LUDMILLA FÉRES FARIA (RELATORA)
POR GIULIA PUNTEL
No início da década de 70, em seu Seminário Mais, ainda, Lacan anuncia o lugar de destaque que os instrumentos produzidos pela ciência ocuparão na vida dos homens. Chega a profetizar que a invenção de objetos como o microscópio e a radiotelevisão, que ele nomeia de gadgets, comandariam a existência dos homens, tornando estes cada vez mais “sujeitos dos instrumentos” (LACAN, 1973, p.110) e anuncia, ainda, a profunda modificação que eles trariam às formas de laço social.
Não passa despercebido ao psicanalista a relação entre a série de objetos e a fantasia de suprir o que “não se pode dizer, isto é, a relação sexual” (p. 110). Lacan dá peso ao fato de que a fantasia prometida pelos gadgets ― de harmonia entre o sujeito e o Outro ― escamoteia o fato de que esses objetos, na verdade, mantêm os sujeitos cada vez mais apegados ao gozo autoerótico.
Podemos considerar que a profecia de Lacan tomou um vulto que seria impossível medir. Os objetos da ciência invadiram a vida moderna. Nas últimas décadas, a chegada dos computadores seguida das mídias sociais possibilitou ao homem um acesso a lugares e coisas que ele jamais imaginaria. Não existem mais espaços inatingíveis. Paradoxalmente, é nesse universo inundado pelas telas, que nos conectam em tempo real com o outro, que constatamos que os homens não estão menos sozinhos. Ao contrário, os smartphones e os tablets ― extensão dos nossos corpos ― surgem como novos parceiros aos quais os homens se ligam cada vez mais, favorecendo a reiteração do gozo de “l’Un tout seul”.
Estamos diante de um problema de toda a sociedade humana: a dificuldade de saber quanto ao sexo. Pois, diferente da solução do instinto animal, o ser humano não possui um saber sobre o que o complementa. E, embaraçado com a pulsão, encontra esse buraco. Todavia, esse é um problema com o qual prioritariamente defrontam-se os adolescentes, justamente por ser esse o momento em que eles devem afastar-se de seu corpo de criança e das palavras de sua infância para decidirem pela escolha de seu objeto de desejo.
Nessa hora, recorrer aos objetos oferecidos pela técnica pode tanto favorecer um encontro possível com o Outro sexo ― conforme nos disse um jovem: “a rede social serve a um cara que é mais tímido” ―, como afastar os adolescentes para um turbilhão que os exilam cada vez mais do Outro. Miller, em seu texto Em direção a adolescência (2015), ao afirmar que os jovens modernos padecem mais da incidência do mundo virtual do que aqueles de gerações passadas, salienta que se trata do resultado do enfraquecimento do Nome-do-Pai, que foi intimidado pelos dispositivos de comunicação. Para ele, é importante destacar o desgaste sofrido pelas instâncias que tinham a incumbência de transmitir “o que convém ser e fazer para ser um homem e para ser uma mulher” (p. 6). Acrescenta que tais mudanças deixaram um saldo de desorientação profunda nos jovens de hoje.
Mas, advertidos de que o discurso da técnica não retrocederá e que as novas gerações estarão cada vez mais confrontadas com esses objetos, interessa-nos fazer uma leitura de qual uso os adolescentes fazem das mídias sociais no que se refere ao laço. Pode-se dizer que o acesso mais fácil ao gozo, nesses tempos que correm, faz mais fácil o acesso ao Outro sexo, tal qual nos chamou atenção o jovem citado anteriormente? E de que forma a psicanálise pode se inserir nesse debate?
O outro efeito da entrada na era digital é o fim do espaço íntimo. Segundo Wajcman (2010), estamos na era da permissividade, na qual tudo se publica e se expõe; isso sem nenhum índice de vergonha. Em entrevista, ele lembra as palavras de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook: “é preciso romper o laço entre o secreto e o íntimo, porque esse laço é uma herança obsoleta do passado” (2010). Destaca que os mestres da internet não têm escrúpulos ao profetizar o futuro como o da era do fim das barreiras entre o privado e o público. Sua posição coaduna com a de Miller (2015) que afirma que “os constrangimentos naturais foram rompidos pelo discurso da ciência”.
Freud sublinha a importância das barreiras impostas pela educação na escolha do objeto, cita o pudor, o asco e a vergonha como diques de resistências que “conduzem as correntes sexuais pelos caminhos chamados normais e lhes impedem de reviver impulsos recalcados” (FREUD, 1987, p.42). E aponta que os impulsos mais atingidos por elas são os da fixação às pessoas da primitiva escolha de objeto. Ou seja, o laço com o Outro não se dá, segundo Freud, às expensas do recalque do primeiro objeto de desejo.
O que nos leva a realçar a queda das barreiras como uma das causas da invasão da pornografia na relação entre os sexos. Miller (2014) isolou a pornografia como o sintoma advindo da proliferação das imagens. Atesta que “passamos da interdição à incitação, ao forçamento”, o que não é sem consequência nos costumes das novas gerações.
Como os adolescentes situam-se nessa época da transparência, da exibição dos corpos e dos coitos? O que visam ao postarem cenas íntimas nas mídias, fato cada vez mais corriqueiro entre eles? E quais os efeitos dessas divulgações? Essas foram as questões que nos guiaram para abordar o problema apresentado pela equipe diretiva de uma escola de classe média de Belo Horizonte. Segundo relatos, os alunos do 2º ano E.M., de 16 a 17 anos, postaram fotos íntimas de colegas, gerando um constrangimento na turma e um impasse para a escola. Foi a partir desse ponto que demos início à “Conversação”[2], com a perspectiva de que eles pudessem nos dizer o que estava ali em jogo.
Da marca do olhar invasivo do Outro à transgressão
Após a apresentação do tema da “Conversação” para a turma ― o uso inadequado das redes digitais dentro da sala de aula e entre os colegas ―, os alunos negaram enfaticamente qualquer problema desse tipo: não fazem uso da internet, guardam o celular no início das aulas, nenhum deles tem esse comportamento…
Para eles, “a questão do celular é coisa da escola na era da tecnologia, não é para falar disso”. O problema da sala é a divisão entre “frente e fundo”. Sustentam que os professores traçam uma linha, com o olhar, que divide a sala em duas: os bagunceiros ficam atrás e os estudiosos, na frente. E completam: “o professor tem uma visão meio marcada de trás”. Em seguida, deslocam-se do professor para a presença de uma câmera filmadora. Essa, diferente do professor que chega até a inibir por estar próximo, não serve para nada. Acentuam: “aquela câmera ali não grava nada, serve só para causar!”. Demonstram, assim, o desprezo ao dispositivo que diuturnamente acompanha seus passos ao afirmarem de forma irônica: “Ah! não vou colar por que a câmera tá me vendo?”.
Agora, voltam-se para a divisão entre “meninas e meninos”. Surgem as questões sobre a diferença sexual, e não é sem consequência o fato de uma menina ficar no grupo de meninos. Nesse caso, ou a menina é “uma piranha” ou passa a ser vista “como menino”. Conta-nos uma delas: “eu me chamo Vitória Maria, mas me chamavam de Vítor Mário, porque eu só andava com meninos”. Com eles não é diferente, os que andam no meio de meninas também são “zoados”: “é galinha ou gay”. De “piranha a ‘maria-homem’” ou “de galinha a gay”, os grupos se classificam a partir dos comportamentos.
Mais à frente, a diferença é introduzida no cerne dos grupos. Há os homens que “fazem coisas” e não expõem as meninas, e aqueles que fazem, mas falam e expõem nas mídias sociais: “tipo o cara que pega mulher e vai contar pros amiguinhos no whats” e também “a mulher que fala”. Segundo eles, são os que “esparram”[1], que contam tudo. Passam assim de uma classificação a outra, na tentativa de encontrar uma resposta para o que é ser um homem e ser uma mulher.
Frente ao impasse dessa divisão, eles retornam à discussão sobre a função do Outro social. À vista disso, a escola surge novamente como o problema; primeiro proíbe demais: “não pode nem abraçar” ou “um menino tomou suspensão por causa de um selinho”. Ou, então, não sabe colocar limites: “o ideal seria deixar as pessoas namorarem, só que dentro de sala não”. Por fim, acrescentam que ela é mais rígida que os pais: “tem muito pai que deixa, mas a escola nunca deixa nada”. Para eles, o único motivo que leva a escola a proibir namoros, beijos, abraços e uso do celular é o dinheiro dos pais: “a escola proíbe por causa dos pais, pois eles pagam a mensalidade”.
Os jovens denunciam que a escola funciona como câmera filmadora, uma instância superegoica, que dita a lei de forma caprichosa. E que, assim, ela se excede nas proibições à medida que não flexibiliza, tornando-se mais rígida que os próprios pais: “o pai às vezes sabe e não fala nada; a escola não!”. Conforme Freud, o supereu é essa instância moral que não visa a uma obediência, mas a uma docilidade ao mandado.
Todavia, os jovens nos demonstram como colocam suas objeções a esse Outro que se apresenta invasivo: “eu acho melhor ficar assim, porque tudo que é proibido é mais gostoso”. Ou seja, a infração pode introduzir um “não” nesse imperativo, apontando o paradoxo da lei: ela é sua própria destituição. Nesse instante, foi importante uma intervenção para reafirmar que também é função da escola regular coisas que levam a excessos, isso que não é muito fácil de controlar, tal como o uso do celular e a relação entre os adolescentes, lembrando-lhes que esses excessos geram situações difíceis, como eles mesmos trouxeram: “os meninos que expõem as meninas mais do que elas gostariam” ou “a menina que fica com mais meninos do que eles acham que ela deveria”.
O que se segue demonstra o efeito da interpretação: os jovens deixam de lado a estratégia de afirmar que o problema é o Outro social que regula demais e passam a contar sobre o universo da pornografia, sem nenhuma regulação das mídias. Universo esse que permite ver o outro sem ser visto, exibir-se e convocar o outro a se exibirtudo feito de forma a evidenciar o não saber como lidar com isso que os excede. O que testemunha que, na pornografia, trata-se de uma convocação ao mais de gozo, resultante do enfraquecimento do Nome-do-Pai.
Veremos, em seguida, como a pornografia tomou conta da cena ― doravante ocupada pelas classificações e pela infração ― para responder aos impasses da sexualidade. A pornografia torna-se, então, o tratamento dado pelos jovens à “relação sexual que não há”. Miller é enfático ao afirmar que apenas a ausência da relação sexual pode dar conta de explicar a difusão planetária, a empolgação da pornografia. O que demonstra que, tal qual a classificação, ela um sintoma do império da técnica, que traz, como consequência, “o desencantamento, a brutalização e a banalização” (MILLER, 2015 ).
Do apagamento do Outro à difusão da pornografia
Dentre as mídias sociais, os jovens destacam o que chamam de “lado obscuro”: o “snapchat”[2], mais usado para mandar “nudes”[3]. O diferencial do programa é que a foto some da tela, sem deixar rastros, em poucos segundos. É usado, em especial, pelas meninas para mandar nudes para os namorados. Mas, o problema é que elas mandam para os namorados e eles podem “printar”[4] a foto e enviá-la para qualquer um. Eles dão o exemplo da garota que “mandou foto para o namorado dela e, depois que terminaram o namoro, ele postou um álbum no facebook”.
O impasse trazido pela exibição nas mídias configura-se da seguinte forma: as meninas se queixam que os meninos as expõem demais, e os meninos dizem que as meninas se exibem demais. Conforme diz o garoto: “as meninas ficam falando que homem é galinha, mas direto vaza foto de menina pelada”. E a resposta é: “o menino gosta também que a menina se exiba! E, depois, dizem que está exibindo demais”. Como regular esse impasse, que é traduzido por elas como um problema de confiança? “Ela não se expôs, ela mandou para quem confiava”. Por que os meninos “esparram” as fotos? Um deles afirma ser uma questão de imaturidade.
Tal movimento indica-nos uma tentativa de constituir a parceria amorosa. A menina tenta seduzir o menino enviando a foto, uma demanda de amor, como elas mesmas apontam. Os meninos, por seu lado, recuam frente a essa demanda e respondem com a divulgação. Pode-se depreender desse jogo uma estratégia dos meninos de fazer existir a relação sexual via degradação do objeto?
Essa é a hipótese freudiana desenvolvida no texto Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor, no qual é realçada a tendência universal à depreciação em consequência da necessária divisão entre corrente sensual e de ternura.
A ideia de Freud é que a criança, desde seus primeiros anos, leva consigo as marcas da presença arcaica de uma corrente afetiva ― dirigida àqueles que cuidaram dela ― em detrimento da corrente sensual. Assim, a escolha erótica do sujeito surge sob a égide do caráter primário da corrente afetiva. Durante o período de latência continua a primazia da corrente de ternura, e a sensual fica em suspensão. Na puberdade, momento em que o sujeito é confrontado com uma escolha de objeto distinta dos objetos parentais, surge a impossibilidade de manter essa aliança. A poderosa corrente sensual desperta e não se equivoca mais com seus objetivos. O sujeito deverá fazer a escolha do novo objeto a partir da junção das duas correntes. Todavia, esse objeto reencontrado, por portar traços do primeiro objeto de amor ― a mãe ―, despertará o horror ao incesto. Surge daí a necessidade de degradar o objeto, evitando a lembrança de qualquer traço do primeiro.
Trata-se de uma extraordinária artimanha, uma condição de amor: que a mulher escolhida seja depreciada. Ao fazer da depreciação uma condição universal para a escolha do objeto, Freud dá valor ao fato de que para os humanos não existe proposição sexual, pois, se existisse, um homem poderia eleger uma mulher, amá-la, desejá-la e gozar dela como mulher. A depreciação do objeto possibilita o acesso à mulher, mas não a todas, apenas às que passaram pelo processo. Nesses casos, algo da relação sexual que não existe pode se inscrever.
Contudo, as meninas dão testemunho do fracasso dessa estratégia masculina, quando estão em jogo as mídias, ao afirmarem que, mais do que degradá-las para em seguida possuí-las, os meninos pedem as fotos e depois as descartam: “tem homem que pede foto pelada para menina, porque se a menina mandar ele a larga”. Os meninos confirmam: “é tipo um teste: no primeiro mês de namoro você pede, se a menina já mandar é porque ela já fez isso outras vezes, aí você sabe que ela não é para você”. O que nos leva à hipótese de que, com as mídias sociais, a condição de depreciação não serve como estratégia para conter o gozo e direcioná-lo para o objeto de desejo. Diversamente, nesses tempos que o Outro não existe, a tendência ao rebaixamento provoca um empuxo ao “mais gozar”, via masturbação. Não é a mulher como causa de desejo que está em jogo, mas a mulher como objeto dejeto, que serve ao gozo do órgão, o que radicaliza a condição do impossível da relação sexual que não cessa de não se inscrever.
Os jovens passam a descrever a forma como esse desencontro radical apresenta-se para eles: “é traumático”, diz um garoto. Justamente por que, sem um saber prévio sobre o que fazer frente ao Outro sexo, os meninos acabam refém do gozo desse Outro, como o garoto acrescenta: “se você quer seduzir a pessoa e se você não souber do que eu gosto vai se tornar mais um trauma que sedução. Por isso que a sedução tem que ter um conhecimento”.
Frente a esse mal-entendido do encontro com o Outro sexo, os adolescentes necessitam inventar uma resposta singular, e é agora que Outro social pode transmitir-lhes uma invenção para encobrir esse vazio. Entretanto, essas respostas hoje são buscadas nas redes que trazem novamente para a cena a pornografia, afastando-os da possível construção de uma intimidade. Tudo, então, é pornográfico: “a mulher no baile funk, a que coloca a bunda de fora ou mesmo os funks”, pois se eles falam de carro para chamar mulher, “que tipo de mulher vai atrás de cara por dinheiro?”.
Um tumulto se instala na sala, os adolescentes passam a descrever comportamentos pornográficos, tornando necessário um corte que possibilite retomar a conversa sobre a intimidade, na qual se dá o laço com o Outro. Afinal, fica cada vez mais claro que abandoná-los à pornografia é mantê-los entregue ao gozo autoerótico, enviando-os de volta a seus gadgets ― parceiros dessa solidão globalizada. A intervenção feita nesse momento foi no sentido de dizer que nem tudo é pornografia, o que tornaria todos os atos desses jovens reprováveis; mas também que essa conversa instaurou uma bagunça, um rosário de acusações morais entre eles, ou seja, um gozo generalizado que não possibilita nenhum saldo de saber. Tal intervenção coaduna com o que Lacan adverte: “Não iremos falar do gozo assim. Já disse sobre ele o suficiente para que saibam que o gozo é tonel das Danaides, e que uma vez que ali se entra não se sabe onde isso vai dar. Começa com as cócegas e termina com labaredas de gasolina. Tudo isso é, sempre, o gozo” (LACAN, 1992, p. 68).
Torna-se necessário, portanto, regular isso que excede pela via da pornografia, o que foi feito dando ênfase às perguntas: o que é a intimidade? Como diferenciá-la da pornografia? Surgem as respostas: “a própria palavra diz, são só vocês dois, não tem que conversar em mídia social”, ou “intimidade tinha que ser entre quatro paredes, coisa de um casal”. Assim, abre-se um terceiro e último estágio, a partir da fala de um jovem que afirma: “falar da intimidade é tocar na ferida”, seguido por outros: “é coisa de mulher”, e, por fim, “é a dança do acasalamento”.
Intimidade: da pornografia à dança do acasalamento
Segundo Miller, a intimidade é o que é próprio ao registro da psicanálise, já que ela se nutre da vida privada. Assim como o ato analítico assemelha-se ao verbo intimar, que significa dar a conhecer. Entretanto, esse dar a conhecer em nada se iguala à exposição das mídias; contrariamente, trata-se do privado que “é designado pelo pudor” (LACAN, 2003, p. 558).
Assim, em oposição ao mestre moderno, que fixa os sujeitos no regime do gozo, sob os auspícios da liberação sexual e que reforça o sistema do mestre com o mando: “um esforço a mais para gozar!”, Lacan destaca a função do envergonhar-se, que consiste em dissociar os sujeitos dos significantes mestres e ainda levá-los a perceber o gozo que daí extraem.
Introduzir a barra no blá-blá-blá dos jovens sobre a pornografia proporcionou-lhes a oportunidade de abordar a sedução sob a roupagem do amor. Seduzir passa a ser “a dança do acasalamento” ou “a mulher para provocar o desejo do homem não precisa ‘jogar aberto’, exibir-se”, ou, ainda, “no jogo de sedução, a mulher tem que ser impossível para o menino se interessar”. E um garoto afirma: “acho que é a declaração de amor que elas querem”. Ou seja, os jovens atestam que a mulher, para manter sua alteridade fundamental, não deve se expor.
Nesse sentido, no trabalho com os jovens fascinados pela mostração, podemos tomar a direção apontada por Laurent “lá onde o mestre mostra, e mostra sem pudor, a obscenidade, o psicanalista, ao contrário, recoloca o véu e evoca esse demônio sob a forma da vergonha” (2002, p. 7).
Tais constatações nos levam a tomar a vergonha em sua função civilizatória, que ajuda a circunscrever o gozo, a fixá-lo. Ao analista, nesse momento, cabe a função de introduzir o véu sob o gozo escancarado de nossos dias, como demonstrado por alguns dos adolescentes, de tal forma que possa abrir caminho para que cada um se responsabilize por suas escolhas. Nesse sentido, o analista deve estar advertido de que seu lugar também depende da possibilidade, ou não, de um novo laço de amor se instalar.
1 Relatório apresentado durante o VII ENAPOL- Encontro Americano da Orientação Lacaniana. São Paulo. 2015 e posteriormente na Conversação do Instituto de Psicanálise de Minas Gerais (2016)
2 Participantes do Relatório: Bernardo Micheriff Carneiro (MG), Elizabeth Medeiros (MG); Inês Seabra (EBP/AMP/MG); Ludmilla Féres Faria (relatora. EBP/AMP/MG); Maria José G. Salum (EBP/AMP/MG; Mariana Aranha (MG); Michelle Sena (MG); Miguel Antunes (MG).
3 “Esparrar”: esparramar, colocar na rede social.
4 Snatchat: mensageiro semelhante ao WhatsApp.
5 Nudes: fotos e vídeos nus
6 Printar: salvar a imagem