa. Era direito beijar sua mãe, ou não era direito beijar sua mãe? Que significava isso, beijar? Punha-se a cara para cima, assim, para dizer boa noite, e então a mãe abaixava o seu rosto. Isso é que era beijar. Sua mãe punha os lábios na sua face; os lábios dela eram moles e umideciam a face; e faziam um barulhinho diminuto: bift! por que as pessoas faziam isso assim com seus rostos? (JOYCE, 1998, p. 17-18)
Nessa passagem, gostaria de chamar a atenção para o fato de Stephen estar aqui confrontado com a inconsistência do Outro, ou melhor, com o enigma da falta no Outro. Qual é a resposta certa? O que o Outro quer de mim? É interessante notar que esse fragmento é seguido de certos acontecimentos de corpo: ele sente seu corpo quente e confuso. Depois ele se lembra do momento em que foi jogado no fosso, o corpo todo coberto com um lodo frio. Mas o que chama a atenção é que Stephen passa da interrogação sobre a resposta certa para um questionamento sobre a própria palavra beijar – kiss. Ele não se interessa tanto pelo sentido da palavra kiss, mas principalmente por uma suposta relação entre essa palavra e o corpo, entre essa palavra e o gesto que lhe corresponde. O parágrafo termina com Stephen associando as letras dessa palavra com a materialidade do som. Kiss, ao final, é a escrita do som que vem da boca. É também o meio que ele encontra para cifrar, condensar o gozo no qual fora jogado através do enigma insolúvel produzido pelo colega. Pode ser que esta passagem nos ajude a compreender o que é o ato de ler um sintoma, se o tomamos como “o encontro material entre um significante e o corpo, o próprio choque da linguagem sobre o corpo” (MILLER, 2011. p. 58).
Dois pontos podem enriquecer o debate sobre o ato de leitura em psicanálise. De um lado, acompanhando as elaborações de J.-A. Miller sobre o estatuto do inconsciente, é bastante útil a distinção que ele faz entre “o inconsciente real” e “o inconsciente transferencial”. Essa distinção dá um duplo estatuto ao inconsciente, ou mais, ela permite conceber o inconsciente como um Janus. Nesse sentido, poder-se-ia tomar o inconsciente real como um enxame de S1 (essaim) ou como letras que funcionariam como receptáculos para o gozo fora do sentido. Nosso interesse pela leitura do inconsciente deveria ser contrabalançada pelo que vem da leitura do sintoma. Se existe uma parte do sintoma que responde à leitura do inconsciente, o que está em questão é a possibilidade de ler, no sintoma, o que resta e o que se repete, produzindo um gozo fora do sentido para o sujeito.
O segundo ponto está implicado na oposição entre o sujeito considerado como “falta-a-ser” e o sujeito considerado como um furo. Segundo J.-A. Miller (2012, s/p), dever-se-ia pensar “a relação ou a filiação, e, portanto, a diferença entre a falta-a-ser e o furo. Com esse furo Lacan queria, em seu último ensino, definir o próprio simbólico, defini-lo como furo”.
A partir do discurso analítico, podemos orientar o debate sobre a ordem simbólica no século XXI para uma nova dimensão, levando em conta o contraste entre o simbólico como cadeia significante e o simbólico definido em relação ao furo, ao trauma, ao que não cessa de não se escrever.