CRISTIANA PITTELLA E MARGARETH COUTO
A investigação do tema das imagens proposto pela Seção Clínica do IPSM-MG “As imagens na clínica e nas instituições: ver, fazer, mostrar”, em consonância com a do VII Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana (Enapol) “O Império das Imagens”, nos traz uma série de questões que atravessam cotidianamente nossa clínica com crianças tal como afirma seu argumento: “as imagens, em certo sentido, se sobrepuseram às palavras e assumiram o poder de ordenar, comandar e organizar nossas ações” (SOUTO, 2014).
Qual a função das imagens para o ser falante? Como essas imagens afetam seu modo de satisfação, suas identificações e suas escolhas de objeto?
Quais as consequências para a forma de apresentação dos sintomas? De que maneira podemos tratar pela palavra aquilo que se apresenta sob o domínio das imagens? Essas são indagações propostas a cada um dos núcleos e que permite à Psicanálise se inserir nesse campo de debate a partir de sua especificidade: a relação entre a imagem e o real.
I – O Domínio Das Imagens Na Cultura
Vivemos uma verdadeira proliferação e profusão de imagens. O consumo das imagens – via diferentes tecnologias, das mais antigas, como a televisão, até as mais modernas, como a internet e seus diferentes dispositivos de redes sociais para captação e publicação de imagens – reforça a noção de estar junto, enfatiza o ideal comunitário assim como uma fascinação pela vida do outro, um imperativo de fama e celebridade. Cria-se a ilusão de que não estamos sozinhos ou de que compartilhamos do mesmo mundo. Esse turbilhão de imagens formando um espetáculo onde tudo deve ser filmado, mostrado e visto, constitui um verdadeiro império das imagens.
Hector Gallo, no terceiro Boletim do Enapol, lembra-nos que a palavra império, tomada do latim imperium, denota ordem, mandamento, soberania. Evoca, portanto, as noções de poder, comando e domínio. Para ele, afirmar que assistimos, no século XXI, a um império das imagens, supõe considerar que estamos submetidos a tudo aquilo que se localiza do lado da representação, da aparência, da virtualidade, daquilo que se pode ver, e do semblante.
Até mesmo o saber científico que foi constituído sob a base de ir além do dado perceptivo rendeu-se ao poder da imagem. Cada vez mais os diagnósticos médicos baseiam-se na evidência de imagens. A hipótese diagnóstica, fundada na história sobre o sintoma, contada pelo sujeito, tornou-se obsoleta.
Quando Guy Debord escreveu A sociedade do espetáculo (1967), analisava o discurso midiático, principalmente o da televisão, de criar o poder do espetáculo. Para ele, o espetáculo concentra todo olhar e toda consciência, afirmando toda vida humana como simples aparência. O espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo. O mundo real transforma-se em imagens e o espetáculo é uma tendência a fazer ver o mundo que não pode ser tocado diretamente.
O momento de teorização de Debord supõe uma cisão entre o mundo real e o mundo das imagens, e seu trabalho denuncia o exagero da mídia que ultrapassa sua função de comunicar chegando aos excessos, criando uma espetacularização da realidade.
Para ele, a lei fundamental desses tempos espetaculares seria “Se uma coisa existe, já não é preciso falar dela” (Debord, 1997, p. 170): basta ver! Enfim, a imagem substitui a palavra, e o princípio do fetichismo da mercadoria se realiza completamente no espetáculo, no qual o mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens. No pensamento de Debord, o espetáculo das imagens impediria o acesso ao real.
Entretanto, para Gérard Wajcman, autor do livro L’oeil absolut (2010), na contemporaneidade assistimos a uma mutação sem precedentes na história humana com a introdução de um novo regime do olhar. Para ele, o mundo tornou-se um imenso campo do olhar, onde tudo se mostra. Trata-se de uma ideologia surgida nas últimas décadas do século XX, sustentada pelas ciências e aliada aos avanços tecnológicos cujo imperativo é: “todo o real deve ser visto”. Isso supõe a visibilidade do real de modo que nenhuma opacidade possa resistir ao Olho absoluto. Essa ideologia que exalta o princípio de transparência e a suposição de que o real seria inteiramente transparente se estendeu em todos os domínios da sociedade. A consequência dessa máxima é que tudo que não pode ser visto não existe: “máxima do Instagram: publico, logo, existo”. Trata-se não mais de uma espetacularização do mundo, tese desenvolvida por Guy Debord em 1967, mas de uma big brotherisação, uma exigência de visibilidade. O mestre pretende hoje ter o poder de ver tudo. Somos olhados o tempo todo, tornando-nos vítimas ou atores, objetos e agentes desse olhar. Para ele, as câmeras de videovigilância são as armas desta época.
Se a criança era um ser antecipado pelas palavras, aquele de quem os futuros pais falavam de seu desejo ou temiam a vinda de um filho, a criança era imaginada. Hoje a criança é vista; antes de vir ao mundo se encontra imersa em um mar de olhares das máquinas tecnológicas: um feto é primeiro um ser virtual, uma imagem apresentada e vista nas redes sociais. “O olhar posto na imagem do feto cria a criança”. As imagens médicas inventam um novo nascimento, nos diz Wajcman, e a consequência, ele ressalta, é a crença de que seríamos solúveis no visível, sem restos.
Quais os efeitos da presença desse Olho que pretende ver tudo – na vida, no modo de satisfação e na produção do sintomas contemporâneos? Como o gozo de modalidade escópica incide na subjetividade da criança e do adolescente nos dias de hoje?
Poderemos também investigar como algumas mães angustiadas, ajudadas pelas tecnologias e pelo mercado, encarnam hoje esse olho – vigiam seus filhos, espionam e o devoram com os olhos. Na tentativa de desangustiarem-se, objetificam as crianças.
Na entrevista concedida à Marie-Hélène Brousse, Wajcman discute a esquize, proposta por Lacan no Seminário, livro XI, entre o olho e olhar. Afirma que, na atualidade, haveria uma tentativa de eliminar essa cisão estrutural e que talvez se trate, em nossa época, mais de uma sujeição do olhar ao domínio do olho que tenta tornar-se mestre, vigilante, mas que, porém, nada olha. Enfim, encontramos uma multiplicação das próteses do olho e uma deterioração do olhar.
Para Wajcman, a ascensão do objeto olhar ao zênite social, ou seja, à posição de comando, implica mais um olho sem sujeito, um olho considerado quase em seu estatuto Real, um Olho Absoluto. Trata-se da redução da dimensão do olhar (da castração), enquanto uma pulsão escópica, a uma questão da visão, que é uma preocupação tecnológica.
Wajcman pergunta-se o que faz a psicanálise em um mundo onde prevalece a exibição generalizada dos sujeitos, onde se está não somente invadido pelo olhar do mestre, mas também pela exibição generalizada dos sujeitos. Ele reivindica o direito de esconder e propõe uma nova circunscrição à opacidade, pois vivemos em uma época em que nada mais fica oculto ou em silêncio. Lembra-nos também de que há uma estruturação subjetiva que resiste e que parece irredutível: a divisão do sujeito entre imagem e aquilo que escapa a isso, entre o que pode ser enquadrado e o que não pode se enquadrar. A grande questão na atualidade é como esse sujeito se encontra nesse discurso, nessa ideologia que pretende o contrário, que pretende abolir a sua divisão como sujeito e que exige que tudo deva ser visto.
Assim, se essa proliferação da imagem serve à tentativa de eliminar a cisão estrutural do sujeito, fazendo crer que, por meio das imagens, seria possível um domínio do real, cabe à investigação clínica localizar como cada um poderá resistir e/ou fazer uso da oferta das imagens como uma solução.
II – As Imagens Na Psicanálise
O Estágio Do Espelho: Velar O Real
O animal tem um saber instintual inscrito no real do corpo. A partir do encontro com a imagem de outro animal – seja visual, olfativa, auditiva –, ele saberá o que fazer: se deve atacá-lo, defender-se, copular etc. Esse saber indica um funcionamento cuja estrutura – como a de um nó entre o imaginário e o real – lhe garante um comportamento adequado. É o caso da pomba, que tem a ovulação desencadeada quando vê um congênere ou sua própria imagem refletida em um espelho; entretanto, quando isolada, não ovula. Com os pavões também, as fêmeas escolhem para copular os machos que ostentam as maiores e mais fartas caudas!
E para o ser falante, qual a importância da imagem?
Lacan se interessa pela etologia justamente para pensar o poder real de uma imagem para o ser falante, ou seja, aquele que não possui instinto.
Sabemos que o simbólico preexiste ao sujeito – seu nome e a constelação de sua vinda ao mundo –, mas ele terá que construir seu nó: sua realidade e seu corpo. Sua experiência inicial é, portanto, de um caos pulsional, de uma fragmentação.
Com a formalização do estádio do espelho, Lacan (1949) verifica que a imagem tem um poder de realização, ou seja, em condições específicas, a imagem produz efeitos reais.
O estádio do espelho constitui-se como um processo de identificação, ou seja, a transformação no sujeito quando ele assume uma imagem e a reconhece. Trata-se de uma imagem exterior – refletida no espelho ou encontrada em um outro semelhante –, que vela e dá unidade ao corpo fragmentado. O narcisismo em Freud é justamente um ato psíquico que se constitui pela projeção de uma superfície corporal, trata-se da experiência fundamental da formação de um eu. Do que se trata esse ato psíquico, qual a condição específica para que a imagem realize esse poder de unificar o corpo? Como se dá esse laço entre a imagem e o real?
Lacan nomeia esse processo de espetáculo cativante. É um momento de constituição do eu e também um momento lógico da estruturação da subjetividade a partir do Outro. O ser falante, dada a prematuração do humano, depende do Outro como nenhum outro animal. Desse modo, a função da imagem compensa o inacabamento anatômico e a verdadeira prematuração específica do nascimento no homem. Porém, a unificação do corpo fragmentado pela imagem só se dá através da identificação à palavra veiculada pelo Outro materno, que indica e confirma uma imagem para a criança: Você é assim! O espelho é, portanto, o Outro!
Nesse sentido, não é indiferente a relação que o sujeito estabelece com o Outro, com a linguagem. O sentimento de vida, de ter um corpo, de ser alguém, o modo como experimentamos o mundo e o sexo… é a linguagem que permite articular. O real e o imaginário não vêm enodado para ele, o ser falante vai assim constituir seu nó com o Outro. Os registros do imaginário e do real vão se enlaçar pelo espelho, constituindo-se simultaneamente o eu, o corpo e o sujeito.
O estágio do espelho, assim, instaura uma discordância fundamental entre a imagem do eu antecipada como totalidade no espelho e a prematuração biológica da criança, ou ainda o caos pulsional. Isso coloca o eu numa dependência do outro, criando uma situação de desamparo e de discórdia com esse outro.
Como afirma Lacan:
o estádio do espelho revela um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência à antecipação – e que fabrica para o sujeito, apanhado no engodo da identificação espacial, as fantasias que se sucedem desde uma imagem despedaçada do corpo até uma forma de sua totalidade que chamaremos de ortopédica – e para a armadura enfim assumida de uma identidade alienante, que marcará com sua estrutura rígida todo o seu desenvolvimento mental. (Lacan, 1949/1998, p. 100)
A criança, portanto, inicialmente não experimenta seu corpo como uma unidade; ela só terá uma antecipação da unidade quando reconhece sua imagem no espelho, produzindo-se uma identificação imaginária que constitui o eu, e essa operação implica um primeiro enodamento do imaginário e real. O espelho é, assim, um primeiro aparelho do gozo; o corpo experimentado como caótico passa a ser recoberto por uma imagem unificada.
Enfim, ao assumir uma imagem, supera-se a discordância gerada pela imaturidade neurológica que se torna velada pelo imaginário. A imagem cumpre a função de tela para aquilo que não se pode ver. O sujeito faz uso da natureza narcísica da imagem para tratar o que experimenta de real, a experiência de despedaçamento.
Imagens Rainhas: Condensar O Gozo
Para Miller (1995), haveria imagens que dominam no imaginário, imagens que condensam o gozo organizando o caos pulsional. Ele nomeou essas imagens de “imagens rainhas”, indicando três: o próprio corpo, o corpo do Outro e o falo.
A imagem do corpo, constituída no estágio do espelho, é o que confere ao eu a sua primeira forma. Portanto, a primeira subjetivação é da forma do corpo.
O corpo do Outro, segunda imagem rainha, é aquele sobre o qual lemos a castração, castração óptica. Essa forma presta-se a uma formalização significante, pois é suporte de uma presença e de uma ausência.
O falo, terceira imagem rainha, não é o órgão masculino, mas sua forma erigida e transformada em significante. É do falo que derivam os objetos chamados fetiche.
O conceito de imagem rainha ou a realeza da imagem revela a função da imagem de captura significante do gozo, indicando a incidência do simbólico sobre o imaginário. São imagens que buscam fixar o gozo e que estão sob o Império do Olhar, ou seja, diz respeito ao poder da imagem de localizar o gozo.
Poderíamos nos perguntar então se a deslocalização do gozo, presente nas crianças psicóticas, poderia ser explicada pela ausência da imagem rainha concernente ao corpo próprio e ao falo.
Para Miller (1995), Lacan propõe uma nova teoria da imagem na medida em que o campo da percepção é interrogado por ele a partir do desejo e do gozo. Até o surgimento do objeto a, o campo da percepção foi abordado a partir do recalque. Haveria uma espécie de cegueira sobre o gozo. Com o surgimento do objeto olhar como objeto a, Lacan restabelece a pulsão no campo escópico. Não mais reduz o imaginário, o escópico, ao especular, o que significa não mais pensar a partir do espelho.
Assim, indica que se por um lado, a imagem tem a função de localizar o gozo, por outro, a natureza narcisista da imagem se mostra insuficiente para dar conta das experiências com o gozo.
Imagem E Objeto A: Quando As Experiências Com O Gozo Perturbam A Imagem
Lacan complexifica o estádio do espelho com o esquema ótico ao introduzir o Outro – o simbólico – pelo espelho plano, espaço que opera enlaçando o imaginário e o real, possibilitando essa identificação.
Simbólico
Eu I ISSO
Imaginário I Real
Não basta, portanto, que exista o objeto espelho para que haja o estádio do espelho; a imagem pode estar refletida, mas a criança não se identifica a ela, pois o espelho não está funcionando como a ordem simbólica. Verificamos isso, por exemplo, em alguns fenômenos, como quando a criança olha através do espelho não se reconhecendo na imagem. Muitos são os casos em que esse enodamento entre real e imaginário não se faz tal como na clínica do autismo.
Para que haja o entrelaçamento entre imaginário e real, é preciso duas condições ligadas ao simbólico:
– que o sujeito (o olho) esteja em determinada posição o espelho plano;
– que Outro esteja bem situado, a 90 graus.
Estar bem situado indica que o Ideal do Eu está operando como garantidor da ordem simbólica, e o sujeito estar posicionado em determinado lugar indica sua alienação ao Ideal do Eu. A criança não consegue fazer essa operação sozinha, é necessária uma ordem exterior ao sujeito, o olhar do Outro (Ideal do Eu) que confirme à criança que essa imagem que ela vê lhe corresponde, que esse é ele, o lugar desde o qual a criança se olha (juízo de existência freudiano).
Quando há inclinação do espelho ou quando o sujeito não se encontra em determinada posição, produzem-se muitas variações e distorções da imagem especular. Há muitas gradações no enlaçamento entre o imaginário e o real em que sintomas clínicos – como a depressão, anorexia, bulimia, angústia, agressividade e automutilação– revelam um desenlace ou um enlace frouxo dos registros.
O laço entre o Outro (simbólico), o imaginário e o real se faz através das zonas erógenas (boca, ânus, falo, olhar, voz), portanto, pelas experiências de gozo relacionadas ao corpo que Lacan nomeou de objeto (a) e não à imagem. Os objetos (a), quando estão compondo a unidade do corpo com a imagem, adquirem um valor fálico, significante; mas quando não pertencem à imagem eles provocam angústia ou horror, adquirindo valor de real.
Quando eles não estão incluídos na imagem que lhes dá um valor de beleza – ou de singularidade, interesse de raridade ou um valor qualquer – são puro real, e então funcionam mais em relação com o caos do organismo. Será importante investigarmos esses aparecimentos dos objetos (a) quando eles provocam um desenlace do nó e como o sujeito consegue reenlaçá-lo. A cisão entre o objeto e a imagem articula-se no Seminário, livro X: a angústia. Lacan apresenta o objeto a como aquilo que escapa ao campo especularizável. Quando algo da ordem do objeto irrompe no campo especular, surge a inquietante estranheza e a angústia antagônica à estrutura do eu.
Lacan considera a pulsão escópica como paradigma do objeto a e, a partir do Seminário, livro XI, resignifica o estágio do espelho ao falar da falta constitutiva no espelho, ou seja, a falta do próprio corpo. A imagem em si mesmo comporta um vazio que é invisível.
Em seu último ensino, Lacan retoma o valor do imaginário. Ele aparece como suporte da consistência do corpo. A imagem do corpo tem, portanto, a função de manter juntas as peças avulsas (ESPINEL, 2009).
A clínica do autismo também nos ensina muito sobre esse desenlace entre o imaginário e o real ao ponto extremo de a criança ficar parada para que nada se mexa (em seu extremo, o catatonismo) – para que o Outro não se mexa. Encontramos também as construções de corpo singulares que visam a tratar o gozo que retorna nas bordas no autismo, no corpo na esquizofrenia e no Outro na paranoia. A criança não encontra assim, no Outro, um olhar de onde pode olhar-se e reconhecer-se no espelho – I(A)o –, não produzindo o enlaçamento do nó de Borromeo; daí alguns sujeitos constituírem um duplo para construir e dar unidade ao seu corpo.
As crianças psicóticas estariam privadas da imagem. Na esquizofrenia e no autismo está em jogo a questão de como amarrar um corpo sem o recurso do espelho do Outro. Sem o recurso da imagem, o corpo torna-se peça solta e disjunta (BARROSO, 2014).
Que saídas os sujeitos encontram para fazer um corpo sem recorrer à imagem unificada? Que outros modos se utilizam das imagens para amarrar o corpo?
Na neurose, no enlaçamento entre o real e o imaginário, sempre algo cai desacomodado, havendo uma falha na construção do nó. As coisas funcionam mais ou menos bem… se constitui o eu ideal a partir do Ideal do Eu, e o sujeito pode ver-se amável no espelho e mesmo sentir uma satisfação nessa experiência – “júbilo” –, armando seu narcisismo: I(A) i(a).
Podemos pensar algumas situações clínicas nas quais esse olhar é demasiado exigente, demasiado idealizante, em que não há diferença entre o Ideal do eu e o Supereu: I(A) = SE a. Não é um olhar que aniquila o sujeito, mas um olhar que, quando o olha, o faz saber o que se espera dele; são sujeitos que estão sempre procurando alguma falha. Há uma transmissão desse olhar, um Ideal do Eu, mas essa exigência dá uma modalidade distinta de laço desse sujeito com sua imagem e com o Outro.
Há também o olhar que aniquila, injuria e desautoriza, e quando o sujeito se olha no espelho tende a se deprimir; há enodamento entre real e imaginário, mas não se dá pela via do eu ideal e seu extremo é a melancolia (SORIA, 2013).
Podemos investigar os diversos fenômenos clínicos da constituição dessa imagem corporal, tais como o transitivismo, a função do duplo, as novas relações virtuais entre outros e as perturbações no campo do imaginário. Poderemos também investigar as situações em que esse laço entre a imagem e o real se afrouxa ou rompe, se desfazendo essa unidade da imagem corporal e acarretando situações diversas, desde o sentimento de estranheza até quadros de catástrofes subjetivas. Como as imagens incidem hoje na adolescência? É um momento em que muitas vezes há perturbações na imagem. Vamos também interrogar as perturbações do imaginário na educação e como o significante é um suporte da imagem.